Cinema oriental e a realidade

Nesta quinta (2), o filme ‘Um Elefante Sentado Quieto’ chega às telonas do Cine Cultura retratando trajetórias do cotidiano

Postado em: 02-05-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Cinema oriental e a realidade
Nesta quinta (2), o filme ‘Um Elefante Sentado Quieto’ chega às telonas do Cine Cultura retratando trajetórias do cotidiano

Guilherme Melo*

Retratando uma época simples e histórias de personagens injustiçados, o cinema oriental sempre carregou os conceitos de honra, Justiça e liberdade. Os personagens, geralmente, possuem características estéticas exóticas, com biótipos magros e andróginos, cabelos espetados e coloridos, olhos e bocas grandes, roupas que representam tanto a cultura oriental quanto a radicalização do mundo ocidental, como bermudões e bonés virados ao contrário na cabeça. Essa mescla de características é exatamente o que tem chamado atenção do público. E, nesta quinta-feira (2), o Cine Cultura recebe o longa-metragem Um Elefante Sentado Quieto, do diretor chinês Hu Bo. 

Continua após a publicidade

O enredo trabalha com mistura de quatro tramas realistas de personagens rejeitados, depressivos e vítimas de bullying que se cruzam rumo à fuga do sofrimento. A obra, que se passa numa cidade no norte da China, trata sobre o desolo e a falta de perspectiva e de esperança entre os protagonistas jovens e adultos. Segundo o cineasta Herick Vânio, diferente das grandes produções hollywoodianas, tramas orientais desde o início trabalham com ‘miséria’ humana. “Os filmes norte-americanos apresentam os problemas sociais e soluções quase mágicas. Já os grandes filmes do Japão, China e Índia são produções periféricas, que mostram realidades que às vezes não queremos falar, como solidão, depressão e ansiedade”, explica o pesquisador e fã.

A sinopse do filme apresenta a história de um sombrio céu de uma pequena cidade no norte da China, as vidas de diferentes protagonistas estão interligadas. Para proteger um amigo, o jovem Wei Bu empurra o valentão da escola escada abaixo e foge do local após o garoto ser hospitalizado com risco de vida. Wang Jin, um vizinho de 60 anos, vive em conflito com seu filho e nora que querem colocá-lo em um asilo fétido e decidem se juntar a Wei. Além disso, Huang Ling, a melhor amiga e colega de classe de Wei Bu, está atormentada por manter um caso com o vice-diretor da escola. Desesperados, os três decidem fugir juntos, enquanto, do outro lado da cidade, o irmão mafioso do valentão ferido, as autoridades da escola e os pais promovem uma caçada implacável a Wei. No fim, os três embarcam em um ônibus em direção à Manchúria, onde, segundo dizem, há um elefante de circo sentado quieto.

Herick explica que Hollywood têm produzindo muitos materiais que representam grupos minoritários, mas que o cinema oriental já fazia isso há anos atrás. “A primeira grande produção do cinema japonês, em 1915, falava sobre um samurai injustiçado, que procurava resgatar sua honra”, revela o cineasta. Uma marca, que também aparece em Um Elefante Sentado Quieto. “O filme conta a ‘jornada’ de uma mulher, um adolescente e um idoso, ou seja, pessoas que precisam se adaptar a sociedade”, compara.

O diretor do filme, Hu Bo, é natural da China, com isso só estava reproduzindo sua própria cultura, que está atravessando os oceanos. 

Já o goiano Akira Ninomiya Júnior lançou, nesta semana, o desenho Sontoku, um curta-metragem que busca evidenciar virtudes de superação, perseverança e espírito altruísta de um jovem órfão que mudou os rumos de um país, baseado na história real de Kinjiro Ninomiya. Segundo o diretor, o filme apresenta a trajetória de Ninomiya, a partir de sua infância, com grandes provações, passando por uma adolescência difícil e de muito trabalho, chegando a uma fase próspera, momentos antes de iniciar sua caminhada em prol da reestruturação do Japão.

Sontoku apresenta semelhanças com Um Elefante Sentado Quiet, em apresentar uma proposta desafiadora de estabelecer personagens quem possuam características ocidentais e orientais, sempre mostrando propblemas, como crises econômica, política e de valores morais. 

Para Vânio, estamos em um período crescente da produção audiovisual de periferia, o que pode aumentar a produção desses filmes. “Com tantas crises e problemas sociais que estamos enfrentando, as produções orientais ganham mais visibilidade. Isso porque é uma alternativa de buscar solução prática e aplicável à nossa realidade”, adverte o especialista.

Um Elefante Sentado Quieto venceu o prêmio da crítica em Berlim, em 2018, ganhou o prêmio do público no Festival de Hong Kong e os prêmios de Melhor Filme e Roteiro no Golden Horse Award, na China.

*Integrante do programa de estágio do jornal O Hoje sob orientação da editora Flávia Popov

 

Veja Também