Adir Assad admite ter pago R$ 1,7 bi em propina nas obras de Angra 3

Empresário afirmou que o negócio da venda de notas começou em 2008 e durou até 2011, quando foi deflagrada a Operação Saqueador. Valor investigado é de cerca de R$ 300 milhões

Postado em: 09-08-2017 às 17h05
Por: Victor Pimenta
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Empresário afirmou que o negócio da venda de notas começou em 2008 e durou até 2011, quando foi deflagrada a Operação Saqueador. Valor investigado é de cerca de R$ 300 milhões

O empresário Adir Assad prestou depoimento hoje (9) no
inquérito da Operação Irmandade, que apura desvio milionário nas obras de Angra
3 da Eletronuclear. Ele admitiu que, sozinho, foi responsável pelo pagamento de
R$ 1,7 bilhões em propinas, entre 2008 e 2011, por meio de contratos fictícios
ou superfaturados com empreiteiras. O valor investigando nessa operação é de
cerca de R$ 300 milhões.

Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal
Criminal do Rio de Janeiro, Adir explicou que está preso desde 2015, por uma
condenação do juiz Sérgio Moro relativa à Operação Saqueador, e que esta foi a
primeira vez que resolveu falar em juízo, pois permanecer em silêncio nos dois
depoimentos prestados a Moro em Curitiba.

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Assad admitiu que cometeu crimes e agradeceu a oportunidade
para esclarecer os fatos. Explicou que era um empresário de sucesso na área de
entretenimento, sendo responsável por trazer ao Brasil shows de grandes
estrelas internacionais, como Shakira, Beyoncé e U2, mas que resolveu mudar
para o ramo da engenharia, sua formação profissional, para “ganhar mais
dinheiro.”

“Já tínhamos um relacionamento muito bom com as empreiteiras
e sabíamos como funcionava esse setor. Já chegávamos assim: tem um negócio que
vai custar zero”. O empresário informou que eram colocadas “uma ou duas
máquinas” para evidenciar o serviço, entretanto “não houve de fato serviço, só
manipulação de tudo. Fica evidente pelo valor da nota fiscal, a máquina tinha
que trabalhar ininterrupta dois anos a R$100 a hora para dar esse valor. E a
gente fazia quinzenal ou mensal. Eu tinha grande relacionamento com os bancos e
tinha facilidade para pegar dinheiro em espécie no caixa”, explicou.

Assad contou ao juiz Marcelo Bretas que era cobrado de 15% a
20% sobre o valor de cada negociação, na qual suas empresas recebiam pelo
serviço não prestado, ou seja, vendendo notas fiscais, e devolviam a quantia em
espécie para as construtoras, abatida a participação. “Por exemplo, eles
pagavam R$ 100 mil e recebiam de volta R$ 85 mil.”

O empresário afirmou que o negócio da venda de notas começou
em 2008, ao ser procurado pela Delta com essa proposta, e durou até 2011,
quando foi deflagrada a Operação Saqueador, na qual foi preso o contraventor
Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. Segundo
Assad, Cachoeira seria um “concorrente” dos negócios com a Delta e seus
contatos na empreiteira Andrade Gutierrez teriam admitido que a operação para
“abafar” a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigava o caso teria
custado R$ 30 milhões.

Também prestaram depoimento hoje como investigados da
Operação Irmandade os sócios de Adir Assad: seu irmão Samir Assad e Marcelo
Abbud, um amigo de infância. Os três admitiram a participação nos crimes que
constam na acusação e negaram ter tido qualquer contato ou contrato direto com
a Eletronuclear ou dirigente da estatal que, de acordo com os três, só
conheceram em Bangu, onde estão ou estiveram presos. Abbud foi preso no dia 30
de junho de 2016 e solto no dia 7 de julho do mesmo ano. Segundo eles, toda a
negociação e entrega de dinheiro era feita com a Andrade Gutierrez, que
repassaria para os diretores da empresa de energia e agentes públicos.

Nenhum deles citou nomes de diretores ou
políticos que teriam recebido dinheiro do esquema, mas Adir explicou que os
contratos fictícios começaram nas obras da Linha 4 do metrô de São Paulo, para
repasse de propina a políticos do governo do estado, do PSDB, e que os repasses
para a Eletronuclear seriam a maior parte para o PMDB e uma parte pequena para
o PT. 

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