Com perda de fôlego no final do ano, indústria goiana pode ficar no vermelho

A indústria sofreu uma queda de 0,3% no acumulado entre julho e novembro de 2020, segundo o IBGE - Foto: Divulgação

Postado em: 14-01-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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A indústria sofreu uma queda de 0,3% no acumulado entre julho e novembro de 2020, segundo o IBGE - Foto: Divulgação

Lauro Veiga

A
falta crônica de demanda e as dificuldades de suprimento enfrentados por
setores relevantes desmancharam as expectativas de retomada da produção na
indústria goiana no segundo semestre de 2020. Depois de dois meses consecutivos
de perdas, numa queda acumulada de 6,9% em relação ao bimestre outubro-novembro
de 2019, os dados da pesquisa mensal da produção industrial regional do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram recuo de 0,3% no
acumulado entre julho e novembro de 2020 em relação aos mesmos cinco meses do
ano imediatamente anterior, saindo de um avanço já muito modesto de 1,1% na
primeira metade do ano passado – resultado influenciado pela pandemia do novo
corona vírus.

A
indústria goiana havia sido menos afetada do que o restante do setor no País ao
longo dos primeiros meses de pandemia, diante da forte participação do setor de
produção de alimentos, medicamentos e biocombustíveis. A produção naqueles
setores, no entanto, embicou para baixo nos últimos meses, aparentemente porque
suas cadeias produtivas sustentam uma relação mais próxima com os mercados
consumidores. Na comparação com o mês imediatamente anterior, a indústria
goiana registrou em novembro o terceiro mês de retrocesso, com baixa pelo
segundo mês consecutivo em novembro, agora na comparação com o mesmo período de
2019.

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Em
setembro, outubro e novembro, a produção baixou, pela ordem, 0,1%, 3,0% e 0,9%
comparada a cada um dos respectivos meses anteriores. Na verdade, o desempenho
não vinha sendo animador desde o começo do segundo semestre, com única variação
positiva registrada em agosto (mais 0,4% frente a julho, quando havia sofrido
recuo de 0,6% na comparação com junho). Comparada a idênticos períodos de 2019,
a produção cresceu cinco meses em sequência, entre maio e setembro, mas desabou
8,9% em outubro e 4,2% em novembro.

Desaquecimento
na reta final

Os
números mais negativos fizeram murchar os resultados colhidos em 2020. No
acumulado entre janeiro e agosto, frente aos mesmos oito meses de 2019, a
produção chegou a crescer 2,1%. Mas passou a avançar 0,8% no acumulado até
outubro, fechando os primeiros 11 meses do ano passado com ligeira alta de
0,4%. Lembrando que a produção havia recuado 3,5% em dezembro de 2019
(comparada ao último mês de 2018), o setor não deverá conseguir manter números
muito positivos em 2020, oscilando entre uma taxa muito próxima de zero e
alguma perda nas contas finais do ano passado. A nítida perda de ímpeto da
produção industrial soma-se ao desempenho titubeante do setor de serviços, que
acumulou perdas de 8,2% nos 11 meses iniciais de 2020.

Balanço

·  
A
produção de alimentos, que já havia recuado 0,5% em outubro, sofreu baixa de
0,6% no mês seguinte, sempre em relação aos mesmos meses de 2019. Mas as perdas
nos setores de produção de biocombustíveis e de medicamentos parecem ter sido
mais decisivas para o desempenho da indústria goiana como um todo em novembro
do ano passado.

·  
A
indústria reduziu a produção total de biocombustíveis (biodiesel e etanol) em
7,1% em novembro do ano passado, depois de um tombo de 15,0% em outubro (em
relação, respectivamente, a novembro e outubro de 2019). De acordo com as
estatísticas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP), a produção de etanol encolheu 16,8% em novembro, saindo de 2,468 bilhões
para 2,054 bilhões de litros.

·  
A
produção goiana de biodiesel, largamente baseada no óleo de soja, recuou 0,56%,
de 539,82 milhões para 536,81 milhões de litros, considerando os meses de
novembro de 2019 e de 2020.

·  
No
acumulado entre janeiro e novembro do ano passado, a produção de
biocombustíveis recuou 0,8% frente a igual período de 2019. Neste caso,
conforme dados da ANP, a queda ficou concentrada nas usinas de etanol, com a
produção baixando 7,5% (de 34,575 bilhões para 31,994 bilhões de litros). O
resultado refletiu a queda vertical no consumo de combustíveis a partir de
março, com a adoção pelos governos de medidas de afastamento social. A produção
de biodiesel, ao contrário, apresentou alta de 9,6% nos primeiros 11 meses de
2020, saindo de 5,379 bilhões para quase 5,897 bilhões de litros.

·  
O
setor farmoquímico e farmacêutico, que havia experimentado salto de 8,5% em
setembro, comparado ao mesmo mês de 2019, experimentou resultados muito
negativos nos dois meses seguintes, despencando 44,5% em outubro e 30,6% em
novembro. O estrago foi grande: no acumulado entre janeiro e setembro, a
produção do setor ainda crescia 7,1% diante de igual intervalo de 2019; nos 11
primeiros meses do ano passado, passou a acumular baixa de 1,8%.

·  
Como
setor de alimentos ainda registrava elevação de 3,6% no resultado acumulado
entre janeiro e novembro, a indústria de transformação em conjunto ainda
apresentava modesta variação de 0,6% (mas chegou a crescer 2,3% nos primeiros
nove meses de 2020). O estrago tem sido grande na incipiente indústria de
montagem de veículos instalada em Goiás. A produção, que havia desabado 37,6%
em setembro, caiu 8,8% em outubro, num resultado um tanto menos ruim,
consideradas as circunstâncias. Mas sofreu tombo de 15,6% em novembro, passando
a acumular perdas de 33,3% no ano.

·  
No
lado positivo, a produção de produtos metalúrgicos, adubos e fertilizantes e de
produtos minerais não metálicos (cimento e concreto, telhas e chapas de
fibrocimento) saltaram 22,0%, 12,2% e 8,6% em novembro. No ano, até novembro,
ainda na mesma ordem, aqueles setores acumulam altas de 3,2%, 2,9% e de 3,6%.

 

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