Entenda os efeitos imediatos da aproximação entre Lula e Geraldo Alckmin

Possível aliança dos antigos rivais gerou mal-estar entre aliados do tucano, que ainda não descartou a possibilidade de concorrer como vice do petista

Postado em: 18-11-2021 às 16h37
Por: Giovana Andrade
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Possível aliança dos antigos rivais gerou mal-estar entre aliados do tucano, que ainda não descartou a possibilidade de concorrer como vice do petista. | Foto: Reprodução

A aproximação proposta por PT e PSB a Geraldo Alckmin, sugerindo que o ex-governador paulista poderia ser o vice de Lula em 2022, estaria gerando insatisfação entre os aliados do ainda tucano. Segundo informações da Folha de S.Paulo, a questão gerou dois tipos de irritação.

Primeiro, a indefinicão de Alckmin, que diz que “está para decidir” seu futuro em breve, incomodou os adversários do PSD e do União Brasil (fusão DEM-PSL em curso). Segundo, se irritaram aqueles que acreditam que o fato de Alckmin não ter rejeitado a possibilidade de se aliar a Lula pode gerar repercussões eleitorais negativas caso ele dispute o governo de São Paulo.

Segundo a Folha, em um almoço com políticos próximos de Alckmin em um tradicional reduto da elite paulistana, nesta semana, o dono do lugar aproximou-se dos convidados e, após cumprimentos, cobrou duramente aqueles aliados sobre “a traição do Geraldo com o PT”.

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A conversa a respeito da aliança Lula-Alckmin, surgiu na semana retrasada, e tem como principais agentes dois interessados em tirar Alckmin da disputa pelo governo de São Paulo, seu aliado Márcio França (PSB) e o rival Fernando Haddad. Fiel a seu estilo, o ainda tucano não rejeitou a proposta, o que impactou o grupo já inquieto com a protelação de Alckmin e teve dois efeitos imediatos.

O PSD, partido do qual ele estava mais próximo para se filiar, avisou que não terá candidato a governador em São Paulo se Alckmin aceitar ser vice do Lula, o que afeta tanto França quanto Haddad, já que ambos aguardam o apoio da sigla. Além disso, a ideia eventual de ter Alckmin filiado ao partido e na vice de Lula é descartada, pois reduziria o poder de barganha do partido no segundo turno.

De todo modo, a sigla ainda trabalha com um cenário em que a chapa paulista será composta por Alckmin e França, que foi seu vice de 2015 a 2018, quando assumiu o governo e acabou derrotado nas eleições por João Doria (PSDB).

Já no União Brasil, a metade PSL tem se mostrado cada vez mais inconformada com Alckmin, preferindo manter o apoio a Doria no estado. O temor de não controlar a sigla e, principalmente, recursos dos fundos partidário e eleitoral, foi o que evitou a filiação do ex-governador até aqui.

O plano de Alckmin após a humilhação sofrida nas urnas em 2018, quando teve a pior votação presidencial da história do PSDB, era voltar a disputar o governo paulista, que ocupou de forma mais ou menos ininterrupta por duas décadas.

Mas o atual governador tinha planos diferentes e, visando seu projeto presidencial em 2022, elegeu-se com o compromisso de entregar o governo para o vice, Rodrigo Garcia, até então no DEM, partido que ficaria amarrado ao roteiro, em um arranjo que incluía o MDB. Não deu muito certo quando o DEM implodiu, no começo deste ano, com a derrota do grupo de Rodrigo Maia na disputa da Câmara dos Deputados para Arthur Maia (PP-AL).

Doria, então, operou um rearranjo, filiando Garcia ao PSDB para lhe garantir a legenda em 2022. Com isso, o espaço de Alckmin tornou-se reduzido na sigla que ajudou a fundar. Isso, nas palavras de aliados, o deixou com um incomum “sangue nos olhos”, tanto que cometeu o que é visto até por eles como um erro político, que foi credenciar-se para votar nas prévias, só para atormentar Doria.

Foi nesse contexto que se deu o chamado petista. Alguns aliados de Alckmin acreditam que o impacto potencial no eleitorado paulista, de extração antipetista em sua maioria, poderá ser grande se ele disputar o Palácio dos Bandeirantes. Até antigas críticas de Alckmin ao PT, sigla contra a qual o tucano disputou a Presidência em 2006 (Lula) e 2018 (Haddad) estão circulando para relembrar o passado da relação.

Na campanha de 2018, por exemplo, o tucano disse no Twitter ao rival na corrida presidencial: “Caro Fernando Haddad, não é o meu partido que é comandado de dentro de um presídio. Nem minha campanha foi lançada na porta de penitenciária. Em São Paulo, bandido pega cana dura”.

Outros, por sua vez, acreditam que o desgaste é pontual e não se importam tanto, desde que a aproximação fique onde está. Entretanto, eles avaliam que o balão de ensaio ganhou voo o suficiente para dar tempo a Alckmin para tomar sua decisão. Se o ainda tucano resolver selar a aliança, o que nem mesmo aqueles mais chegados a ele sabem se irá acontecer, a montanha a ser escalada será outra.

No PT, há aqueles que defendem a chapa como uma saída para ampliar tanto a base eleitoral de Lula no Sudeste e no Sul contra Jair Bolsonaro, quanto para ajudar a montar uma governabilidade que estaria ameaçada de saída em 2023. Mas uma maioria ruidosa na sigla, receosa de perda de espaço, já lança teses de que o “mercado” apoiaria a chapa porque derrubaria Lula tendo um vice de sua confiança.

É uma teoria que, fortalecida pelo trauma de Michel Temer, reverbera em especial nas alas mais ideológicas do PT, mas ignora que agentes do mercado financeiro nunca gostaram de Alckmin, e tiveram fases de grande enriquecimento sob Lula.

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