Hortênsia Mancini: conheça a duquesa que tornou o Champagne a bebida da nobreza e das celebrações

Apesar de sua história triste, a duquesa italiana foi uma das pessoas com extrema influência na sociedade inglesa

Postado em: 05-07-2023 às 14h58
Por: Cecília Epifânio
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Hortênsia Mancini: conheça a duquesa que tornou o Champagne a bebida da nobreza e das celebrações | Foto: Reprodução/ pintura de Godfrey Kneller

A história de Hortênsia Mancini poderia ter sido muito trágica, mas acabou a transformando em uma pessoa de extrema influência na sociedade inglesa do século 17. O fato de uma duquesa italiana fugitiva que chegou a ser amante do rei e manteve um dos salões mais bem frequentados da corte inglesa é um enredo bastante curioso.

Hostência nasceu em 1646, em Roma, e veio de uma nobre família italiana. Qundo era pequena, seu pai morreu e a mãe enviou as filhas para a França, para poderem morar com um tio que, coincidentemente, era o primeiro-ministro do rei Luís XIV, o cardeal Jules Mazarin.

Com o passar dos tempos, ela e as irmãs se tornaram figuras importantes na corte francesa (graças ao status do tio) e o rei Carlos II da Inglaterra e o duque de Saboia, Carlos Emanuek II, chegaram a pedir a mão da jovem moça em casamento. Mas, aos 15 anos, Hortênsia, duquesa de Marazin, se casou com Armand Charles de La Porte de La Meilleraye, que na época era considerado o homem mais rico de toda a França.

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A fuga

No dia 13 de junho de 1668, com a ajuda de seu irmão, Philippe, Duc de Nevers, que comprou cavalos e uma escolta – e também algumas servas -, Hortênsia e suas comparsas se vestiram de homem para enganar os guardas. Dessa forma ela conseguiu fugir para Paris e de lá para Roma, onde tentou se refugiar com a irmã, Maria Mancini, a então Princesa de Colonna.

Logo em seguida, o rei Luís XIV se declarou como protetor de Hortênsia e passou a conceder uma pensal anual de 24 mil libras. Sem poder retornar para a França. ela ficou sete anos zanzando pela Europa e recebeu o apelido de “a duquesa fugitiva”.

O duque de Saboia, seu ex-pretendente, também se delcarou como seu protetor e, em 1672, Hortênsia foi para Chambéry, em Saboia,  e estabeleceu sua casa como um ponto de encontro de autores, filósofos e artistas. Na época, ela também começou a escrever suas memórias.

Celebridade

Em um livro, Hortênsia conta toda sua vida e os abusos cometidos pelo marido. Quando o mesmo foi publicado, a obra logo foi publicada em francês, inglês, alemão e italiano, pois todo o continente europeu estava interessado em sua história – que até então era contada de modo enviesado pelos tabloides da época.

Após a morte do duque de Saboia, diz-se que Hortênsia foi expulsa de casa pela viúva, Marie Jeanne Baptiste de Savoy-Nemours. Em 1675 ela recebeu asilo da Inglaterra, graças a sua fama de celebridade (conquistado graças a seu livro revelador) e ao título de “duquesa fugitiva”. Ela chegou ao país em 1676 e logo conseguiu hospedagem nos ditos “salões”.

No século 17 eram poucos os lugares em que mulheres nobres poderiam se encontrar para discutir sobre os mais variados assunto – sendo eles fúteis ou não. O salão de Hortênsia Mancini, localizado ao lado do Palácio de St. James, foi um deles. Ela se tornou a amante de Carlos II e criou uma espécie de espaço “submersivo” em Londres, onde, de acordo com a historiadora da Universidade de Cambridge, Annalisa Nicholson, as amantes reais poderiam se encontrar, jogar, beber Champagne e discutir sobre ciência e literatural – igual os homens da época.

“Ela criou o salão mais famoso da Europa no final do século XVII. Abriu um espaço em Londres para mulheres, principalmente, para aprender sobre novas ideias, ouvir palestras científicas, falar sobre a literatura mais recente e se envolver em uma cultura de museu, onde você pode lidar com todos os tipos de objetos e animais exóticos”, diz Annalisa.

A bebida

Foi em seu salão que o Champagne foi introdusido na sociedade inglesa. Outro exilado francês, Charles de Saint-Évremond, foi quem apresentou Hortênsia ao delicioso e prazeroso sabor da bebida.

Dessa forma, ela e outros exilados franceses em Londres passaram a importar a bebida. “Em seu salão, todo mundo está com uma taça de Champagne em mãos. E assim a bebida se entrelaçou com a socialização aristocrática”, aponta Annalisa.

Outras amantes reais, como Nell Gwyn, Barbara Villiers e Louise de Kéroualle eram frequentadoras do slão. Até Carlos II e seu irmão, o futuro rei Jaime II, participavam dos encontros. Foi assim que as festas de Hortênsia Mancini ligaram Champagne às celebrações; e obviamente outras pessoas passaram a imitar esse comportamento.

“Ela não é apenas uma amante de Carlos II, ela é uma anfitriã de uma instituição cultural vital daquele período de Londres. Para as mulheres, lugares como o salão de Mancini são os únicos espaços em que podem conversar sobre diversos assuntos da sociedade, sejam políticos, científicos, literários etc.”, conta Annalisa. Dessa forma, esse lugar da capital inglesa que ajudou a moldar a fama de Champagne como bebida de luxo e celebrações que tem até hoje.

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