O fazer teatral em cena tem importância histórica para humanidade

Edson Fernandes fala ao ‘Essência’ sobre o cenário do teatro hoje em dia

Postado em: 19-09-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Edson Fernandes fala ao ‘Essência’ sobre o cenário do teatro hoje em dia

Gabriella Starneck*

O teatro, embora muitas vezes não receba o seu devido valor, tem uma importância secular na história da humanidade. Prova disto é que esta manifestação artística, como hoje é conhecida, perdura desde a Grécia Antiga, e, apesar das dificuldades, permanece viva no cotidiano não só dos brasileiros, mas na cultura de vários outros povos. Com o intuito de enaltecer o teatro e dar destaque à importância dessa arte no meio social, foi instituída a celebração do Dia Nacional do Teatro, em 19 de setembro. 

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“Eu acredito que essa manifestação cultural transforma a vida das pessoas, porque traz cultura, conhecimento e ainda amplia nosso olhar sobre o mundo. Quando fazemos e vivenciamos o teatro, passamos a ver outras janelas que se abrem e mostram que o mundo pode ser visto de várias formas. O teatro não vai morrer; vai se aperfeiçoar. Precisamos buscar ajustes nessa área para que o público tenha interesse em assistir a um espetáculo. Essa é a nossa responsabilidade”, afirma Edson Fernandes, coordenador do núcleo teatro Gustav Ritter. 

Teatro 

Definir esse tipo de manifestação artística não é uma tarefa fácil. Há quem diga que o teatro é apenas uma forma de arte em que um ator, ou conjunto de atores, interpreta uma história ou atividades para o público em um determinado lugar. Mas o fazer teatral vai bem além disso: ele gera uma comunicação entre ator e espectador, traz uma mensagem, muitas vezes, de alerta para sociedade, e ainda desperta no espectador, de uma forma mais leve, reflexões sobre assuntos relevantes do cotidiano.

O termo ‘teatro’, inclusive, deriva do grego theaomai, que significa “olhar com atenção”, “perceber”, “contemplar”. Contudo a interpretação dessa palavra não se restringe ao ‘ver’, no senso comum, mas sim a ter uma experiência intensa, envolvente, reflexiva. O fazer teatral não é apenas uma encenação com figurino, cenário, dentre outras ferramentas; ele é um canal de comunicação que, se usado de maneira consciente, pode contribuir muito para o desenvolvimento da sociedade. 

Acessibilidade 

Pensando na importância do teatro para o desenvolvimento das pessoas, foi instituída a Lei 13.442/2017, que torna 19 de setembro também como o Dia Nacional do Teatro Acessível: Arte, Prazer e Direitos. O objetivo é ajudar a divulgar a cultura por meio de atividades cênicas que ofereçam práticas de acessibilidade física e comunicativa a pessoas com deficiência. “Eu acho que poder assistir a um espetáculo teatral tem que ser um direito de todos; não é algo restrito. As diversas formas de manifestação artística precisam chegar aos portadores de necessidades especiais, porque essas peças trazem temáticas do nosso dia a dia, discussões importantes que têm um contexto histórico”, afirma Diego Maurício Barbosa, doutorando em Estudos da Tradução. 

Diego ainda ressalta que, muitas vezes, as pessoas com deficiência não têm acesso ao teatro, embora mereçam desfrutar desse entretenimento: “Elas ainda têm de pensar se a peça terá acessibilidade”. O professor afirma que, embora existam iniciativas para levar essa manifestação artística aos portadores de necessidades especiais, essas ações ainda são bem discretas, e esses espaços ainda precisam ser conquistados. “Ainda existe a necessidade de pensar como receber essas pessoas no teatro para que esse ambiente também seja inclusivo”, afirma Diego. 

Formação

Segundo Adriana Brito, professora de Artes Cênicas no Itego Basileu França, o teatro é um conjunto de manifestações humanas que não pertence apenas a uma raça, época ou cultura; é uma forma de linguagem. “O teatro representa a vida, o cotidiano, os gostos e desprazeres, seja por meio da comédia ou no drama, por exemplo”. A professora ainda destaca que o fazer teatral não é só para quem quer ser ator ou atriz, porque ele serve para o aprendizado como um todo, inclusive para crianças, porque o teatro desenvolve a comunicação – coisa que, hoje em dia, é muito exigida no mercado de trabalho.

No Brasil, existem várias instituições que oferecem espaços formativos voltados para o teatro. Em Goiânia, por exemplo, o Itego Basileu França oferece curso de teatro gratuito, assim como o Instituto de Educação em Artes Professor Gustav Ritter, unidade da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) – ambos com o intuito de promover a democratização do acesso à cultura, dando oportunidade para alunos desenvolverem habilidades artísticas e envolvendo a comunidade. E, para falar mais sobre o fazer teatral hoje em dia, o coordenador do Núcleo Teatro Gustav Ritter participou de um bate-papo com Essência. Confira abaixo.  

