Arquitetura Hostil: quando o design urbano prejudica a população

Esse termo se popularizou em meados de 2014 após uma publicação no jornal britânico The Guardian

Postado em: 21-08-2023 às 16h42
Por: Cecília Epifânio
Imagem Ilustrando a Notícia: Arquitetura Hostil: quando o design urbano prejudica a população
Pinos colocados em peitoris de lojas e bancos | Foto: Outras Palavras

Arquitetura hostil é um conceito que define elementos urbanos criados para evitar a utilização de espaços públicos e segregar indivíduos, principalmente as que vivem em situação de rua. Bancos com divisórias, pedras colocadas sob viadutos e estacas de ferro em fachadas de estabelecimentos são alguns dos exemplos dessa arquitetura.

Esse termo se popularizou em meados de 2014 após uma publicação no jornal britânico The Guardian. Mas a arquitetura hostil, ou como é chamada por ai, arquitetura anti-mendigo, ganhou muita força nas grandes cidades a partir da década de 90.

Ela nasceu a partir de uma visão subentendida de que apenas somos cidadãos quando estamos trabalhando ou consumido algo. Por exemplo, ficar sentado em um shopping é uma atividade fácil e tranquila, enquanto encontrar assentos confortáveis na rua é bem difícil.

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Quer saber mais sobre o assunto? Vamos explicar com detalhes o que é arquitetura hostil.

O que é?

O conceito de arquitetura hostil define os elementos urbanos criados para evitar o uso público de determinados espaços  e segregar indivíduos, especialmente pessoas em situação de rua. Bancos com divisórias, pedras colocadas sob viadutos e estacas de ferro na fachada de estabelecimentos são alguns exemplos.

Isso se trata de um imenso problema, além de discriminar pessoas em situação de rua, também impede que as cidades sejam ocupadas. Com esse tipo de arquitetura, o acesso da população a atividades simples do dia a dia, como sentar em um banquinho confortável na praça, se tornem impossíveis.

Acredite ou não, mas os pássaros também sofrem com a arquitetura hostil, já que o aumento de objetos pontiagudos em superfícies urbanas impede que os animais pousem.

Exemplos de arquitetura hostil

A arquitetura hostil se manifesta de várias formas nas cidades, seja no mobiliário urbano, na fachada de estabelecimentos, em prédios, embaixo de viadutos, entre outros locais. Confira alguns exemplos:

  • cercas elétricas
  • arames farpados
  • grades no perímetro de praças e gramados
  • bancos públicos com larguras inferiores ao recomendado pelas normas de ergonomia
  • bancos curvados
  • bancos com formas geométricas irregulares
  • lanças em muretas
  • guarda-corpos
  • traves metálicas em portas de comércios
  • pedras em áreas livres
  • gotejamento de águas em intervalos estabelecidos sob marquises

Arquitetura hostil no Brasil

As grandes cidades brasileiras enfrentam o problema do aumento desse tipo de arquitetura. Um dos casos mais recentes aconteceu em São Paulo, quando a prefeitura instalou pedras embaixo de um viaduto na Zona Leste da capital.

Após a repercussão negativa, as pedras fora retiradas do local. Mas esse foi apenas um dos exemplos do que vem acontecendo há muito tempo.

Padre Julio Lancelotti usa uma marreta para tirar pedras colocadas em baixo de viaduto
Padre Julio Lancelotti ajudando na remoção das pedras colocada embaixo de viaduto | Foto: Twitter/@pejulio

Em 1994, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma matéria com o título “Cidade cria arquitetura antimendigo” e já mostrava exemplos da hostilidade da arquitetura presentes na capital paulista, como prédios sem marquises, óleo queimado na enrada das lojas e chiveiros que molham o chão durante toda a noite.

Nos anos seguintes, várias ações de prefeituras e estabelecimentos privados continuaram contribuindo para o aumento da arquitetura hostil.

Confira mais exemplos abaixo:

Qual o problema da arquitetura hostil?

Pessoas em situação de rua são a parcela da população mais impactada pela arquitetura hostil.

Segundo levantamento realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a população em situação de rua superou as 281 mil pessoas que viviam nessa situação no ano de 2022. Um aumento de 38% desde 2019, após a pandemias de covid-19. Somente na cidade de São Paulo são 53.188 pessoas, segundo dados do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).

Homem em situação de rua dormindo em papelão na porta de um edifícil comercial Foto: iStock

A arquitetura hostil faz com que pessoas em situação de rua precisem se deslocar cada vez mais para encontrar lugares para dormir. Claramente, impedir a presença deles não acaba com o problema, e sim traz um “embelezamento” para determinadas regiões.

Outra consequência da arquitetura hostil é que os moradores da cidade acabam privilegiando o lazer em locais fechados como shoppings. Atividades ao ar livre com andar de bicicleta, skate ou simplesmente o ato de sentar na rua para conversar com alguém são prejudicadas pela arquitetura hostil.

Além disso, a arquitetura hostil torna o espaço urbano feio e agressivo, descaracterizando as grandes cidades. A arquitetura hostil é uma das formas mais cruel de excluir pessoas em situação de rua e torna as cidades menos habitáveis e acolhedoras.

Arquitetura hostil: barras de ferro fixadas no canto impede que as pessoas encostem (foto: Interesting Engineering)
Barras de ferro fixadas no canto impede que as pessoas encostem | Foto: Interesting Engineering

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