Os livros deste gaúcho emocionam qualquer amante de literatura

A cultura gaúcha é surpreendente e merece ser apreciada.

Postado em: 08-05-2024 às 13h16
Por: Eduarda Leão
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Momento de leitura. | Foto: Pinterest

Os gaúchos não são bons apenas em fazer aquele bom chimarrão e um churrasco de dar água na boca, eles também são excelentes quando o assunto é fazer uma boa literatura que é capaz de dar orgulho a todos os brasileiros.

O escritor gaúcho homenageado da vez é o Mário Quintana, um poeta, tradutor e jornalista brasileiro que foi considerado um dos maiores poetas do século XX. Confira agora 10 livros de Mário Quintana que precisam estar na sua estante.

Antologia poética

Publicada originalmente em 1981, Antologia poética apresenta uma seleção do próprio Mario Quintana, que optou por uma divisão temática de seus poemas. Estão presentes os motivos mais emblemáticos do poeta: o humor, o despojamento, o devaneio, o sobrenatural, a infância, o cotidiano.

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O conjunto forma um curso prático não só da poesia de Quintana, mas da poesia moderna como um todo, naquilo que ela tem de mais característico: o lirismo intimista e o verso livre. Com prefácio de Eucanaã Ferraz, que discute em profundidade não só a coletânea, mas também faz um balanço preciso da obra de Quintana, esta é uma ótima porta de entrada para os leitores que querem ter contato com este poeta essencial.

O segundo olhar: Antologia

Os sentimentos são a matéria-prima do poeta, nesta antologia inédita que resgata a atualidade e a importância da obra de Quintana. Bem-humorados ou irônicos, mas sempre intensos, seus poemas vão do amor desesperado aos dissabores da velhice.

Foi pensando nas diversas possibilidades de interpretação da obra de Mario Quintana que este livro surgiu. A proposta do escritor João Anzanello Carrascoza ao organizar esta antologia foi recuperar sua veia singular ― e hoje pouco conhecida ―, demonstrando toda a força de Quintana. Daí o título, que parte da ideia de que é quando lançamos um segundo olhar sobre as coisas que conseguimos captá-las em sua plenitude.


Conhecido como o poeta da infância e do cotidiano, Quintana teve suas outras facetas negligenciadas ao longo do tempo. Seus poemas percorrem muitos caminhos: são leves, engraçados, mas também são irônicos, intensos. Certa vez, ele declarou que o segredo para uma vida longa residia no interesse pelos outros e pelo mundo, e sua poesia expressa esse entusiasmo. Ele era meticuloso na composição de versos que, apesar de aparentemente simples, escondem uma inegável complexidade.


Aqui, a disposição dos poemas segue a mesma lógica que orientou Mario Quintana na composição de muitos de seus textos. Organizados sem o suporte de cronologias ou eixos temáticos, os poemas vão se sucedendo em uma espiral, de forma contínua, como numa conversa em que uma ideia puxa outra.
O segundo olhar capta com maestria a essência de Mario Quintana e mostra porque ele é um de nossos maiores poetas.

Caderno H

Delícia de ler, mastigar, ruminar este livro. Ao longo de décadas, Mario Quintana publicou no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, seu Caderno H, feito de poesia, humor, sabedoria. Da crônica ao poema, passando pelas frases cheias de espírito, esses cadernos foram os grandes responsáveis pela consagração popular de sua literatura.

A cada novo trecho do Caderno, nos deparamos com a união singular, tão característica de Quintana, da inteligência com a intuição reveladora. Assim como no enquadramento jornalístico original, ao serem colocados em forma de livro, os textos deste Caderno H, por sua própria organização fragmentária, fornecem alimento cotidiano à inteligência do leitor comum, apaixonado por literatura. Um clássico brasileiro.

