Arte urbana dá mais cor e vida à Goiânia

Trabalhos de grafite são expostos em murais e nos museus de arte urbana da Capital | foto: Wesley Costa.

Postado em: 05-09-2020 às 08h30
Por: Sheyla Sousa
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Trabalhos de grafite são expostos em murais e nos museus de arte urbana da Capital | foto: Wesley Costa.

Manoela Messias

Sair a pé por Goiânia pode ser encantador. Independentemente do bairro onde ir, seja nos mais afastados ou nos mais nobres, é praticamente impossível não se deparar com trabalhos feitos pelos mais de 100 grafiteiros que existem na Capital. Na região central estão localizados os três museus de arte urbana feitos por artistas locais e de outros Estados. O mais antigo e mais conhecido deles é o Beco do Codorna, criado em 2014 por meio do trabalho coletivo entre artistas, moradores e da Associação dos Grafiteiros de Goiânia. 

No ano passado outras duas galerias de arte urbana deram mais cor e vida ao Centro de Goiânia: Os becos adjacentes da rua do lazer e as casas cenográficas do Parque Mutirama, onde fica o túnel Jaime Câmara, dois espaços que estavam à deriva e foram revitalizados. Ao todo, 140 artistas de várias cidades próximas à Capital participaram da ação. Entre os artistas, 20 foram mulheres. O trabalho foi feito para que o local se tornasse um espaço de convivência das pessoas com a arte urbana.

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Esses trabalhos têm deixado a Capital goiana cada vez mais colorida depois de eventos como o Festival Beco, que conta com a contribuição de diversos artistas que deixam sua arte estampada nos muros. Além disso, muitas portas de lojas do Centro de Goiânia também receberam os irreverentes desenhos por meio do projeto galeria noturna, idealizado pelo fundador da Casa de Cultura da Juventude, Cleubismar de Jesus, conhecido como Mano CDJ junto com a Secretaria Municipal de Cultura, em 2014.

Canário fotográfico

Desde 2013 o casal Grace Ribeiro e Neuber Oliveira comemora o aniversário de namoro com ensaios fotográficos. Em 2018, com a ajuda do fotógrafo Ygor Lima, a cantora e o musicista optaram por registrar os 5 anos de relacionamento no famoso Beco do Codorna. “A gente sempre deixa os profissionais livres para escolher locais interessantes para nossos registros e quando Ygor sugeriu o Beco eu logo adorei a ideia. Já tinha visto outros trabalhos dele lá e sempre achei o lugar muito bonito. O resultado não poderia ser outro”, diz Grace.

De acordo com a cantora, o casal já tinha em mente fazer um ensaio com cenário mais urbano, já que os anteriores foram feitos em chácaras e fazendas. “Estávamos em busca de uma proposta mais moderna e essa casou perfeitamente”, conta. 

Tabu

A streetart ou arte de rua traduz muito bem uma linguagem estética que ganha cada vez mais força, respeito e notoriedade em todo o país. A arte urbana é uma das formas mais expressivas de se fazer arte na atualidade, alterando a paisagem urbana e surpreendendo pela originalidade em cada desenho. Mas em meio à tudo isso, esses artistas ainda enfrentam preconceitos. Na visão de Cleubismar, as pessoas ainda não sabem diferenciar a arte do grafite das pichações com cunho de vandalismo.

“Hoje, as pessoas olham para a pichação e veem o ato como uma ação de anarquia. Mas por trás de toda pichação existe a expressão de algo implícito naqueles rabiscos e existe a grande possibilidade de trazer as pessoas para se expressarem de forma mais ampla por meio do grafite”, explica. Para ele, em termos de grafite, Goiânia ainda tem muito o que avançar para quebrar o preconceito. 

“Já vi casos em que grafiteiros foram parar na delegacia para explicar que o serviço dele estava sendo feito mediante autorizado. Ainda existe certo preconceito porque muita gente não sabe diferenciar a arte do que é vandalismo. Goiânia ainda é uma cidade conservadora que ainda enxerga a cultura e arte como coisa de vagabundo e de quem não tem o que fazer”, afirma.

Segundo Cleubismar, atualmente cerca de 40 grafiteiros trabalham com o chamado grafite comercial e residencial, ou seja, fazem sua arte sob encomenda de empresas ou pessoas. “Eles vivem apenas disso, não têm outra fonte de renda”, diz.

Na sala de aula

No começo deste ano o projeto “Voltando à Escola”, que procura apresentar o grafite a estudantes, realizou um trabalho em 14 salas de aula de um colégio de Goiânia. Na época, cada ambiente ganhou uma obra de arte com referência a uma disciplina escolar, como matemática, língua portuguesa, história, entre outras.

Sem cobrar nada pelo trabalho, 20 artistas, sendo oito de São Paulo, um do Rio de Janeiro e 11 goianos, participação da ação. As despesas da viagem dos grafiteiros que vieram de outros estados foram custeadas pela escola, que fez uma vaquinha e recebeu doações.

A Escola Estadual Jardim América, que recebeu as obras, passou por uma verdadeira transformação. Segundo a diretora da unidade de ensino, Rosirene Rosa, além da beleza dos desenhos, a intenção de levar o projeto para o colégio é apresentar esse tipo de arte aos alunos. Para ela, o projeto é muito importante na conscientização dos alunos e para inseri-los ainda mais na área artística. 

Na sala de matemática, por exemplo, foi feito um desenho em 3D. Já as paredes da sala de ciências mostram animais e árvores. No ambiente de estudo de sociologia, o grafite faz referência ao empoderamento feminino e na sala de língua portuguesa há um desenho de Cora Coralina, em homenagem à poetisa goiana.

De acordo com a diretora da escola, os estudantes se interessaram pelos desenhos e quiseram participar do projeto. Segundo ela, os alunos ficaram encantados com a arte e com os artistas, que foram de sala em sala explicar sobre o projeto, sobre o trabalho e os desenhos. 

Mural é uma das maiores artes urbanas do Centro-Oeste 

Uma sorveteria recentemente inaugurada em Goiânia conta com um dos maiores murais de arte urbana em estabelecimento privado do Centro-Oeste. Assinada pelos artistas internacionalmente reconhecidos do Bicicleta Sem Freio, o desenho tem 138 metros quadrados, sendo 23 metros de largura e 6 de altura. A inspiração tem como foco o conceito de sorveteria urbana contemporânea, reunindo elementos e referências da fauna e flora do Cerrado. “A estrutura traz duas personagens interagindo com o universo do sorvete e do Cerrado”, explica a dupla de ilustradores Douglas Pereira e Renato Reno. 

Ao longo do processo de pintura, que durou mais de 10 dias, foram utilizados mais de 70 litros de tinta acrílica à base de água e 19 cores distintas para compor a arte. Entre os pássaros típicos desenhados estão a Seriema, o Canário da Terra e o João de Barro, este último ainda faz uma alusão da sua casa com uma bola de sorvete. Entre os frutos, estão representados o pequi, o araticum, a manga, o cacau, o café, o caju, a flor de maracujá. O destaque fica por conta do baru, que surge sendo oferecido por mãos ‘generosas’, como conceituam. O nome da sorveteria, inclusive, presta uma homenagem à castanha de baru, assumidamente o ingrediente preferido de Ian. Alata é o último nome de DipteryxAlata, nome científico do baru. 

“Os princípios do Alata são os mesmos do Bicicleta Sem Freio. São ideais que brincam com os sonhos sem medo de testar e misturar coisas novas para criar um visual único e sabores marcantes”, concordam os artistas. (Especial para O Hoje)

  

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