Turismo Religioso: 100 Anos da Cripta da Catedral da Sé

Série de Concertos dá acesso a espaços pouco conhecidos do local.

Postado em: 29-07-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Turismo Religioso: 100 Anos da Cripta da Catedral da Sé
Série de Concertos dá acesso a espaços pouco conhecidos do local.

Sabrina
Moura

Em 2019 a Cripta da Catedral da Sé completa 100 anos. A‘Série
Concertos 100 Anos da Cripta da Catedral da Sé’ comemora esse feito e traz 30
apresentações reunindo grandes nomes e revelações da música instrumental e do
canto coral brasileiros.

Os eventos são gratuitos, com concertos que acontecem aos
sábados, às 16h, até o mês de março de 2020, na própria cripta e em outros locais
de acesso restrito da catedral – como os salões do piano e do coro). “Será uma
oportunidade inédita de paulistanos e turistas apreciarem esses locais ao som
de repertórios que destacarão obras da música clássica e popular brasileira e
internacional em formações tão diversas como piano solo, madrigais, canto
gregoriano e até o diálogo do beatbox com estilos mais ligados ao clássico”,
afirma Camilo Cassoli, Diretor Geral do Projeto.

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A partir da história da Cripta, serão destacados repertórios que
relacionarão diversos momentos históricos da cidade de São Paulo a partir da
Praça da Sé e de sua Catedral. Ganham destaque especial os povos que compõem a
cidade, com a presença de grupos de suas diversas origens. “É muito
significativo que a Catedral receba e apoie eventos como esse, que valoriza sua
história, a história da cidade e de seus cidadãos, aproximando todos à nossa
igreja e ao Centro de São Paulo”, afirma Luiz Eduardo Baronto, cura da Catedral
da Sé.

Os concertos relacionam 4 linhas temáticas principais: ‘Uma
praça e suas camadas’ (com repertórios e sonoridades explorando diferentes
momentos da praça da Sé e do desenvolvimento da Cidade de São Paulo: desde
quando ali havia a Mata Atlântica até hoje, com os desafios para o presente e o
futuro); ‘Povos de São Paulo” (com grupos e solistas das diversas origens que
formaram a cidade, a começar pelas matrizes indígena, européia e africana,
chegando até os imigrantes mais recentes); ‘4 Elementos’ (abordando repertórios
ligados a Água, Ar, Terra e Fogo, e como esses se relacionam com a arquitetura
e a história da Catedral); ‘Espaço e Tempo na Música Sacra’ (com a execução de
peças de diferentes épocas e estilos explorando sonoridades diversas dos
espaços da Catedral da Sé).

A programação da série, conteúdos exclusivos e a íntegra dos
concertos já realizados podem ser acessadas nas redes do projeto:
instagram/concertoscripta,facebook/concertoscripta e no site www.concertoscripta.com.br

História

São Paulo foi uma das cidades que mais cresceu no mundo nos
últimos 200 anos. Se olharmos mais para trás, na data considerada de fundação
da cidade, em 1554, eram apenas 100 os habitantes da vila. Em 1872, no primeiro
censo realizado no Brasil, já passavam de 30 mil. As mudanças da cidade
refletiram na sua praça mais famosa. Em uma reforma urbanística promovida pela
prefeitura da cidade no começo do século 20, o antigo largo da Sé foi ampliado
em oito vezes, dando lugar à atual Praça da Sé. O primeiro novo edifício do
espaço foi a cripta. Sobre ela, seria erguida a atual Catedral da Sé.

Centenária, a cripta da Catedral da Sé de São Paulo foi
inaugurada no dia 16 de janeiro de 1919 – seis anos após o início da construção
do atual templo e oito anos após a demolição da antiga Sé. A celebração foi
presidida pelo então arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva. Foi a
primeira missa realizada no espaço da nova Catedral, que só seria inaugurada 35
anos depois, durante o aniversário dos 400 anos de fundação da cidade de São
Paulo.

Curiosidades

A cripta está a 7 metros de profundidade em relação à Praça da
Sé. Foi projetada pelo alemão Maximilian Emil Hehl, professor de arquitetura e
engenharia da Escola Politécnica. Abriga 32 câmaras mortuárias, 18 delas
ocupadas por personagens ligados à igreja e à cidade de São Paulo.

Seguindo a tradição das catedrais europeias, a Cripta da
Catedral da Sé abriga personagens fundamentais da história da cidade. Os restos
mortais do cacique Tibiriçá (considerado o primeiro cidadão paulistano) e do
Regente Feijó (que governou o Brasil enquanto Dom Pedro II era criança) estão
no local, em túmulos com esculturas em bronze (e em tamanho real) retratando
passagens de suas vidas.

Ela possui duas destacadas esculturas de Jó e São Jerônimo,
produzidas por Francisco Leopoldo e Silva em Roma. O artista foi colega de
Brecheret, com quem estudou na Academia da França. Tem um conjunto de 4 vitrais
destacando elementos da flora e agricultura presentes no Brasil. Durante a
construção da Catedral, os vitrais serviam de iluminação parcial à Cripta. Com
a catedral pronta, foram cobertos pela própria catedral (e hoje são destacados
por iluminação elétrica). Foram produzidos pela Casa Conrado, a mesma
responsável pelos vitrais do Mercadão.

Os detalhes em metal da Cripta foram fundidos em bronze no Liceu
de Artes e Ofícios. Relevos produzidos por Ferdinando Frick destacam anjos com
trombetas e uma ampulheta, remetendo ao cenas do juízo final.

Dentre os sepultados na cripta, está o frei Bartolomeu de
Gusmão: considerado o inventor do balão. Nascido em São Vicente, viveu na
Espanha no Século XVII, foi acusado de bruxaria pela inquisição e inspirou um
dos personagens principais de José Saramago no livro Memorial do Convento. O
corpo de Santos Dumont ficou guardado na Cripta durante julho e dezembro de
1932, na revolução constitucionalista, até ser transportado em segurança para
ser sepultado no Rio de Janeiro. O mais recente sepultado na Cripta foi Dom
Paulo Evaristo Arns, em 2016. O texto em latim diante de seu mausoléu descreve
sua importância pela preservação dos pelos Direitos Humanos.

(Sabrina Moura é estagiária do jornal O Hoje sob orientação da
editora do Essência, Flávia Popov) 

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