Da Feira Hippie para a passarela do SPFW

Estilista goiano Theo Alexandre apresenta coleção ‘Elementos’, inspirada no cerrado goiano e traz visibilidade para sua devastação

Postado em: 16-04-2024 às 10h00
Por: Letícia Renata
Imagem Ilustrando a Notícia: Da Feira Hippie para a passarela do SPFW
Além da coleção, a marca levantou a bandeira da preservação do Cerrado, sendo palco do lançamento da iniciativa #SouCerrado, apresentada em primeira mão no desfile, com uma camiseta exclusiva | Foto: Lhairton Costa

Trazendo a conexão com o bioma do Cerrado goiano pelo viés simbólico e celebrando a riqueza da fauna e flora ancestral dessa região, a Thear, idealizada pelo estilista goiano Theo Alexandre, apresentou sua coleção ‘Elementos’, na passarela do São Paulo Fashion Week 57, na última sexta-feira (12). Em sua quinta participação, a marca de moda autoral foi a única do Centro-Oeste nesta edição a desfilar no SPFW, maior evento de moda do Brasil e o mais importante da América Latina. 

O projeto Elementos é realizado com recursos do Programa Goyazes do Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Cultura. Utilizando-se de processos produtivos mais sustentáveis, responsáveis e com propósito, a marca desenvolveu 33 looks que ecoam a ancestralidade e a essência do Cerrado. 

O diretor criativo afirmou ao Essência, que a coleção teve o objetivo de despertar a atenção sobre a preservação do bioma brasileiro. “A gente trabalhou com a cor vermelha, que não é muito do nosso radar, mas para esse alerta precisava dela vir como evidência. Todo o assunto, quando a gente traz a tona, traz a luz, a gente entende que ele pode e deve alcançar outras pessoas. Essa coleção tem esse lugar de trazer esse alerta e visibilidade. E, enquanto produto, trazer esse olhar não literal do Cerrado, uma relação de estética com aquele que a gente acredita e com a sensualidade e com o futuro também”.

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Os tecidos naturais trazem o aspecto rústico dos elementos, adicionando profundidade e autenticidade ao design. Os elementos Terra e Fogo, estão presentes no cerrado, e são traduzidos em tecidos que mesclam texturas terrosas e tons ardentes, evocando a energia primordial que pulsa sob a superfície desta terra ancestral. Assim como o cerrado, a coleção ‘Elementos’ é um reflexo do ancestral ciclo de transformação. Cada peça é uma celebração da vida, uma homenagem à beleza efêmera e à constante renovação que permeia o mundo.

“O coração dessa coleção encontra-se a reverência à Fauna e Flora únicas do cerrado. O majestoso lobo-guará, símbolo de resistência e liberdade, inspira formas fluidas e cores vibrantes, refletindo a elegância selvagem. Ao mesmo tempo a delicada flor de pequi, com sua beleza exótica e aroma inconfundível, é a personificação da delicadeza e força que coexistem harmoniosamente nesse ecossistema”, comenta Theo Alexandre.

Feita a muitas mãos, a estampa traz o bioma brasileiro por meio do olhar do artista visual Kboco, trazendo um viés futurista para as padronagens e, ao mesmo tempo, reiterando a importância da origem da marca. A coleção ainda traz silhuetas confortáveis, que são primordiais para o designer, e uma silhueta feminina mais próximo ao corpo, com corsets de luxos feitos em parceria com Jerônima Baco 

“Construir uma nova relação com a natureza é um imperativo da sobrevivência. Os caminhos científicos são numerosos, assim como os desafios éticos, que apontam para a otimização de recursos e redução do consumo. A verossimilhança está presente na relação da Thear com a moda responsável e, nesse sentido, o design de superfície é traduzido no upcycling, trazendo a reutilização de sobras de tule nos bordados florais. Já os corsets vem para reafirmar a resistência do cerrado, materializado no empoderamento feminino, marcado pela beleza da coragem, da força e da resiliência das mulheres. Enquanto, a flor de Candombá traz o devagar do tempo, a paciência, a espera para florescer, assim como a moda slow que valoriza o tempo, promovendo produções conscientes e duráveis, criando conexões profundas entre as roupas e quem as veste. É o abraço ao ritmo natural das coisas”, destaca o estilista.

Os calçados do desfile se conectam com a coleção na atemporalidade e atitude de seus designs. Os acessórios levam a assinatura da experiente designer de joias Eleonora Hsiung, que completa a narrativa com peças sofisticadas e contemporâneas criadas a partir dos elementos Terra e Fogo, sob a estética da síntese do Cerrado, feita pelo artista Kboco. 

“A combinação desses elementos permitiu criar acessórios que não apenas capturam a essência, mas também contam uma história esteticamente impactante e significativa, reverberando o futurismo com design retrô, tornando evidente a interação que existe entre esses elementos”, reforça o estilista.

#SouCerrado

O desfile também serviu como palco de lançamento da plataforma #SouCerrado, que reúne ONGs e instituições para facilitar o acesso e a colaboração das pessoas com iniciativas envolvidas na preservação do bioma e da água. Assim, a marca cumpre seu propósito e desempenha seu ativismo ambiental usando roupas como ferramentas – e indo além delas. 

“O projeto Sou Cerrado chega em um momento muito importante da marca e com total sinergia. Quando a iniciativa nos procurou, não hesitamos em levantar essa bandeira, pois o meio ambiente sempre foi uma das nossas grandes preocupações. Nós, enquanto parte da indústria de confecções – mesmo sendo slow e autoral -, precisamos sim fazer nossa parte no sentido de preservação ao bioma cerrado – o que também representa muito nossas raízes. Com a nossa coleção Elementos pudemos dar visibilidade à causa”, afirma Theo Alexandre.

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