Novas descobertas sobre o polvo ajudam compreender o sono humano

Pesquisadores brasileiros descobrem que o polvo sonha assim como humanos, o que ajuda na compreensão do sono | Foto: Sylvia Medeiros/Reuters

Postado em: 26-03-2021 às 09h45
Por: Augusto Sobrinho
Imagem Ilustrando a Notícia: Novas descobertas sobre o polvo ajudam compreender o sono humano
Pesquisadores brasileiros descobrem que o polvo sonha assim como humanos, o que ajuda na compreensão do sono | Foto: Sylvia Medeiros/Reuters

Pesquisadores brasileiros publicaram, nessa
quinta-feira (25/03), um estudo mostrando que o polvo passa por dois estados de
sono diferentes, estranhamente semelhantes aos dos humanos, podendo até sonhar. O
animal é considerado o mais inteligente dos invertebrados.

As descobertas se somam a outras características
que tornam o polvo uma criatura extraordinária. Ele já que tem oito membros,
três corações, sangue azul, spray de tinta, capacidade de camuflagem e o
trágico fato de que morre após se reproduzir. 





















Segundo os pesquisadores, as descobertas oferecem
novas evidências de que os polvos têm uma neurobiologia complexa e
sofisticada, que fundamenta um repertório comportamental igualmente sofisticado.
Além disso, dão uma visão mais ampla sobre a evolução do sono, função
biológica crucial.

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Anteriormente, sabia-se que os polvos
experimentavam o sono e trocavam de cor enquanto adormeciam. No novo estudo, os
pesquisadores observaram espécies chamadas de Octopus insularis em laboratório
e descobriram que as mudanças de cor estão associadas a dois estágios do sono:
“o sono quieto” e o “sono ativo”.

Durante o “sono quieto”, o polvo se
mantém estático, com a pele pálida e as pupilas contraídas em frestas. Durante
o “sono ativo”, o animal muda dinamicamente sua cor de pele e textura
e move ambos os olhos enquanto contrai suas ventosas e corpo, com espasmos
musculares. 

Um ciclo de repetição foi observado durante o
sono. O “sono quieto” dura tipicamente cerca de sete minutos. O
subsequente “sono ativo” dura tipicamente menos de um minuto.

O ciclo parece análogo, segundo os cientistas,
aos chamados sono REM (sigla em inglês que significa “movimento rápido dos
olhos”), estágios do sono vividos por seres humanos, além de outros
mamíferos, aves e répteis.

Sonhos vívidos ocorrem durante o sono REM,
enquanto os olhos de uma pessoa se movem com rapidez, a respiração se torna
irregular, a taxa de batimentos cardíacos aumenta, e os músculos ficam
paralisados para não agir durante os sonhos. O estágio não REM apresenta
um sono mais profundo e menos sonhos. 

A principal autora do estudo, Sylvia Medeiros,
disse que as descobertas sugerem que os polvos podem estar sonhando, ou
experimentando algo semelhante. 

“Se os polvos sonham de fato, é improvável
que eles experimentem enredos simbólicos complexos como nós fazemos”,
disse Sylvia, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. 

“O ´sono ativo´ do polvo tem duração muito
curta, tipicamente de alguns segundos a um minuto. Se durante esse estágio há
sonhos acontecendo, eles devem ser como pequenos videoclipes, ou até mesmo
GIFs”, acrescentou a pesquisadora. 

Os cientistas buscam melhor entendimento das
origens da evolução do sono. Como o último ancestral comum de vertebrados,
inclusive humanos, e cefalópodes, grupo que abrange os polvos, viveu há mais de
meio bilhão de anos, parece improvável que os padrões similares de sono tenham
sido estabelecidos antes de sua divergência evolutiva, afirmaram os
pesquisadores.

Isso significaria, segundo os cientistas, que os padrões
semelhantes de sono surgiram de forma independente nos dois grupos, um fenômeno
chamado de “evolução convergente”.

“A investigação do sono e dos sonhos nos
polvos nos dá um ponto de vantagem para a comparação psicológica e
neurobiológica com os vertebrados, já que o polvo tem várias
características cognitivas sofisticadas que são vistas apenas em espécies
vertebradas, mas com uma arquitetura cerebral muito diferente”, afirmou o
coautor do estudo Sidarta Ribeiro, fundador do Instituto do Cérebro. (Agência Brasil)

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