Prefeitos confirmam que pastores pediram propina em troca de verbas no MEC

Na audiência, os prefeitos afirmaram que a intermediação ocorreu pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos

Postado em: 05-04-2022 às 16h17
Por: Maria Paula Borges
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Na audiência, os prefeitos afirmaram que a intermediação ocorreu pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Em audiência pública na Comissão de Educação do Senado prefeitos de três municípios confirmaram aos senadores que foram abordados por pastores que pediam o pagamento em troca da liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC). Ainda durante a audiência desta terça-feira (5/4), eles afirmaram que a intermediação teria sido feita pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, ligados à Igreja Ministério Cristo para Todos, de Goiânia.

O prefeito de Luís Domingues, no Maranhão, Gilberto Braga (PSDB), afirma que foi procurado em abril de 2021, quando estava em Brasília para um evento no MEC. Segundo ele, um grupo de 20 a 30 pessoas foi almoçar, sem a presença do então ministro da Educação, Milton Ribeiro, no restaurante Tia Zélia. Na ocasião, o prefeito foi questionado pelo pastor Arilton Moura sobre as demandas do município.

De acordo com o relato, o pastor teria orientado o prefeito a pagar R$ 15 mil para “protocolar o pedido no MEC”. Após liberação dos recursos, o pastor teria dito que o prefeito deveria lhe dar “1 quilo de ouro”. Gilberto Braga afirma que o pastor disse ainda que tinha que ver a demanda. “De R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele protocolar [no MEC]. E, na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu um quilo de ouro”.

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O prefeito disse que não aceitou, nem negou o pedido e foi almoçar. Segundo o prefeito, o pagamento não foi feito nem as demandas liberadas.

Segundo o prefeito de Bonfinópolis, em Goiás, Kelton Pinheiro (Cidadania), os pastores teriam cobrado propina de R$ 15 mil para viabilizar a construção de uma escola no município com 12 salas, orçada em R$ 7 milhões.

Ele conta que a abordagem também aconteceu em um almoço com prefeitos em Brasília. “O pastor Arilton chegou na minha mesa e me abordou de uma forma muito abrupta e direta: ‘Olha prefeito, vi que no seu ofício o senhor pede a escola de 12 salas. Essa escola deve custar uns R$ 7 milhões. Mas é o seguinte, eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje, você faz a transferência para a minha conta. Para depois não cola comigo, porque vocês políticos. São um bando de malandros, que não tem palavra’. Aquilo me deu ânsia de vômito”, disse.

Já o prefeito de Boa Esperança do Sul, em São Paulo, José Manoel de Souza (PP), também denunciou a cobrança de propina dos pastores, entretanto, foi pedido um valor ainda maior, cerca de R$ 40 mil, em março de 2021. No encontro, o ex-ministro, os dois pastores e Marcelo Lopes da Ponte, presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), estavam presentes.

Segundo José Manoel, o pastor Arilton falou que ele “sabe muito bem como funciona”. “O pastor Arilton me disse: ‘Prefeito, você sabe muito bem como funciona, né? Não dá pra ajudar todos os municípios, mas eu consigo te ajudar com uma escola profissionalizante. Eu faço um ofício agora, eu coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da igreja evangélica’. Eu então bati nas costas dele [Arilton] e falei que para mim não serviria”.

As denúncias apontam que, mesmo sem cargos formais, os pastores transitavam livremente no MEC e intermediavam os pleitos de prefeituras junto com o ex-ministro.

Na próxima quinta-feira (7/4), a Comissão de Educação ouvirá os pastores Arilton Moura e Gilmar dos Santos. A audiência seria na semana passada, mas com a exoneração de Riberio, ele não compareceu e não justificou a ausência.

O ex-ministro, Milton Ribeiro, é alvo de investigação por suposto favorecimento na liberação de recursos para prefeituras por meio da intermediação de dois pastores, que também são alvo do inquérito que foi aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR).

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