Entrevista: Edson Fernandes – coordenador do núcleo DE teatro Gustav Ritter 

De que forma o teatro pode contribuir para o desenvolvimento das pessoas, inclusive para a educação das crianças? 

O teatro é poderoso, porque instiga o ser humano a trabalhar todas as potencialidades – ajuda no aprendizado, na leitura, no processo de melhorar nossa cultura, nosso viés sobre o mundo. O teatro é uma possibilidade que nunca vai morrer, porque o teatro acontece todos os dias e faz parte da nossa dia a dia. E, no campo educacional, é uma área poderosa, porque ele ajuda a criança no desenvolvimento, tanto afetivo e emocional quanto no cognitivo, pois ajuda a trabalhar a timidez, as dificuldades de relacionamentos, então o teatro também tem como ferramenta essas possibilidades de alcance educacional – além do aspecto cultural, que é fundamental. 

Muitos espetáculos abordam temáticas do cotidiano. Como essa manifestação artística pode contribuir para levantar reflexões, só que de forma mais leve?

Eu acredito que o teatro de qualquer gênero – infantil, adolescente ou adulto – sempre vai trazer uma reflexão no espectador sobre o mundo. Ao ir ao teatro, você vê as temáticas com um outro olhar, pelo viés da arte; acho que isso traz uma identificação maior, possibilita a gente refletir melhor sobre o assunto, então acredito que a reflexão que o teatro traz é muito positiva e direta, pois vai direto ao assunto, e a reflexão ocorre de forma simultânea. 

Apesar de hoje em dia as pessoas terem acesso a quase tudo pelo celular, inclusive a espetáculos, grande parte da população não deixa de frequentar os teatros.  O que atrai as pessoas?

Eu tenho certeza de que o teatro nunca vai morrer. Desde a Grécia Antiga que o teatro começou, e até hoje nós temos público. É claro que muitas vezes passamos por momentos difíceis. Há época em que temos um ‘boom’ maior, em outros momentos estamos em crise, mas é porque o teatro acompanha a humanidade, então estamos suscetíveis aos devaneios que a sociedade passa, às tribulações, emoções e aos avanços tecnológicos.  Mas ir ao teatro é uma mágica que se renova a cada encontro, por isso acredito que nada substitui o teatro, e ele sempre terá espectadores para apreciar essa arte tão poderosa, que é esse encontro entre o ator e espectador. 

Você tocou em um aspecto importante, que é a relação do ator com o espectador. Qual a diferença entre assistir a uma peça por trás da ‘telinha’ e ver presencialmente?

Eu acho que a diferença maior é que, no teatro, a emoção é ao vivo, você pode interagir diretamente com o ator, porque cada palavra direta, ali, ela reverbera de uma forma dinâmica e direta com o espectador. A televisão é uma coisa mais fria, mecânica, a gente sabe que houve uma edição, que o que chegou ali passou, digamos, por uma ‘manipulação’. Já o teatro ele tem que acontecer ali, não tem como, não existe o erro no teatro; o que aconteceu, no momento, tinha que acontecer. Eu acho que essa mágica, essa emoção, essa transferência e possibilidades é que faz com que o teatro perdure. 

Anteriormente, você falou que o teatro acompanha a humanidade. Você acredita que, com os avanços tecnológicos, o teatro precisou se reinventar? 

Com certeza, como tudo na vida a gente tem que acompanhar o nosso tempo histórico e as mudanças que acontecem. Com certeza, nesse mundo mais tecnológico e virtual, nós que fazemos teatro precisamos fazer algumas adaptações, mas nada ferisse o prazer e a emoção do espectador de apreciar essa arte tão bela. É claro que a gente traz recursos, tenta dinamizar o conteúdo, buscar estratégias midiáticas para que possamos aproveitar essas ferramentas, e também a tecnologia, em prol do nosso trabalho. 

Em sua opinião, os profissionais que trabalham com o fazer teatral tiveram dificuldades nesse período de transição que a tecnologia trouxe? 

Eu digo que ainda estamos em transição e buscando nos adaptar, e com dificuldades, porque é um processo que aconteceu muito rápido, e que nós estamos digerindo isso devagar, tentando fazer um ajuste, mantendo a essência do teatro, mas incorporando as tecnologias. 

Para finalizar, como você avalia o cenário do teatro hoje em dia?

Eu acredito que o teatro esteja passando por um processo de grande renovação estética, tecnológica e humana, em que nós, que somos fazedores de teatro, precisamos buscar novos caminhos e possibilidades de aprender as novas demandas que o público exige. Ao mesmo tempo, precisamos nos aperfeiçoar no sentido de buscar recursos que cative mais esse espectador que, cada vez mais, está sendo disputado pela televisão, pelo Netflix, pelos jogos eletrônicos. Então é uma luta, mas estamos empenhados em vence – lá.  

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