Banco Central deve iniciar testes com o Real Digital já em 2022

A futura moeda deve facilitar a integração entre consumidores e tecnologias emergentes, como a Internet das Coisas e a conexão móvel 5G

Postado em: 11-12-2021 às 15h00
Por: Ícaro Gonçalves
Imagem Ilustrando a Notícia: Banco Central deve iniciar testes com o Real Digital já em 2022
A futura moeda deve facilitar a integração entre consumidores e tecnologias emergentes, como a Internet das Coisas e a conexão móvel 5G | Foto: Reprodução

A proposta do Real Digital, moeda brasileira virtual que deve entrar em circulação nos próximos anos, foi anunciada pelo Banco Central (BC) em maio deste ano e já vem dando os primeiros passos rumo a sua concretização. No dia 30 de novembro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou a criação de um laboratório de trabalho chamado Lift Challenge – Real Digital para avaliar possibilidades de uso e execução de projetos com a moeda. Segundo Roberto Campos, o projeto reunirá bancos, instituições de pagamento, fintechs e empresas de tecnologia com interesse em desenvolver o Real Digital.

A ideia da moeda surgiu após o sucesso do Pix, que até o fim de novembro já possuía mais de 115 milhões de usuários, e do desenvolvimento das tecnologias de blockchain, por traz de criptomoedas como o Bitcoin. Embora possa demorar até a novidade entrar de vez no cotidiano dos brasileiros, o Real Digital pode ganhar uma versão preliminar já em 2022, com o início de testes com grupos financeiros específicos até o fim do próximo ano.

Para seu desenvolvimento, o Banco Central definiu diretrizes que visam dar segurança às futuras transações, proteção contra ataques cibernéticos e meios de fomentar negócios inovadores e eficientes nos setores econômicos variados. Entre as características da futura moeda esta a possibilidade de usá-la tanto de forma online, integrada aos atuais e futuros sistemas de pagamentos, quanto offline, análogo a quando se faz um pagamento com real físico em um estabelecimento sem conexão com a internet.

Continua após a publicidade

Transações digitais

Como explica o professor de economia e administração Luiz Carlos Ongaratto, o Real Digital não será um substituto do dinheiro físico ou do Pix, mas antes, será uma solução para modernizar o sistema financeiro nacional. “Ele vem para se adequar a uma nova forma de interagirmos com a internet e com as transações digitais, como uma solução para encurtamento de caminhos e diminuição de custos de transação. Por exemplo, quando contratamos uma TV por assinatura, seu pagamento é intermediado por um cartão de crédito de uma instituição financeira, que por sua vez é vinculado ao real físico. Com o Real Digital, as transações serão diretas, sem necessidade de intermediação, trazendo maior economia para a sociedade como um todo”, afirmou Luiz.

A futura moeda também deverá facilitar a integração de tecnologias emergentes, como a Internet das Coisas e a conexão móvel 5G. Ainda não se sabe qual método de segurança será usado para dar vida ao Real Digital, mas o blockchain deve ser o caminho mais provável. Mesmo que utilize as mesmas técnicas de rastreamento e registro digital que o Bitcoin, o Banco Central ressalta que o Real Digital não será uma criptomoeda. Isso porque criptomoedas são ativos privados, com características de investimento de alto risco, e não são reguladas. Já o Real Digital deve ser um CBDC (Central Bank Digital Currency), ou seja, uma moeda regulada e emitida pela autoridade monetária nacional.

“O Banco Central coordena o sistema financeiro nacional. Ele tem muito mais segurança e credibilidade do que qualquer criptomoeda, pois possui sistemas mais antigos e mais consolidados. Então não será desafio nenhum para o Banco Central criar o Real Digital. As partes complexas serão os testes, o tempo de desenvolvimento e saber exatamente em quais meios a moeda será utilizada”, reforçou Luiz Ongaratto em entrevista ao O Hoje.

Tendência no mundo

Dados da plataforma Atlantic Council apontam que pelo menos 90 países planejam desenvolver moedas digitais, ou CBDC’s, nos próximos anos. Entre eles, há pelo menos sete projetos já lançados, enquanto 15 estão em desenvolvimento e outros 39 em fase de pesquisas. No momento, a CBDC em estágio mais avançado é a da China, chamada de iuan digital. Mais de 20 milhões de cidadãos chineses já possuem carteiras digitais emitidas pelo Banco Popular da China e podem fazer transações com a moeda, em um processo semelhante ao que acontece nos apps bancários.

O governo chinês optou por construir uma rede blockchain privada para gerenciar o iuan digital. A expectativa é que ela chegue a toda a população nos próximos anos.

Nos EUA, o Federal Reserve – “Banco Central” norte-americano – ainda discute se deve ou não criar uma CBDC. Em outubro, a instituição publicou relatórios sobre a viabilidade do sistema financeiro americano para a emissão de uma moeda digital regulada, além de uma pesquisa sobre a tecnologia que poderia sustentar o dólar digital e seu respectivo programa de código aberto.

Na União Europeia, já houve consultas públicas sobre o assunto e o Banco Central Europeu (BCE) planeja criar o euro digital. A fase de estudos de projetos foi lançada em julho deste ano e deve durar 24 meses. Além de investigar questões relacionadas à conceção e a distribuição do euro digital, os estudos devem identificar as alterações necessárias no quadro legislativo da União Europeia para recepcionar uma moeda virtual.

Veja Também