Projetos que valorizam patrimônio cultural podem ser contemplados com R$ 30 mil

Podem ser inscritos, até 17/5, projetos de todos os estados brasileiros e do DF. Serão selecionados oito trabalhos ao todo

Postado em: 03-04-2019 às 00h00
Por: Sheyla Sousa
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Podem ser inscritos, até 17/5, projetos de todos os estados brasileiros e do DF. Serão selecionados oito trabalhos ao todo

Aos 50 anos, Solange Luciano tem uma importante e variada produção artística. Seus poemas, atuações em peças de teatro, desenho e pintura têm forte conteúdo social. Aborda temas que a sensibilizam, como as causas das mulheres, dos negros e da saúde mental. Solange é autora da obra Vestes Falantes, em que usa peças de roupa como plataforma de seus desenhos e escritos. Recentemente, ela dirigiu um ensaio fotográfico vestindo essas peças de roupa. O cenário foi o prédio histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre (RS), fundado em 1874, onde Solange já esteve internada. 

Foi na oficina de criatividade do hospital que Solange descobriu e desenvolveu seus talentos artísticos, há dez anos. “Eu me considero o próprio resgate da arteterapia, assim como tantos outros colegas”, comenta Solange. “Ela é a nossa grande artista contemporânea”, avalia Bárbara Elisabeth Neubarth, coordenadora da oficina, que tem um rico acervo de pinturas, desenhos, bordados e escritas, e há 29 anos atende os pacientes do serviço de saúde. Bárbara conta que a artista tem uma “abundância de ideias” e a que a oficina a ajuda a organizar seu trabalho e seu cotidiano, canalizando na arte suas inquietações e ajudando na concentração e no controle da ansiedade. 

O projeto Arquivo e Testemunho, do acervo artístico da oficina de criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, foi um dos vencedores do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2017, ganhando R$ 30 mil. O prêmio, considerado o ‘Oscar’ do Patrimônio, é concedido anualmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Ministério da Cidadania. A cerimônia de premiação deste ano será em Porto Alegre (RS), em outubro, como parte de uma campanha, lançada em fevereiro pelo Ministério da Cidadania, que escolheu a região Sul como destaque na área de patrimônio.

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“A premiação deu um gás para o nosso projeto”, afirma Bárbara. Com a verba recebida, o projeto pôde adquirir mapotecas para arquivar os cerca de 200 mil trabalhos produzidos na oficina e computadores para digitalização dos documentos. Além disso, segundo Bárbara, a visibilidade nacional foi importante, “um divisor de águas”.

Música tradicional

“O prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade estimula a generosidade, o afeto”, avalia Lucas Luz, idealizador, curador e produtor do projeto Gema, que organizou diversos produtos apresentando a diversidade de músicas tradicionais do Rio Grande do Sul e recebeu menção honrosa na edição do ano passado. No fim de 2018, o Gema realizou um festival de dois dias, em Porto Alegre, reunindo apresentações de músicas indígenas, ritualísticas, espirituais, celebrativas e de entretenimento dos povos que compõem a herança cultural do estado. O registro dessas produções musicais também foi transformado em uma websérie em dez episódios, podcasts, textos, fotografias e revistas distribuídas em equipamentos culturais e escolas estaduais de ensino público. 

Luz destaca que o Prêmio Rodrigo Melo Franco é um reconhecimento fundamental. “Trabalhar com patrimônio material e imaterial nas suas mais diversas instâncias, seja promovendo pequenos registros, como é o caso do Gema, seja fazendo a gestão de um museu, é um trabalho muito difícil”, diz. Para ele, os projetos que lidam com patrimônio são de extrema importância para se ter compreensão de identidade e de nosso passado, nos situar no presente e poder assim fazer projeções de futuro.

