Aos 96 anos, morre Bibi Ferreira, a Dama do Teatro Brasileiro

A artista faleceu na tarde desta quarta-feira (13), em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio

Postado em: 13-02-2019 às 14h30
Por: Guilherme Araújo
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A artista faleceu na tarde desta quarta-feira (13), em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio

Da Redação

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A atriz, cantora, apresentadora, diretora e compositora Bibi Ferreira morreu na tarde desta quarta-feira (13), na cidade do Rio de Janeiro. 

Bibi foi um dos maiores fenômenos artísticos do Brasil e tinha 96 anos, a informação foi confirmada pelo empresário Marcos Montenegro.

A artista morreu em , seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio, e segundo sua filha Tina Ferreira, a atriz acordou e pediu um copo d’água, quando enfermeira, que a acompanhava percebeu que o batimento cardíaco estava baixo, chamou um médico, mas não houve tempo para levá-la para o hospital. Tina acredita que a mãe morreu dormindo. Bibi deve ser cremada, mas ainda não há informações sobre velório e enterro.

A Grande Bibi Ferreira 

Abigail Izquierdo Ferreira nasceu em 1º de julho de 1922. Filha de um dos maiores nomes das artes cênicas do Brasil, o ator Procópio Ferreira, e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi (apelido que ganhou ainda na infância) já estava no palco com apenas 20 dias de vida, no colo da madrinha Abigail Maia, em encenação de ‘Manhãs de sol’, de Oduvaldo Vianna.

Como a maioria dos cancerianos, Bibi foi uma pessoa multimídia, fez filmes, apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows sem nunca abandonar o teatro, uma grande paixão. Foi enredo de escola de samba (Viradouro, em 2003) e teve recentemente a vida e obra contadas em musical escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães e dirigido por Tadeu Aguiar.

Em março de 2018, aos 95 anos, foi assistir à peça em teatro no Rio e fez o público se emocionar ao chorar cantando música de Edith Piaf (1915-1963), francesa que Bibi interpretou com maestria em musical de enorme sucesso no Brasil e em Portugal.

Sua interpretação foi considerada tão perfeita e cuidadosa, que mesmo pessoas que conheceram a própria Piaf se espantaram com o nível de semelhança alcançado por Bibi. Com o espetáculo, conquistou os principais prêmios do teatro nacional: Molière, Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Governador do Estado e Pirandello. Apenas alguns dos muitos prêmios que colecionou ao longo das décadas de carreira.

Bibi na televisão 

Em 1960, Bibi inaugurou a ‘TV Excelsior’ com o programa ao vivo ‘Brasil 60’, que levou à TV os maiores nomes do teatro. Na mesma emissora, também apresentou o programa ‘Bibi sempre aos domingos’. Em 1968, estrelou o musical ‘Bibi ao vivo’, que tinha a direção de Eduardo Sidney, o programa era transmitido do auditório da Urca.

Ainda na década de 1960, Bibi estrelou outros dois dos musicais mais marcantes de sua carreira. O primeiro foi ‘Minha querida dama’ (My fair lady), de Frederich Loewe e Alan Jay Lerner, adaptação de ‘Pigmaleão’, de George Bernard Shaw, ao lado de Paulo Autran e Jayme Costa.

O outro foi ‘Alô, Dolly!’ (Hello, Dolly!), era uma versão da obra ‘The matcmaker’, de Thornton Wilder, com Hilton Prado e Lísia Demoro. Já na década de 1970, Bibi foi o principal nome de ‘O homem de La Mancha’, musical de Dale Wasserman dirigido por Flávio Rangel e com letras adaptadas para o português por Chico Buarque.

A artista deixaria ainda seu nome marcado na casa de ‘shows Canecão’ ao dirigir o espetáculo ‘Brasileiro, profissão esperança’, de Paulo Pontes e Oduvaldo Vianna Filho, produção inspirada na obra do compositor Antonio Maria. Em 1975, Bibi recebeu o Prêmio Molière pela interpretação da personagem Joana, de “Gota d’água”, de Paulo Pontes e Chico Buarque, montagem que ambientava a tragédia “Medeia”, de Eurípedes, em um morro carioca. No início dos anos 2000, com seus 78 anos, ela realizou mais um impressionante trabalho ao interpretar a fadista Amália Rodrigues no espetáculo ‘Bibi vive Amália’. Em seguida, Bibi apresentou dois recitais, ‘Bibi in concert’ e ‘Bibi in concert pop’, nos quais se apresentou acompanhada por orquestra e coral.


Bibi era Admirada pelo público e respeitada pelos colegas, sempre manteve uma rotina discreta, evitando a exposição de detalhes de sua vida pessoal. Com raras eram suas aparições em eventos sociais. Segundo amigos mais próximos, quando fora dos palcos, Bibi preferia passar o tempo em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio. Em seus vários casamentos, teve apenas uma filha, Teresa Cristina.

Afastamento Forçado 


“Nunca pensei em parar. Essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos a que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada! Bibi”. Com essas palavras, atribuídas a Bibi Ferreira em comunicado publicado em rede social, a atriz e cantora carioca anunciou no dia 10 de setembro de 2018, que encerra uma das carreiras mais gloriosas construídas por uma artista no Brasil e no mundo.

A artista se retirou voluntariamente de cena para preservar a saúde, aos 96 anos, após três sucessivas internações. Bibi disse na época, que não iria mais se apresentar nos palcos como atriz ou cantora. Tampouco daria entrevistas, nem mesmo por e-mail, como vinha fazendo nos últimos tempos. 

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