Vasp 375- Há 35 anos homem sequestrou avião e tentou jogá-lo no Palácio do Planalto 

"Eu quero matar o Sarney. Quero jogar o avião no Planalto" dizia o sequestrador do avião

Postado em: 29-09-2023 às 13h27
Por: Rondineli Alves de Brito
Imagem Ilustrando a Notícia: Vasp 375- Há 35 anos homem sequestrou avião e tentou jogá-lo no Palácio do Planalto 
"Eu quero matar o Sarney. Quero jogar o avião no Planalto" dizia o sequestrador do avião | Foto: Reprodução

Era 29 de setembro de 1988, há exatos 35 anos atrás, quando Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, sequestrou um Boeing 375 da Vasp com o objetivo de atingir o Palácio do Planalto e matar o então presidente José Sarney. Naquela época o caso movimentou o país uma sensação de temor e fez com que um novo herói surgisse.

O estopim 

Em 1988 o Brasil era governado por José Sarney, período em que ficou marcado nos livros de história como a “década perdida“, decorrência da turbulência econômica que o país vivia como resultado do esgotamento das políticas econômicas da ditadura militar, fazendo com que o fechamento de empresas e o desemprego aumentasse todos os dias.

Foi em meio a toda essa crise econômica que Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, na época, natural do Maranhão e conterrâneo do então presidente José Sarney, acabou perdendo o emprego em uma construtora, gerando em si uma fúria contra Sarney e o levando a sequestrar o Boeing da Vasp.

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O sequestro 

O Boeing 375 da Vasp tinha a bordo 98 passageiros e sete tripulantes e fazia a rota Belo Horizonte / Rio de Janeiro que era pilotada pelo comandante Fernando Murilo Lima e Silva junto com o copiloto, Salvador Evangelista. Quando o piloto se preparava para pousar, Raimundo sequestrou o avião e pediu para redirecionar o voo para Brasília. 

Murilo, no entanto, conseguiu emitir o código de alerta para a base, informando o sequestro do avião, porém a torre errou ao não levar em conta os riscos e entrou em contato com o piloto para confirmar a situação. Foi nesse momento que o copiloto, Salvador Evangelista, pegou o rádio para responder o chamado de Brasília e acabou sendo baleado e morto por Raimundo Nonato, fato contado por Fernando Murilo ao G1, em 2011.

Um outro copiloto que estava na aeronave, como passageiro, também foi atingido de raspão ao tentar impedir a ação de Raimundo Nonato. “Ele [o sequestrador] gritava: ‘eu quero matar o Sarney. Quero jogar o avião no Planalto”, lembra Murilo.

Cerco policial em Goiânia – O início do fim

Como Murilo conseguiu emitir o código de alerta para a base pelo seu transponder (equipamento transmissor de emergências), a Aeronáutica encaminhou aviões caça para acompanhar o avião sequestrado. Com um clima coberto por nuvens naquele dia, não era possível visualizar o Planalto e mesmo sobrevoando a capital por uma hora, o piloto mudou sua rota para Goiânia sem que o sequestrador percebesse.

O avião naquela hora já estava com alerta para baixo nível de combustível, mas isso não impedia os planos de Raimundo Nonato que não autorizava o pouso. Fernando Murilo então começou a fazer manobras acrobáticas, que normalmente não são feitas em aviões comerciais, e em uma dessas ele fez com que o sequestrador caísse e então conseguisse chegar pista e pousar o avião em Goiânia, no local a Polícia Federal já cercava todo o perímetro.

Com o avião já em solo, foi iniciada uma negociação no qual o sequestrador aceitou sair do Boeing, onde os passageiros ainda permaneciam e se dirigiu para um avião Bandeirante, de menor porte. Raimundo levou Murilo como refém quando tentou entrar no outro voou, mas quando já estava prestes a subir no outro avião, o sequestrador foi baleado por um tiro de fuzil, disparado pelas forças de segurança, na tentativa de fugir, Murilo que corria em ziguezague, mas foi atingido na perna e felizmente sobreviveu.

Desfecho e Surgimento do Herói 

Raimundo Nonato que foi atingido por um tiro de fuzil nas costas, chegou a ser levado a um hospital de Goiânia, mas cinco dias depois, ele morreu.

O piloto Fernando Murilo ficou conhecido como herói da aviação brasileira e viveu até seus 76 anos, quando faleceu em 2020, após complicações cardíacas e diabetes, segundo informou a família.

Dias atuais e família 

Em história recontada no podcast “Atenção Passageiros Vasp 375: o atentado terrorista no Brasil”, publicado pelo Globoplay. A filha do copiloto assassinado, Wendy Evangelista, que na época, ia completar 8 anos, fala sobre a morte do pai e sobre a fobia em voar que adquiriu após o acontecido e também como lutou para superar esse trauma.

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