Na era do Twitter, este Caderno H ganha uma atualidade surpreendente. Que a poesia e a prosa de Quintana tinham lugar assegurado no cânone da literatura brasileira do século XX era algo fora de discussão. Mas a comunicação ainda mais veloz do século XXI, comunicação em tempo real, encontra, nestes textos, modelo e inspiração. Os aforismos e prosas curtas do Caderno H, na sua diversidade aberta para o infinito (é o infinito no sucinto), são lições de como conjugar intuição e raciocínio, humor e sentimento, crônica e reflexão, circunstância e perenidade.

A presente edição propicia ao leitor contemporâneo o encontro – e ao leitor veterano o reencontro – com ideias e histórias que, de tão repetidas e citadas, praticamente já fazem parte repertório de provérbios e frases feitas da cultura literária brasileira mais ampla. Fruto de erudição e sensibilidade, Caderno H foi o livro de Quintana que mais decisivamente o transformou num escritor popular, aquele cujos escritos se inscrevem no subconsciente de uma língua.

Esconderijos do tempo

Esconderijos do tempo ocupa lugar de destaque na obra poética de Mario Quintana. Tudo levava a crer que, após o premiado Apontamentos de história sobrenatural, de 1976, o poeta septuagenário não tinha mais para onde ir, a não ser repetir-se. No entanto, passaram-se apenas quatro anos, e Quintana lançava este que pode ser considerado um dos melhores livros de poesia brasileira do último quarto do século passado.

Alguns dos mais belos poemas escritos pelo autor podem ser encontrados neste volume. À época de seu lançamento original, em 1980, o poeta parecia liberar-se definitivamente de todas as amarras, influências, compromissos, entregando-se por inteiro ao triunfo da imaginação como forma de questionar e enriquecer o real.

Neste livro, é marcante a total dissociação de Quintana em relação a qualquer influência exercida sobre ele por outros mestres de sua geração modernista. Se nos livros dos anos 70, através da noção de “sobrenatural”, ele fizera questão de contrastar sua poética ao ceticismo materialista de Drummond, aqui o poeta assume de peito aberto sua personalidade singular.

Em Mario Quintana, o poeta, não existiu envelhecimento. Esconderijos do tempo é um livro de maturidade plena. Nele estão poemas que tematizam a passagem do tempo e o caráter fugaz dos sentimentos e das sensações, mas sem ceder à nostalgia ou à melancolia. A palavra poética afirma-se aqui como celebração e concretização daquilo que perdura.

Eu passarinho

Esta antologia cobre toda a carreira do poeta, desde os livros iniciais até os publicados postumamente, e revela não só seu modo único de olhar o mundo, mas uma riqueza de temas e formas.

Quintana retrata a vida nossa de cada dia – os fatos corriqueiros e também os que nos pegam de surpresa e nos transformam –, ressaltando os aspectos belos, profundos e divertidos de nossa existência. Há aqui um pouco de tudo: sonetos, versos livres, aforismos, haicais e prosa poética. impossível ficar indiferente e não se emocionar.

Lili inventa o mundo 

Poemas e mais poemas, frases, textos curtos e uma instigante viagem. Na bagagem, não esquecer de levar a imaginação e a sensibilidade. O próprio autor, Mario Quintana, na abertura do livro, dá o recado ao leitor: As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas. Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta ser apenas vivida: também precisa ser sonhada.

E assim, pelas mãos desse grande poeta, dono de um discurso poético da mais alta qualidade, a rotina, as coisas simples, os pequenos acontecimentos do dia-a-dia, a natureza, as pessoas, os animais são reinventados, saem do lugar comum.

O Inverno é um vovozinho trêmulo, com a boina enterrada até os olhos, a manta enrolada nos queixos e sempre resmungando: “Eu não passo deste agosto, eu não passo deste agosto…” A leitura de Lili inventa o mundo coloca a criança e o leitor de qualquer idade diante da possibilidade de viver a experiência de sonhar.

