Peça teatral confronta realidade da gravidez na adolescência em Goiás

‘Eu Nasci Mulher’ promove conscientização sobre os desafios e impactos da maternidade precoce, utilizando a arte como ferramenta educativa e reflexiva

Postado em: 23-03-2024 às 10h00
Por: Luana Avelar
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A falta de informação é apontada como um dos principais fatores para os alarmantes números de gravidez na adolescência, destacando a importância de iniciativas educativas como esta peça teatral | Foto: Divulgação

No próximo dia 29 de março, a partir das 8h, o Instituto Federal de Goiás (IFG) de Aparecida de Goiânia receberá a peça teatral “Eu Nasci Mulher”, uma obra que mergulha de forma sensível e educativa na temática da gravidez na adolescência. A peça, encenada pela atriz Cristyane Cabral e produzida por Natália Melo, conta com texto e direção de Norval Berbari.

O projeto, que recebe apoio do Fundo Cultural de Goiás através do edital de 2023 do Governo de Goiás, surge da necessidade de abordar um tema relevante e amplamente presente na sociedade contemporânea, especialmente entre os jovens. Após extensas pesquisas sobre o assunto, Berbari moldou a narrativa em torno da vida cotidiana de uma adolescente, explorando desde suas interações familiares até suas experiências na escola e com amigos.

“Inicialmente ela contesta o fato de estar grávida aos quinze anos, já que ouviu informações de que ninguém engravida aos 15 anos ou de seu namoradinho de que não é da primeira que vez que se engravida. Ao descobrir a gravidez e desesperada, procura amiga, o pai do bebê e até culpa a mãe por não ter conversado sobre com ela. Narra no tempo presente que, uma gravidez muda tudo na vida de uma adolescente que ainda podia brincar de bonecos de plástico e agora tem um bebê de carne e osso no colo, além de relatar os riscos para na gestação, os riscos para a mãe, para o bebê, além de evasão escolar e as mudanças causadas em função da gravidez”, conta o diretor. 

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A trama da peça segue a jornada da protagonista desde a descoberta de sua gravidez até as consequências desse evento inesperado. Berbari enfatiza que o principal objetivo da produção é conscientizar tanto os adolescentes quanto suas famílias sobre os graves riscos e impactos associados à gravidez precoce. Ele destaca a importância de fornecer informações precisas e apoio adequado para prevenir situações como essa e promover uma discussão mais aberta e informada sobre o tema na sociedade.

Segundo o diretor, a aceitação ao trabalho tem sido massiva, especialmente entre os adolescentes que se identificam com a personagem. Ele afirma: “Para muitas, foi a primeira vez que ouviram falar sobre o tema e que irão se informar mais e não deixar acontecer”. Além disso, gestões escolares têm abraçado a proposta, realizando mais de 200 encenações para alunos de escolas públicas e pautando a temática como importante para aulas no ambiente escolar.

Quando questionado sobre o papel da arte, especificamente do teatro, em sensibilizar os jovens sobre temas delicados como a gravidez na adolescência, o diretor aponta para a dupla função desempenhada pela peça. Ele destaca: “Cumprimos dois importantes papéis: levar a arte a lugares onde não é comum e levar informações de forma lúdica e dramatizada por uma atriz profissional”. O diretor enfatiza que essa abordagem causa um impacto altamente positivo na vida das pessoas que têm a oportunidade de assistir à peça. “Para garantir que o debate iniciado pela peça ‘Eu Nasci Mulher’ seja continuado e ampliado dentro das escolas e comunidades, é necessário um compromisso conjunto”, afirma.

Além disso, ao término de cada encenação, é aberto um espaço para que professores e alunos expressem suas reflexões e dúvidas sobre como o espetáculo impactou os espectadores. Berbari destaca: “Não há como garantir, mas é uma provocação que a equipe faz às gestões escolares que, se comprometem a realizá-lo em sala, em seguida.” 

Diante dos alarmantes números de gravidez na adolescência, um espetáculo cênico se apresenta como uma ferramenta necessária para abordar essa realidade. No Brasil, a taxa de nascimentos de crianças filhas de mães entre 15 e 19 anos é 50% maior do que a média mundial, revelando uma questão de saúde pública preocupante.

Segundo dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde, cerca de 30 mil adolescentes se tornaram mães em Goiás no período entre 2020 e 2022. Esse cenário evidencia a urgência de ações educativas e informativas para lidar com esse desafio.

A falta de informação é apontada como um dos principais fatores que contribuem para esses números preocupantes. Portanto, iniciativas como o espetáculo em questão não apenas chamam a atenção para o problema, mas também buscam educar e conscientizar jovens sobre a importância do planejamento familiar e da prevenção da gravidez precoce.

O diretor ressalta a importância de incentivar os jovens a se informarem e questionarem sobre o tema, citando uma passagem da peça: “‘Portanto, adolescentes desta escola, se informem com sua mãe, sua vó, sua tia, uma vizinha ou até mesmo aqui na sua escola. Questionem, não deixem que um momento de euforia possa transformar a vida de uma forma que o planejamento seja alterado…'”

Sinopse

‘Eu nasci mulher’ conta a história de uma adolescente que descobriu a gravidez aos 15 anos, depois da primeira noite com o namorado. Ela fala sobre o abandono do pai do bebê, o medo de contar para os pais e as dificuldades e o tamanho da responsabilidade de cuidar de uma criança. Uma menina que ainda brinca de bonecas que se vê com um bebê de carne, osso e várias demandas no colo.

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