‘Haridade’ lapidada pelo funk paulista

Conhecido no cenário do funk por quebrar barreiras, o funkeiro Mc Hariel agitou a Capital goiana no último final de semana

Postado em: 01-05-2024 às 10h00
Por: Leticia Leite
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Diretamente da Vila Aurora, na zona norte de São Paulo, o funkeiro, apelidado de ‘haridade’, conta com pouca idade e uma trajetória de superações | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Hariel Denaro Ribeiro, mais conhecido como MC Hariel, tem apenas 26 anos, sendo pelo menos dez deles em cima dos palcos, fazendo história no funk paulista. Diretamente da Vila Aurora, na zona norte de São Paulo, o funkeiro, apelidado de ‘haridade’, deu partida na carreira em 2011, e mesmo com pouca idade conta com uma trajetória de superações.

Na estileira e todo trajado nos ‘panos’, o Mc esteve presente na Capital no último final de semana e se apresentou, no maior festival de música e cores, que aconteceu na Arena Multiplace, o Happy Holi, em que milhares de pessoas vestidas de branco se juntam e criam uma paleta humana de cores num momento único de celebração e de pura alegria. O cantor e compositor agitou o público com grandes sucessos como: ‘Maçã Verde’, ‘Lei do Retorno’, ‘X1’, ‘Vou Buscar’, ‘Tem Café’, ‘Manto do Timão’ e um dos seus últimos lançamentos ‘Kamehameha’. 

Em entrevista ao Essência, Hariel falou sobre a sua trajetória na música.  Conhecido no cenário do funk por quebrar barreiras, o artista já se apresentou em palcos gigantes como Rock in Rio e The Town. Em Goiânia, esteve presente no ano passado na primeira edição do Rap Mix, festival que proporcionou uma experiência transformadora, promovendo a união por meio da música e trazendo à tona questões sociais importantes, como racismo, violência, diversidade e desigualdade social.

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O funkeiro diz se orgulhar de ver o funk conquistando e se apresentando em palcos que anos atrás não se via o gênero musical presente, mas reconhece que hoje mesmo com tantos preconceitos, o ritmo tem tido mais oportunidades e que as portas estão cada vez mais se abrindo, mas alerta que é importante ter cautela.

“Tem que ter cuidado com esse crescimento, tem que fazer as coisas direito para que esse tamanho, essa proporção gigante que a gente tá tomando e esse amor também que os fãs têm por nós não acabe virando uma coisa que nos atrapalhe. Tem que ter estrutura, tem que estar tudo certinho pra não acabar dando problema. Mas é bom demais ver o funk cada vez crescendo mais. Claro que é importante nós crescermos com a organização também”, explica. 

O compositor revela que a missão da geração atual do funk é fazê-lo reconhecido mundo afora. “Um dia eu vou ganhar um Grammy, esse daí é o meu sonho”, destaca Hariel, que acredita que esse pode ser um passo importante em sua carreira e na música brasileira.

Outros patamares

O compositor que já dividiu canções e trabalhou com diversos artistas fora do funk como Felipe Araújo, Lauana Prado, Tribo da Periferia e Maneva, enfatiza a importância de sair da bolha e expandir para novos gêneros.

“O nosso movimento ele aparece só através das mídias grandes, do que eles querem mostrar, por exemplo, uma ‘tiazinha’ que não é muito do nosso movimento ou um pai de família. Ele só sabe do funk, do que a televisão mostra para ele, na grande parte das coisas não mostra o lado bom, mostra sempre o lado pejorativo, pisando, diminuindo, colocando o preconceito que eles têm em cima de nós, sempre exposto. Então acho que quando a gente grava com outros artistas, mostra a nossa vertente, apresenta nosso movimento para quem não conhece, para quem tem um preconceito. É importante para nós, mais além ainda de furar a bolha, mostrar que o nosso movimento é mais do que eles pensam”, destaca.

As três esferas do funk

O funk mostra cada vez mais seu poder, agrupando diversos subgêneros dentro de seu guarda-chuva, como o proibidão, ostentação e consciente. Cada um deles com sua particularidade enquanto mantém a essência.

O consciente esteve presente ao longo da história do gênero musical e ganhou muito espaço no cenário atual. Ele é feito da periferia para a periferia, com letras que falam de esperança por dias melhores, de fé, de questões sociais e do triunfo da ‘quebrada’ diante dos obstáculos encontrados no cotidiano.

Hariel destaca que sua praia é o funk consciente, que versa justamente sobre histórias de vida, com mensagens de inspiração, diferenciando as vertentes pelos instrumentos utilizados e o contexto narrado, com um papo mais sério em que o Mc passa a visão sobre assuntos do momento e usam trocadilhos para chamar a atenção de quem ouve.

“Prefiro cantar o consciente. Pode ver que no meu show, na hora que não é o funk consciente, a gente traz até bailarina para me ajudar. Eu sou fã de funk de modo geral, mas o que eu prefiro é o consciente”, afirma.

Sem deixar de lado outros subgêneros, como o mandelão, quem curte o estilo musical tem aderido ao consciente por uma representação do que vive no dia a dia. Um exemplo disso é a música ‘Ilusão (Cracolândia)’, lançada em 2020, que uniu os astros do funk MC Hariel, MC Ryan SP, MC Davi, Salvador da Rima e o DJW. O DJ Alok responsável pela criação do sucesso, realizou uma produção carregada de simbolismo que relata a luta contra o vício, a dor das famílias que convivem com ele e a contraposição de todo esse contexto, representada pela pureza das crianças. 

A música faz alusão ao centro de São Paulo onde o comércio ilegal divide espaço com usuários de drogas que vagam de um lado para outro, perdidos no tempo e espaço em busca da próxima dose.

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