Artista do centro-oeste representa o Brasil na Bienal de Veneza

Obras de Dalton Paula destacam figuras historicamente marginalizadas e refletem sobre temas sociais e psíquicos da diáspora africana

Postado em: 19-04-2024 às 10h00
Por: Luana Avelar
Imagem Ilustrando a Notícia: Artista do centro-oeste representa o Brasil na Bienal de Veneza
Nascido em Brasília, Dalton Paula conquistou reconhecimento internacional com sua arte íntima e histórica, integrando coleções importantes como as do MoMA de Nova York e da Pinacoteca de São Paulo | Foto: Divulgação

A 60ª Exposição Internacional de Arte, conhecida como Bienal de Veneza, abrirá suas portas neste sábado (20) para receber artistas de todo o mundo. Entre os participantes, destaca-se Dalton Paula, representante do Centro-Oeste brasileiro, cujo trabalho será exibido pela Cerrado Galeria, com sede em Goiânia e Brasília.

A Bienal, com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor do Museu de Arte de São Paulo (MASP), terá como tema ‘Stranieri Ovunque – Estrangeiros em Todos os Lugares’, destacando artistas considerados outsiders no universo da arte. Este é o primeiro ano em que um latino-americano lidera a curadoria do evento.

Dalton Paula apresentará obras que exploram as representações de corpos negros na diáspora africana, desde o período colonial até os dias atuais. Seu trabalho visa dar visibilidade a personalidades negras historicamente negligenciadas pela história visual.

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Para celebrar a participação do artista, a Cerrado Galeria organiza um jantar de celebração no Chiostro dell’Abbazia della Misericordia, antigo edifício religioso agora utilizado para acolher artistas da bienal. O evento contará com a presença de outros artistas homenageados, como Jota Mombaça e Manauara Clandestina, e será realizado em parceria com James Fuentes, Galeria Jaqueline Martins e Sé Galeria.

Júlia Mazzutti, diretora da Cerrado Galeria em Goiânia, destaca a importância de dar visibilidade aos artistas do interior do Brasil em eventos internacionais de arte. “Ter artistas brasileiros em eventos de arte internacionais representa uma oportunidade de não apenas mostrar a pluralidade do nosso país, como também dar visibilidade para artistas talentosos que dão sentido ao que chamamos de nova arte brasileira. É o reconhecimento de uma cultura inovadora voltada ao que é afetivo, à vida, ao coletivo e à ressignificação de narrativas antes excludentes”, afirma. 

O evento concentra-se na produção de artistas de diversas origens, dando visibilidade a grupos anteriormente marginalizados, como imigrantes, expatriados, pessoas queer, indígenas e negros. 

As obras de Dalton, como ‘Chico Rei’, ‘Nã Agotimé’, ‘Pacífico Licutan’, ‘Tereza de Benguela’ e ‘Ganga Zumba’, retratam figuras historicamente marginalizadas e refletem sobre temas sociais, econômicos e psíquicos. Sua pesquisa inclui os contextos dos terreiros, quilombos, subúrbios e os festejos tradicionais, buscando fortalecer a comunidade e promover a emancipação dos sujeitos.

Com o início da Bienal de Veneza, o Brasil ganha destaque no cenário internacional da arte, mostrando ao mundo a diversidade cultural e a relevância dos artistas brasileiros, especialmente aqueles que, como Dalton, representam regiões fora do eixo Rio-São Paulo.

Devido à trajetória de Dalton, as expectativas da Cerrado Galeria para a participação do artista na Bienal são as melhores possíveis. “Além de artista, ele é educador – seu ateliê, o Sertão Negro, é voltado para a formação de novos artistas. Seu legado representa uma volta às raízes, perpassando todos os aspectos do indivíduo e retratando figuras marginalizadas pela história por meio da pintura e da fotografia. Esperamos que sua exposição leve o espectador a refletir sobre a história afro-brasileira e sua importância para a construção do Brasil”, reitera Mazzutti.

Trajetória

Nascido em Brasília, em 1982, e atualmente baseado em Goiânia, Dalton Paula conquistou reconhecimento internacional por meio de suas obras que integram coleções importantes, como as do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, da Pinacoteca de São Paulo e do MASP. Sua arte íntima e histórica tem sido aclamada globalmente.

Além de artista, Dalton também é o fundador do Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes em Goiânia, projeto que rendeu a ele o Prêmio Soros Arts Fellowship pela Open Society Foundation. Neste ano, foi eleito como um dos dez vencedores do prêmio Chanel Next Prize, um feito que destaca sua influência e originalidade no cenário artístico contemporâneo.

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