Mundo segura juros e tenta reanimar a economia. Aqui, querem aumentar juros

Lauro Veiga

Postado em: 10-03-2019 às 19h50
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

A
economia mundial entrou em desaceleração desde os meses finais do ano passado e
os sinais captados por instituições como a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), Banco Central Europeu (BCE) e Federal Reserve
(o banco central dos Estados Unidos) indicam que a atividade econômica no lado
mais desenvolvido do planeta tende a crescer menos do que se esperava e em
velocidade mais baixa do que o ritmo que vinha sendo mantido até então. Também
as maiores economias da Ásia tendem a apresentar desempenho mais fraco, a
exemplo do Japão e da China, que passou a trabalhar com previsão de crescimento
entre 6% e 6,5% para este ano depois de já ter enfrentado um desaquecimento em
2018, quando avançou 6,6%.

Na
chamada Zona do Euro, que engloba 19 países europeus, a taxa de crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) saiu de 2,4% em 2017 para 1,8% no ano seguinte e
parece caminhar para uma variação de 1,0% (na previsão da OCDE) a 1,1% (na
aposta do BCE) neste ano. O ritmo acentuado do desaquecimento colhido pela
região levou o BCE a anunciar a retomada da oferta de dinheiro barato para os
bancos, como forma de estimular a contratação de crédito pelas famílias e pelas
empresas e assim injetar algum ânimo na economia.

Na
mesma linha, antecipou que não deverá mexer nas taxas básicas de juros, hoje
muito próximas de zero, até o final do ano. Em seu comunicado mais recente, o
BCE havia assumido a possibilidade de preservar o nível atual dos juros até por
volta do verão europeu, o que levou os mercados a apostarem numa revisão das
taxas por volta de setembro – perspectiva afastada na semana que passou pelo
presidente do BCE, Mário Draghi, num comunicado que parece ter pego analistas e
os mercados de surpresa. Nos EUA, o Federal Reserve (FED) já havia comunicado
que não mais mexeria nas taxas pelo menos até o final de 2019, sempre lembrando
que os juros por lá permanecem em níveis historicamente baixos a despeito das
altas recentes.

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Contramão

Comentaristas,
analistas e consultores mais conservadores têm identificado nesses sinais uma
justificativa a mais para que o Banco Central do Brasil (BC) não apenas segure
os juros nos níveis atuais, mas volte a aumentar os juros básicos mais à
frente. Na versão desses setores, a desaceleração global, acrescida das medidas
compensatórias adotadas pelos bancos centrais instalados no centro do
capitalismo mundial para tentar estimular a atividade econômica, agravaria o
tal “balanço de riscos”, tornando a inflação mais volátil por aqui e sujeita a
novas altas, especialmente em função de novas ondas de desvalorização do real
frente a moedas estrangeiras. A visão, no entanto, está longe de ser unânime e
parece caminhar na contramão das evidências fornecidas pelo lado real da
economia aqui dentro.

Balanço

·  
Cabe
recordar o que ocorreu ao longo de 2018, principalmente na fase da campanha
eleitoral e durante a insegurança causada pela paralisação dos caminhões.
Apesar da escalada do dólar, a inflação manteve-se acomodada, depois de
experimentar algum avanço mais acelerado entre maio e junho.

·  
A
alta dos preços em função de desabastecimento momentâneo provocado pela greve
dos caminheiros foi rapidamente absorvida pelas taxas de inflação, que na
sequência retomaram níveis mais baixos. Entre outros motivos porque a economia
continuava a enfrentar níveis de ociosidade elevados, com desemprego na faixa
de 12% e muita folga no setor industrial.

·  
Na
média do ano passado, as indústrias utilizaram apenas 77,6% de sua capacidade,
de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), níveis muito próximos
daqueles observados em 2017 (77,4%) e pouco acima daquele de 2016 (77,1%).
Comparado a 2013, quando o percentual de utilização das fábricas instaladas no
País havia sido de 82,5%, persiste uma redução de 4,9 pontos de porcentagem.

·  
Os
dados sugerem que há muito espaço para que a economia cresça de forma mais
vigorosa sem pressionar os preços. Mas a atividade continua a patinar, 12 meses
depois de o BC ter encerrado o ciclo mais recente de cortes nos juros básicos.

·  
Parece
já ter decorrido tempo suficiente para que os efeitos diretos e indiretos do
“afrouxamento” dos juros tenham se manifestado na economia real. A
desaceleração global, que deve levar a um desaquecimento também do comércio,
tende a manter ou agravar a falta de dinamismo da economia brasileira, o que
reforçaria a necessidade de novos cortes nos juros. 

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