Alta do real pode frustrar expectativa de melhora na economia daqui em diante

Há riscos de recaída caso a equipe econômica interina persista em sua política de (re)valorização do real diante do dólar

Postado em: 19-07-2016 às 10h00
Por: Redação
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Há riscos de recaída caso a equipe econômica interina persista em sua política de (re)valorização do real diante do dólar

Lauro Veiga Filho/Especial para O Hoje

Os números apresentados pela atividade econômica no segundo
trimestre têm permitido interpretações divergentes em relação ao momento atual
atravessado pela economia, mas reforçam a perspectiva de uma estagnação, com
riscos de recaída mais adiante caso a equipe econômica interina persista em sua
política de (re)valorização do real diante do dólar. A desvalorização da moeda
brasileira vinha impulsionando os volumes embarcados pelo setor manufatureiro,
ajudando a injetar algum ânimo nesta área. A confirmação de um novo ciclo de
queda do dólar, como parece ser a opção da nova equipe, pode frustrar a
perspectiva de melhora para a economia nos próximos meses.

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De uma forma ou de outra, os dados mais recentes misturam
boas e más notícias, na visão de Igor Velecico, economista do Departamento de
Pesquisas e Estudos Econômicos do Brasdesco, sugerindo, de um lado, que o
“fundo do poço” (da atividade econômica) teria ficado para trás, mas indicando,
num viés mais negativo, que uma ligeira piora no comportamento da economia no
acumulado entre abril e junho.

Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi), “mês de maio não trouxe bons resultados para nenhum dos
grandes setores da economia”, apontando que ainda é muito cedo para se falar em
uma recuperação. “O momento pelo qual a economia passa ainda é bastante
delicado e novas rodadas de deterioração não estão descartadas, se não em todos
talvez em alguns setores”, reforça o instituto.

Na análise de Velecico, indicadores “mais cíclicos” parecem
sugerir uma leitura mais animadora, a exemplo das pesquisas que medem a
confiança da indústria, dados sobre importação e produção de bens de capital,
evolução dos emplacamentos de veículos e, não menos relevante, a geração de
empregos no mercado formal de trabalho.

Ainda conforme o economista do Depec, o número de veículos
emplacados manteve-se nos mesmos níveis ao longo dos seis meses do primeiro
semestre, enquanto dados preliminares apontam avanço de 5% em julho na
comparação com o mês imediatamente anterior. “O mesmo vale para a importação de
bens intermediários, estáveis desde agosto do ano passado, e que começaram a
apresentar uma tendência altista nos últimos três meses”, reforça Velecico em
relatório recentemente divulgado pelo banco.

Menos demissões

No mercado de trabalho formal, prossegue ele, registra-se
“redução sensível do número de demissões”, tendência que pode “se intensificar
ao longo dos próximos meses”. No início do ano, os números do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged) permitiam projetar uma elevação de cinco
pontos percentuais na taxa de desemprego ao longo dos 12 meses seguintes. “Os
dados de maio mostram que esse indicador já desacelerou para algo próximo a 3%,
e esperamosinclusive que diminua para próximo de 1% no segundo semestre”,
adianta Velecico.

Balanço

Aliás, Velecico considera que o ajuste no mercado de
trabalho “tem sido mais saudável do ponto de vista macroeconômico”, o que
poderá levar as empresas a reduzirem o ritmo das demissões.

A razão entre os salários dos admitidos e dos desligados
atingiu o menor nível desde 2009, quando representava 86,9% (ou seja, os
salários dos empregados “recontratados” eram então 13,1% mais baixos do que os
pagos aos funcionários demitidos).

O indicador permite duas leituras não necessariamente
excludentes. Numa primeira hipótese, aventada por Velecico, pode estar
ocorrendo uma troca de empregados mais qualificados por mão de obra menos
preparada (“ou mais dispendiosa por menos dispendiosa”, complementa ele).

Outra possibilidade, que não exclui a primeira, é que os
trabalhadores, diante das pressões exercidas pelo desemprego elevado, passaram
a aceitar salários mais baixos para conseguir nova colocação.

“É importante salientar que, do ponto de vista
macroeconômico, um ajuste para baixo dos salários é preferível a um ajuste para
baixo do emprego”, sustenta Velecico. Uma redução de 1% na massa de salários,
se baseada apenas na quantidade de empregos, exigiria o fechamento de 400 mil
empregos formais.

A redução da massa via corte nos salários teria assim
consequências menos dramáticas para as famílias de trabalhadores e efeitos
comparativamente menos intensos sobre a atividade.

No lado mais negativo, entre abril e maio, a produção da
indústria de manufaturas caiu 0,6%, com baixa de 1% para as vendas e recuo de
0,1% no setor de serviços, lembra o Iedi.

O tropeço na área de serviços levou o Depec a revisar sua
previsão para o PIB do segundo trimestre, de estável para recuo de 0,3%. 

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