Casas Enxaimel

“O prêmio nos deu prestígio e visibilidade”, conta Paulo Volles, que inscreveu o Levantamento de Casas Enxaimel em Blumenau (SC) no edital do Prêmio Rodrigo de 2015 e foi um dos vencedores da edição. Enxaimel é um modo de construção tradicional na região, de origem germânica, que utiliza estruturas de madeira de encaixe e tijolos. Apesar de muito resistentes, o uso dessas construções entrou em declínio na década de 1940. O projeto identificou 226 casas enxaimel nas ruas de Blumenau e criou um banco de dados e imagens para pesquisas posteriores. 

Com o dinheiro do prêmio, foi possível investir em pesquisa e a visibilidade ajudou a incentivar o restauro e a construção de novas casas utilizando a técnica. “Na época (do prêmio) tínhamos cinco ou seis casas restauradas e outras dez que ainda estávamos fabricando. Hoje, esse número dobrou: são 38 casas entre novas e restauradas, todas na técnica autêntica do enxaimel”, conta Volles. 

Protagonismo regional

Porto Alegre foi escolhida como local do 32º Prêmio Rodrigo Melo Franco como parte da campanha ‘Patrimônio Cultural do Sul: Turismo Cultural como Ativo para o Desenvolvimento de Cidades Históricas’, que prevê uma série de ações no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que vai culminar em uma Semana de Eventos, entre os dias 21 e 25 de outubro, na capital do Rio Grande do Sul. “Estas ações vão valorizar o patrimônio histórico, e a nossa gente vai ter a oportunidade de conhecer a nossa origem. Isso nos impulsiona para um futuro melhor”, afirmou o ministro da Cidadania, Osmar Terra. A presidente do Iphan, Kátia Bogéa, destaca que a promoção turística é fundamental para a preservação do patrimônio, “que só se preserva se tiver uso e se ele for apropriado pelas pessoas com sentimento de pertencimento”.

Apesar de ser a menor região brasileira em extensão territorial, o Sul oferece um inventário plural de bens culturais que será divulgado, valorizado, promovido e debatido coletivamente pelo governo federal e seus parceiros, ao longo do ano. Trata-se de uma vasta lista de edificações, conjuntos urbanos, manifestações culturais, bens arqueológicos e ferroviários.

A riqueza cultural da região Sul integra mais de 150 bens tombados individualmente, 13 conjuntos urbanos e cinco bens arqueológicos, além do patrimônio imaterial registrado. Apenas do Rio Grande do Sul, onde ocorre o lançamento da campanha, são 3.263 sítios arqueológicos cadastrados e diversos bens materiais tombados, incluindo sete conjuntos urbanos – localizados na capital Porto Alegre e nos municípios de Pelotas, Novo Hamburgo, Santa Tereza, Antônio Prado, Jaguarão e Vila de Santo Amaro do Sul. 

Inscrições

Quem atua com projetos da área de preservação e promoção do Patrimônio Cultural Brasileiro tem até 17 de maio para participar do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Há 32 anos, o prêmio estimula e valoriza aqueles que atuam em favor da preservação dos bens culturais do País. Podem se inscrever projetos de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal. Serão selecionados oito trabalhos ao todo, que serão contemplados com R$ 30 mil, cada. Além das entidades governamentais da administração direta e fundações públicas, podem participar da seleção instituições sem fins lucrativos da sociedade civil organizada e pessoas físicas individuais, representantes de grupos ou coletivos, que não constituem pessoa jurídica. 

O resultado final do concurso deverá ser divulgado até o dia 20 de agosto de 2019, no site do Iphan. Saiba mais sobre as regras do prêmio no site iphan.gov.br. Para tirar dúvidas sobre o edital, envie e-mail para [email protected].

“O objetivo é abrir a possibilidade para que os diversos segmentos que atuam nesse país em ações voltadas para o patrimônio possam ver suas iniciativas reconhecidas e, portanto, valorizadas”, explica o diretor de Cooperação e Fomento do Iphan, Marcelo Brito. (Ascom/Secretaria Especial da Cultura – Ministério da Cidadania)

 

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