Da favela ao palco principal

A ascensão de Nina Oliveira na música nacional

Postado em: 04-07-2024 às 07h30
Por: Luana Avelar
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A nova música 'Casa de Boneca' promete ser um hit dançante que reflete as raízes de Nina na comunidade | Foto: Matheus Maia

Nina Oliveira, cantora e compositora brasileira, nasceu em 13 de janeiro de 1997 em Guarulhos, São Paulo. Criada em uma favela, sua infância foi permeada por uma diversidade musical, que incluía desde forró eletrônico até rock’n’roll, pagode e black music dos anos 2000. Em uma entrevista ao jornal O Hoje, a cantora relembrou suas origens e como a música sempre esteve presente em sua vida desde cedo, mesmo sem acesso a uma formação musical formal.

“Foi na adolescência que entrei em uma escola técnica estadual, onde descobri um coral de alunos que foi minha porta de entrada para a prática do canto”, disse. Aos 16 anos, foi aprovada no curso técnico de canto popular na Etec de Artes e posteriormente se formou em Regência Coral na mesma instituição. Seu interesse por diferentes gêneros musicais a levou a estudar canto popular na EMESP – Tom Jobim e participar como soprano no Coral Jovem do Estado de São Paulo de 2017 a 2019.

Nina descreve seu estilo musical como variado, abrangendo MPB, ijexás, afrobeats, forró e rap-r&b. Em relação ao termo MPB, Nina ressalta: “Não curto muito essa definição, porque acho que esse termo guarda-chuva que tenta abarcar tudo, acaba não comunicando exatamente o que cada artista se propõe a fazer”.

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Sua versatilidade artística, no entanto, não se restringe apenas à música. A jovem também se destaca como poeta e atriz, equilibrando essas diferentes facetas em sua carreira. Segundo a própria artista, “Eu tento fazer uma coisa de cada vez, tem períodos que eu trabalho mais como apresentadora, outros que trabalho mais como atriz, outros que trabalho mais como cantora. Depende da demanda, tem projetos que demandam muito da minha atenção e acabam impossibilitando que eu faça parte de outras coisas. Atualmente, estou bem cantora!”

Sobre sua rotina e processo criativo, ela afirma: “Depois de mais de anos na prática da música, posso dizer que eu funciono em temporadas. Tem temporadas em que estou mais criativa, outras em que meu foco muda para áreas da minha vida que não tem tanto a ver como a criação. Atualmente estou muito voltada para a comunicação e planejamento da minha carreira”.

Quanto à importância da representatividade na indústria da música, especialmente para as mulheres negras, a artista destacou: “Mulheres negras e indígenas constroem cultura nesse país, então porque não estamos figurando em peso em todos os line-ups e campanhas de comunicação?”

Nina também discutiu os desafios de ser uma artista independente no cenário musical brasileiro: “Dinheiro? Acho que a equação que todo artista independente tenta resolver atualmente é: como tornar o trabalho auto-sustentável do ponto de vista financeiro”.

The Voice 

Um dos momentos de destaque em sua carreira foi sua participação no reality show ‘The Voice Brasil’ em 2019. Nina comentou sobre essa experiência: “Foi algo diferente de tudo que eu já tinha vivido até ali na minha carreira musical. O The Voice é um programa de proporções gigantescas, e estar por dentro de como tudo acontece, de como funciona, foi um grande aprendizado que nunca irei esquecer.”

Naíse 

“Naíse é um xote bastante autobiográfico, eu escrevo muito sobre as minhas próprias experiências. Lembro que na época em que escrevi Naíse, eu estava completamente influenciada por uma música da Uma Luiza Pessoa, chamada Xotimamoeiro. Esse som da Uma é um xote muito gostoso que eu ouvia repetidas vezes na voz de uma cantora chamada Indy Naíse. Um dia fui num show dessa cantora, conheci um rapaz, e depois… bom, depois, tudo que aconteceu naquele dia, eu escrevi no dia seguinte em Naíse. Dei esse nome pra música porque achei complementar à letra. Fiz meu primeiro easter egg, sem saber o que era um”, comenta. 

O lançamento da música, em 2016, não teve grande repercussão inicial, mas seis anos depois, em 2022, a canção foi escolhida para compor a trilha sonora de uma novela da Rede Globo, o que surpreendeu e emocionou a artista. “Foi uma surpresa maravilhosa, ver a música que eu tinha lançado há tanto tempo sendo escolhida para uma novela da Globo. Isso mostra que a gente não deve desistir dos nossos projetos, às vezes eles demoram um pouco, mas acabam rendendo frutos”.

Do passado ao presente 

Em termos de apresentações ao vivo, a cantora participou de diversos festivais renomados, como Lollapalooza, Bananada, RecBeat e projetos como Sobre essas experiências, ela comenta: “Foram experiências maravilhosas que me fizeram entrar em contato com muitos artistas que amo e admiro, mas teve uma que foi muito especial por motivos pessoais. Em fev/2020 toquei no Festival Rec-Beat, festival esse que acontece na cidade natal de meu pai, Recife. Lembro de chegar na passagem de som e de cima do palco olhei pro Rio Capibaribe, para aquele centro histórico lindo, e pensei no meu pai. Fiz um vídeo de cima do palco e mandei pro meu pai dizendo ‘olha onde é o palco que eu vou tocar hoje’. Meu pai me respondeu dizendo que quando ele era criança, vendia sardinha com a mãe dele, na esquina do prédio histórico que tinha na frente do palco. ‘Quem diria que anos depois, minha filha ia estar nesse mesmo lugar, só que como cantora, para fazer um show.’ Me emocionei demais com essa fala do meu pai. Ele guarda uma luta muito grande da nossa família. Quando voltei a noite pro palco, dediquei La Belle de Jour, do Alceu Valença ao meu pai”.

Novo single 

Por fim, ela antecipou o lançamento de seu novo single ‘Casa de Boneca’, que será disponibilizado em todas as plataformas digitais nesta sexta (5). A artista descreve a nova faixa como “um forró bem dançante, com letras que falam sobre a minha realidade e da minha comunidade. Espero que as pessoas possam se identificar e curtir muito a música”.

Além do novo single, Nina também planeja lançar um álbum completo voltado para o forró ainda este ano, mantendo seu compromisso com a diversidade musical e sua conexão com as raízes da periferia. Ela também sonha em criar sua própria marca de roupas e organizar uma festa de música brasileira para projetar novos artistas.

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