Goiás será representado pela Companhia Anthropos no Festival de Avignon

Espetáculo ‘Lições de Motim’, desembarcaram na França para uma temporada no Festival de Avignon

Postado em: 14-07-2022 às 09h15
Por: Lanna Oliveira
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Espetáculo ‘Lições de Motim’, desembarcaram na França para uma temporada no Festival de Avignon | Foto: Divulgação

Há quase 30 anos vivenciando os palcos teatrais ao redor do Brasil, a companhia goiana de teatro Anthropos deu mais um passo rumo ao sonho coletivo de ver Goiás em destaque nos melhores festivais do mundo. Com o espetáculo ‘Lições de Motim’, eles desembarcaram na França para uma temporada no Festival de Avignon, evento referência quando se fala de teatro. As apresentações seguem até o dia 30 de julho e em declaração ao Essência, o diretor Constantino Isidoro diz que essa experiência única com certeza os transformarão profissional e pessoalmente.

O sonho que se concretiza neste mês teve início ainda em 2010, quando o espetáculo ‘Lições de Motim’ foi idealizado em parceria com Hugo Zorzetti. Segundo o diretor Constantino Isidoro o texto e a montagem, apesar de trazer questões universais, embarca no intuito de valorizar as práticas indenitárias do nosso Estado. Tudo a partir das perspectivas do texto de um autor goiano, elenco e diretor também goianos. “O espetáculo traz na sua composição aspectos relativos ao nosso modo de encarar a vida e nossas regionalidades. Como nós da região centro-oeste enxergamos a vida”, diz.

‘Lições de Motim’ é a radiografia da revolta que se abriga no cidadão que já não acredita em justiça. Numa residência modesta de uma pensionista, o destino arma um ardil para um visitante odioso: um ladrão costumeiro, velho conhecido da pobre viúva. Uma presença sem cara, mas materializada nas perdas quase que diárias dos poucos e modestos bens que, como mágica, pulam o seu muro. Agora, ali, preso em uma janela, indefeso, humilhado, o marginal, antes sem cara, sofre com os estratagemas inteligentes e impiedosos da sua vítima. No limiar entre drama e comédia, o final pode ser bem diferente do imaginado ou esperado.

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Apoiado em um realismo, ‘Lições de Motim’ traz também pitadas de surrealismo, sendo percebido no próprio diálogo entre os personagens interpretados pelos atores Arilton Lopes e Renata Caetano. Combinação que tem conquistado os corações franceses, já que Arilton diz, diretamente de Avignon, que a primeira semana de apresentações foi bastante satisfatória. “Estamos todos contentes com a história linda que a Anthropos tem feito representando o Estado de Goiás aqui na Europa. A plateia curtiu demais nosso espetáculo, a receptividade nos deixou felizes com o resultado do trabalho desenvolvido”.

Parte de um momento único e marcante da história do teatro goiano, a Cia. Anthropos reforça a capacidade dos nossos artistas de estarem em um dos melhores festivais de teatro do mundo. A internacionalização do mercado já era um objetivo do grupo, e com a oportunidade de apresentar a estética brasileira e goiana por meio do teatro, tornou o sonho palpável para eles e para as demais companhias do centro-oeste. “O festival dita algumas tendências da cena teatral contemporânea. Então para nós é importante fazermos parte disso para intercambiarmos e aprendermos com os diversos estilos de espetáculos”, conta o diretor.

Para Constantino, a dinâmica que enfrentam no festival traz para eles novas perspectivas e agrega conhecimentos. “Assistir outros modos de se fazer teatro, outras experiências, agrega na nossa capacidade de realização, de transpor pensamento e ideias em espetáculo cênico”. Para além do teatro, ele garante que esse intercâmbio cultural profundo irá repercutir em suas almas. A vivência que estão experimentando na França passa por muitas camadas e com certeza deixaram marcas positivas. Segundo o grupo, já tiveram contato com outros artistas, inclusive brasileiros. Mergulhados na oportunidade, eles estão dedicados.

Após sucessivos adiamentos do festival, que contribuiu com as angústias dos envolvidos, e em meio as incertezas pandêmicas, eles chegam ao festival dedicados a absorver o que o evento tem a oferecer. “Chegamos com uns dias de antecedência para nos ambientarmos, sentir o clima. Tem sido aprazível a chegada, o contato com os franceses, com o festival. Percebe-se que de fato a cidade respira teatro neste período”, enfatiza Constantino. Fazendo parte do processo, o diretor conta ainda que se inseriram nas tradições locais. Eles caminham pelos estabelecimentos da cidade para panfletar, divulgar e convidar para sua produção.

Depois de mais de dez anos em cartaz e rodando o Brasil, a escolha da companhia para representar o Brasil e Goiás, por meio de edital público, coroa o sucesso que é o espetáculo ‘Lições de Motim’. Ultrapassando a barreira da língua, é crível que há uma interpretação, uma ação cênica, vocal, corporal das imagens potentes que são construídas na produção. Elas são capazes de fazer com que o espectador europeu se identifique de alguma maneira. “Estar aqui é um desafio para nós, e nós recebemos com muita expectativa de como seríamos recebidos”, revela Constantino. Expectativas estas que foram sanadas da melhor forma.

Finalizando a entrevista, os integrantes reforçam a importância de estarem no Festival de Avignon e a oportunidade de representar Goiás mundialmente. Eles estão entre os melhores e se mostram preparados para essa nova etapa, já que lá farão 26 apresentações em um mês. Condição inédita para a companhia, que o máximo que fizeram foi 12 datas consecutivas em Goiânia. “Com certeza esse cotidiano dará outra dinâmica para o espetáculo, um aperfeiçoamento na lida que se dá entre os atores. É uma oportunidade muito grande de ficar 30 dias vivendo de teatro, é o sonho de qualquer artista”.

Desde 1947 Avignon se transforma, no mês de julho, em um verdadeiro teatro a céu aberto com apresentações em todos os cantos da cidade. O festival, criado por Jean Vilar, reúne mais de 1500 apresentações e tem em sua programação espetáculos, exposições, filmes e debates de todo o mundo. Imersos nesta experiência, eles sairão do festival direto para o retorno de ‘Lições de Motim’ nos palcos nacionais e certos de que portas se abrirão para eles. Apesar de ainda não viverem exclusivamente do teatro, este momento tem tudo para ser o divisor de águas que a companhia aguardava. 

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