Arte urbana e social

O grafite deixou o estereótipo marginal e é visto hoje como expressão artística de amor, resistência e desabafo | Foto: Reprodução

Postado em: 27-03-2021 às 10h57
Por: Raphael Bezerra
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O grafite deixou o estereótipo marginal e é visto hoje como expressão artística de amor, resistência e desabafo | Foto: Reprodução

Lanna Oliveira

A cultura hip hop foi segregada durante muito tempo, mas com a expansão da informação e de conhecimento, esse pensamento tornou-se retrógrado. Um viés importante desta cultura é o grafite, e hoje, 27 de março, comemora-se o Dia Mundial do Grafite, arte esta que era considerada como vandalismo. Hoje, os desenhos são vistos como dignos exemplares de arte urbana, o grafite ocupa o espaço das ruas e atinge democraticamente todos causando admiração, repulsa ou indiferença.

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Chama-se de grafite inscrições ou desenhos rabiscados à mão sobre qualquer elemento que esteja na via pública. Em resumo, os grafiteiros pretendem intervir na cidade, aplicando a sua linguagem em espaços públicos. O objetivo é, principalmente, tecer uma crítica social. O trabalho que os grafiteiros produzem vive na dualidade entre a poluição visual e a obra artística. Norman Mailler, um consagrado escritor norte-americano, definiu o grafite como “uma rebelião tribal contra a opressora civilização industrial”.

Entre muros, galerias de arte e museus, os artistas expõem seus trabalhos que envolvem crítica social, natureza, universo feminino, violência doméstica, política, caos e arte abstrata. Seguindo seus próprios estilos, os grafiteiros conseguem ainda desenvolver um papel importante dentro do cenário político e econômico, revelando suas insatisfações e anseios por meio da arte, mesmo que inseridas num conceito lúdico, o mesmo que nos transporta para longe dos problemas cotidianos.

Colorindo o Brasil

No Brasil, esta modalidade de arte urbana apareceu no fim da década de 1970, em São Paulo, com a missão de transformar vidas, tanto para quem cria, quanto pela ressignificação dos espaços. Por trás da criatividade e vontade de colorir a cidade, grafiteiros carregam o dever de discutir problemas sociais em forma de arte. O grafite costuma ser dividido em dois grupos: spray art, promovida com o uso de spray; e o stencil art, feita a partir de um cartão com formas recortadas que recebem o spray de tinta. 

Nomes importantes consolidaram os brasileiros nessa cultura artística, alguns deles são o Kobra, os Gêmeos e o Cranio. Nascido na periferia de São Paulo, Eduardo Kobra é um dos maiores artistas de rua do país já tendo realizado mais de 550 obras no Brasil e em outros 17 países. Uma de suas obras mais famosas foi ‘O Beijo’, produzido em junho de 2012, em Manhattan, na região de Chelsea. A obra fazia uma releitura da fotografia tirada pelo jornalista norte-americano Alfred Eisenstaedt que registrava a alegria do povo nas ruas com o fim da segunda guerra mundial.

Autores de importantes grafites, os Gêmeos, Gustavo e Otávio Pandolfo, saíram de São Paulo para atuar em várias plataformas, como pintura e escultura, mas o grafite é que foi o grande responsável por seus maiores sucessos. É possível conferir obras da dupla em países como Espanha, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. Fabio de Oliveira Parnaiba, conhecido no mundo das artes como Cranio, também de São Paulo, tem uma pegada de forte crítica social e política e o personagem escolhido para protagonizar os seus murais foi o índio. 

Iniciativas para homenagear a arte

O desafio Ultimate Artist, por meio de uma votação popular, acaba de escolher a grafiteira Kelly Reis para representar sua categoria na websérie promovida pelo evento. Esta iniciativa foi pensada para revelar e lançar novos artistas brasileiros de várias vertentes. Kelly se diz surpresa com a visibilidade que o projeto trouxe para sua categoria. “O grafite ainda é uma arte marginalizada, mas o Ultimate Artist o colocou no mesmo patamar das outras linguagens com muito respeito. Foi fantástico”, comenta. 

O Nubank também entra nas comemorações com uma série de intervenções artísticas de grafiteiros brasileiros em seu logo. Para iniciar as homenagens em torno da data, o primeiro artista a fazer a releitura do logo é Negritoo (@ngritoo). Nas próximas semanas, Kelly Reis (@kelly.reis_art), Fernando Berg (@obergw) e Mari Mats (@mari_mats) terão os seus trabalhos criativos publicados no perfil do Instagram @nubank ao longo das próximas semanas. Todos eles receberam apenas uma orientação para as artes: incluir a cor roxo.

Frases de amor, resistência e desabafo acompanham os desenhos durante a trajetória destes artistas. As ruas são as principais testemunhas dos traços de um exército de grafiteiros. Eles seguem de forma independente com sprays, pincéis e tintas reproduzindo ideias e formas, alimentando uma arte que cresce e surpreende o público não somente pela maneira autêntica como complementa a arquitetura urbana, mas também pela forma como ressignifica as áreas de vulnerabilidade social da cidade.

(Lanna Oliveira é estagiária do jornal O Hoje) 


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