Camundongo transparente pode auxiliar nos testes de drogas contra o câncer

Tudo no camundongo - nervos, órgãos e tecidos - ficam invisíveis após processos químicos

Postado em: 11-07-2023 às 15h43
Por: Cecília Epifânio
Imagem Ilustrando a Notícia: Camundongo transparente pode auxiliar nos testes de drogas contra o câncer
Camundongo transparente pode auxiliar nos testes de drogas contra o câncer | Foto: Divulgação/ Helmhotz Munich

Um novo método que consiste na examinação de camundongos transparentes (e mortos) pode trazer melhorias para os testes de novas drogas contra o câncer, uma vez que a novidade poderá permitir encontrar tumores que eram pequenos demais para serem detectados.

O professor do centro de pesquisas Helmholtz Munich, na Alemanha, Ali Ertür descobriu em 2018 como deixar um camundongo transparente. De lá para cá, tal método foi aperfeiçoado e detalhado em um artigo publicado nesta segunda-feira (10/7) na revista científica Nature Biotechnology.

A criação desse camundongo transparente consiste em remover todas as gorduras e pigmentos de seu cadáver, através de processos químicos. A cobaia acaba parecendo um brinquedo de plástico transparente e flexível.

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Também são utilizados produtos químicos para ressaltar tecidos específicos que, com esse novo método, podem ser observados através do microscópios e exames de imagens detalhadas.

Em uma das primeiras aplicações, a equipe detectou tumores cancerígenos nos estágios iniciais de formação.

“Exames de ressonância magnética e de tomografia mostrariam apenas grandes tumores. Os nossos mostram tumores em uma única célula, o que esses exames de jeito nenhum conseguem”, aponta Ertürk.

“Os medicamentos atuais prolongam a vida por alguns anos e depois o câncer volta. Isso ocorre porque o processo de desenvolvimento [dos tratamentos] nunca incluiu a eliminação desses pequenos tumores, que nunca foram visíveis.”

Ali Ertürk segurando rato transparente com pinça em laboratório
Foto: Divulgação/ Helmhotz Munich

Em geral, os medicamentos são testados primeiramente em camundongos, e os efeitos de cada tratamento são acompanhados através de exames de imagem convencionais.

Nesse métodos criado por Ertürk, somente camundongos mortos podem ser analisados – e apenas algumas cobais precisam ficar transparentes.

A equipe também tem armazenado imagens em 3D do formato das cobaias. Desta maneira, os pesquisadores que precisarem analisar diferentes partes do animal, ou quiserem realizar novos experimentos, terão acesso a uma biblioteca com imagens produzidas anteriormente – no lugar de usar um novo camundongo.

O professor acredita que essa técnica poderá reduzir em dez vezes o uso de animais de laboratórios.

A Cancer Research UK, uma entidade dedicada em realizar pesquisas sobre câncer no Reino Unido, afirmou que essa nova técnica tem “muito potencial”.

Rupal Mistry, gerente de informações de pesquisa da entidade, explicou o entusiasmo.

“Embora os pesquisadores só possam usar a técnica para examinar corpos de camundongos mortos, ela pode nos dizer muito sobre como o câncer se desenvolve nos estágios iniciais da doença. Ser capaz de visualizar tumores no corpo todo dará também aos pesquisadores uma maior compreensão do impacto de diferentes medicamentos e tratamentos”, afirma Mistry.

Atualmente o método é utilizado e testado contra o câncer, mas acredita-se que logo mais ele epoderá ser utilizado para estudos de outras doenças, permitindo que os pesquisadores vejam coisas jamais vistas.

Estudos com camundongos costumam ser o ponto de partida para aprender sobre os processos no nosso corpo, mas a nova técnica também poderá ser utilizada em outros animais.

Eventualmente o processo pode ser aplicado em seres humanos, tornando nossos tecidos e órgãos transparentes —, mas isso é improvável, porque não parece haver avanços em pesquisas médicas possíveis nesse estágio de um corpo humano já formado.

Dois exames de imagens de cobaias
Foto: Ali Ertürk/ Nature Biotechnology

A biomédica do Instituto Wellcome Snger, no Reino Unido, Nana-Jane Chipampe disse estar entusiasmada com a perspectiva da nova técnica para estudar as células em desenvolvimento no corpo humano.

“[O método] Tem o potencial de identificar novas células, tecidos e doenças que realmente nos ajudarão a entender o desenvolvimento de doenças.”

A líder de sua equipe, a médica e professora Muzlifah Haniffa, está produzindo um atlas online de todas as células do corpo humano. Haniffa diz que a técnica de digitalização desenvolvida pela equipe de Ertürk será útil para todos os tipos de pesquisa médica.

“Sem dúvida, vai acelerar o ritmo das pesquisas médicas”, diz a médica. “Combinar essas tecnologias de ponta e construir o atlas das células humanas sem dúvida revolucionará completamente a medicina.”

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