Baú de espantos

Em Baú de espantos, publicado pela primeira vez em 1986, Mario Quintana reúne num só gesto poético o passado e o futuro, através do exercício da memória e das percepções que o assaltam diante das mudanças trazidas pela modernidade. Aqui aparece menos o Quintana ecológico e mais o poeta tocado pela nostalgia da vida simples, deixada para trás pelos arranha-céus e pela agitação da cidade grande.

Ao mesmo tempo, o poeta absorve o imaginário do espaço sideral para alimentar seu lirismo. Ao lado das clássicas imagens do vento, da lua, da rua de bairro, aparece aqui a nave como metáfora da viagem que é a vida: “nau exposta aos quatro ventos,/ em pleno céu sulcado de relâmpagos”. O poeta convida o leitor a embarcar com ele numa viagem de poemas que falam de vida e morte, começo e fim, mar e céu.

Em perfeita circularidade, a possibilidade do fim (fim da vida, fim das coisas simples) acaba por suscitar o retorno daquilo de que se sente saudade. Junto com a ideia de navegação, impõe-se a imagem do menino eterno por trás de cada ato de evocação e escrita poética. O garoto errante e sonhador sempre retorna nos versos de Quintana, seja como objeto, seja como o sujeito que fala. O mar da memória é um baú de maravilhas.

Nariz de vidro

A maior sensibilidade de um dos maiores poetas brasileiros. O mundo poético deste livro é feito de ternura, melancolia, lirismo, nostalgia da infância e um humor irônico transparente. É uma coletânea do melhor da obra deste poeta, um dos maiores da poesia brasileira de todos os tempos. Um livro pra não se perder, da juventude à velhice.

Preparativos de viagem

A presença do passado no presente, a antecipação feliz de algo bom no futuro imediato, a vertigem do instante como objeto da palavra poética, eis aí as linhas mestras do conjunto de poemas reunidos por Mario Quintana em Preparativos de viagem. Quanto mais o poeta avançava em idade, mais a alegria de viver dominava seu verso, como este volume originalmente lançado em 1987 aponta. “Velho? Mas como?! Se ele nasceu de novo na manhã de hoje…”

Cada dia é um novo começo em Quintana. Não se trata de preparar-se para a última viagem, como num de seus poemas anteriores. No livro, o octogenário poeta prefere lembrar a excitação alegre que tomava conta dele, quando criança, em véspera de viagem com a família. Essa emoção é o que resume o sentido da vida, na poesia do autor. Em Preparativos de viagem, o poeta opta pelo encontro entre o passado e o futuro em momentos fugazes, de rara delicadeza.

A coleção de poemas dá testemunho de que, conforme o tempo passava para o poeta, a alegria de viver vinha cada vez mais se sobrepor à melancolia, abrindo inclusive espaço para a manifestação discreta de um erotismo desabrido. Seu campo de visão demarcado pelas “grades dos próprios dedos” e pelos arrabaldes de sua Porto Alegre.

A vaca e o hipogrifo

Editada pela primeira vez em 1977, A vaca e o hipogrifo apresenta Mario Quintana no esplendor da maturidade como poeta. O título mostra a informalidade do autor, empregando constantemente expressões do cotidiano e se utilizando tanto da prosa quanto do verso. No entanto, mesmo com a espontaneidade aparente em sua escrita, que poderia soar ingênua com sua linguagem simples, encontra-se uma constante experimentação de formas.


O livro abre a série de lançamentos programada pelo selo Alfaguara para a obra de Quintana. Em A vaca e o hipogrifo, com mais de 200 textos, estão reunidos pensamentos, aforismos, anotações, poemas e breves crônicas, reunindo prosas, miniprosas e poemas. Por muitas vezes próxima à forma de um diário, o título permite experimentar o domínio de Quintana no contraste entre os versos e a prosa, que também se mesclam.


Ainda hoje, e para sempre, a leitura de A vaca e o hipogrifo constitui excelente introdução ao repertório literário básico, através do exercício de um saber com sabor, leve e delicado, mesmo nos momentos de melancolia e nostalgia.

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