Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Economia perdeu um quarto dos investimentos em sete anos

Pesquisa apontou que os investimentos no Brasil terão ainda que cumprir uma longa trajetória para retomar níveis anteriores às crises de 2015/16 - Foto: Reprodução

Postado em: 04-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Economia perdeu um quarto dos investimentos em sete anos
Pesquisa apontou que os investimentos no Brasil terão ainda que cumprir uma longa trajetória para retomar níveis anteriores às crises de 2015/16 - Foto: Reprodução

Lauro Veiga Filho  

Estudos
divulgados ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reforçam
que a redução do auxílio emergencial terá impactos muito mais severos sobre as
famílias e regiões mais pobres e mostram que os investimentos no Brasil terão
ainda que cumprir uma longa trajetória para retomar níveis anteriores às crises
de 2015/16 e a deste ano, gerada, como se sabe, pela pandemia de Covid-19. Uma
das constatações possíveis sugere que o investimento chegou a cair fortemente a
partir de outubro do ano passado, antes da pandemia, muito obviamente, e antes de
mergulhar de vez em abril, com a paralisação virtual da atividade econômica
trazida pelas medidas de afastamento social até ali em vigor.

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O
instituto calcula mensalmente o seu indicador de investimentos (em economês
“puro”, o Indicador Ipea da Formação Bruta de Capital Fixo, um palavrão que
contempla os investimentos das empresas em máquinas, equipamentos, galpões e
novas instalações, programas de comutador e obras civis, entre outros). Em
outubro do ano passado, o indicador havia alcançado 161,30 pontos, esboçando um
avanço de 2,1% desde igual período de 2018. Em fevereiro deste ano, o indicador
já havia desabado para 144,31 pontos, apontando um tombo de 10,5% em quatro
meses, e chegou ao fundo do poço em abril ao atingir 97,44 pontos. Desde
janeiro, o estudo do Ipea estima uma retração de 35,5%.

Mas
entre abril e agosto, dado mais recente projetado pelo instituto, o
investimento teria experimentado um salto de 59,4%. Por essa medição, o
indicador já estaria em torno de 2,8% acima dos níveis de janeiro. Mas convém
lembrar que o investimento vinha murchando antes da crise sanitária, apenas
para colocar as coisas em perspectiva. Comparado a agosto do ano passado,
persiste um recuo de 2,2% aproximadamente. O dado apontado pelo acompanhamento
mensal feito pelo Ipea mostra um quadro mais grave nesta área, pois, comparado
ao pico máximo do indicador, ocorrido em agosto de 2013, o investimento
continuava apontando retração de 25,2%. Em outros termos, comparado com o
período em que apresentou seu melhor desempenho, o investimento ainda estava um
quarto menor.

Reação
insuficiente

O
consumo aparente de máquinas e equipamentos, medida que inclui o maquinário
produzido no País e as importações nesta área, descontado o volume de máquinas
e equipamentos exportados pelo setor encolheu quase 20% entre janeiro e abril
deste ano (ou -55,0% na série com ajuste sazonal), mas chegou a dobrar dali até
agosto (salto de 102,0%). Ainda assim, na comparação com agosto de 2019,
registrava-se um retrocesso de 10,3%. Em relação a agosto de 2011, melhor
momento do setor, o tombo aproxima-se de 30,0%. A construção civil, componente
importante do investimento, chegou a encolher 20,2% entre fevereiro e abril e
saltou 48,0% até agosto. Esse desempenho levou o indicador da construção a
crescer, na aferição do Ipea, perto de 7,3% na comparação com agosto do ano
passado. A despeito desse comportamento, a construção acumulava perdas de 26,8%
desde outubro de 2013.

Balanço

·  
Trabalhando
com microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (PNAD)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ipea identificou
em setembro um impacto relativamente maior do auxílio emergencial sobre a renda
das famílias, sobretudo entre a mais pobres, na comparação com agosto.

·  
Naquele
mês, o pagamento do auxílio permitiu que as famílias pudessem superar em 41,0%
o total das perdas registradas para massa salarial para aqueles trabalhadores
que permaneceram ocupados. Em setembro, o auxílio foi 54,5% maior do que a
perda. Nessa equação, o instituto observa a diferença entre a massa de salários
habitualmente recebida pelo total de ocupados (em torno de R$ 193,80 bilhões em
setembro) e a massa efetivamente recebida (próxima de R$ 175,60 bilhões). Entre
os dois valores, uma diferença de R$ 18,2 bilhões.

·  
Essa
diferença havia sido de R$ 20,4 bilhões em agosto. Naquele mês, o valor do
auxílio recebido pelo total das famílias havia somado R$ 28,76 bilhões (quer
dizer, 41,0% maior). Mas o auxílio começou a ser reduzido em setembro e, na
média, o valor pago para as famílias recuou 2,12%, para R$ 28,15 bilhões.

·  
Naquele
mês, parte das famílias ainda recebeu os valores integrais (que variam, em
média, entre R$ 600 a R$ 1,2 mil, no caso de famílias chefiadas por mulheres).
A tendência, daqui em diante, é de uma redução mais intensa no valor do auxílio
e, portanto, também no impacto sobre a renda das famílias, o que tende a afetar
negativamente sua capacidade de consumo, já que o mercado de trabalho não tem
apresentado melhorias (pelo contrário, o desemprego continua avançando e o
total de ocupados ainda encolhe).

·  
Conforme
o Ipea, “o auxílio emergencial foi muito importante para os domicílios mais
pobres. Para as famílias de renda muito baixa, a massa de rendimentos do auxílio
emergencial (R$ 8,16 bilhões) foi quase três vezes superior à diferença entre a
massa salarial habitual e a efetiva (R$ 2,79 bilhões). Resultado semelhante foi
observado para os domicílios de renda baixa, e mesmo para as famílias de renda
média-baixa a massa do auxílio superou a diferença entre a massa efetiva e a
habitual em mais de R$ 4,0 bilhões”.

·  
Em
setembro, ainda de acordo com o estudo do Ipea, 5,98% (em torno de 4,1 milhões
de domicílios) das famílias sobreviveram apenas com a renda do auxílio
emergencial, muito próximo dos 6,2% anotados em agosto. A dependência é muito
mais relevante nos Estados do Nordeste, chegando a 13,3% dos domicílios que
receberam apenas o auxílio no Piauí, 12,8% no Maranhão, 12,7% na Bahia e 11,3%
no Ceará.

·  
O
Sul registrava as taxas de dependência mais baixas, variando de 1,56% em Santa
Catarina e 2,66% no Rio Grande do Sul. Goiás apresentava a maior relação no
Centro-Oeste, com 4,36% dos domicílios que receberam apenas o auxílio como
renda em setembro.

 

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