Polícia Federal inclui atuação de médico goiano em investigação

Em conversas por aplicativo de mensagem, policiais federais descobriram atuação de médico que é sobrinho de sargento assessor do ex-presidente

Postado em: 04-05-2023 às 07h44
Por: Mariana Fernandes
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Em conversas por aplicativo de mensagem, policiais federais descobriram atuação de médico | Foto: Reprodução

Buscas no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e braço-direito de Jair Bolsonaro, levou agentes da Polícia Federal (PF) à casa do ex-presidente na manhã desta quarta-feira (3), em Brasília, causando alvoroço na política brasileira. O motivo: suspeita de adulteração de sistemas do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre vacinação de Bolsonaro que, desde o início da pandemia de Covid-19, discursou contrariamente à vacinação, adotando discurso negacionista. 

Além da busca e apreensão na casa do ex-presidente, os agentes federais apreenderam, sob pedido do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Morais, o aparelho celular do ex-mandatário.  

No percurso da investigação da Polícia Federal, os agentes descobriram que um médico, Farley Vinícius de Alcântara , que prestava serviço para a prefeitura de Cabeceiras, a 268 km de Goiânia, retirou os dados de cartão de vacinação de uma enfermeira de Cabeceiras para preencher com dados de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, esposa de Mauro Cid, à época, ajudante de ordens de Bolsonaro. 

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Além da prefeitura goiana, Farley Vinícius de Alcântara  prestava serviço à saúde do Governo do Distrito Federal (GDF). Farley é sobrinho de outro indiciado pela PF, o sargento Luiz Marcos dos Reis, que fazia parte da equipe da Ajudância de Ordens do ex-presidente. 

Desde que o nome do médico foi divulgado na imprensa, o prefeito de Cabeceiras, Everton Francisco de Matos, viu a rotina de gestor da pequena cidade de 7 mil habitantes virar de cabeça pra baixo. Logo que soube da situação do médico, afirmou que determinou que fosse aberto um processo administrativo para apurar os fatos envolvendo o médico, que, segundo ele, trabalhou para o município entre 2020 e 2021.

A operação da qual o núcleo duro de Jair Bolsonaro, e o próprio, foi alvo nesta quarta-feira, foi batizada pela PF como Venire. O principal objetivo é apurar suspeitas de adulteração de cartões de vacinação. 

Em declaração logo após os policiais deixarem a sua residência, Bolsonaro reconheceu: “Nunca falei que tomei a vacina [de covid-19]. Nunca me foi pedido cartão de vacinação nos EUA. Não existe adulteração de minha parte”. Depois, o ex-presidente deixou sua casa, com seus advogados, para se encontrar com aliados e os filhos. 

A Polícia Federal cumpriu 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva em Brasília e no Rio de Janeiro. Para jornalistas, Bolsonaro voltou a reconhecer que não se imunizou: “eu não tomei a vacina. Foi uma decisão pessoal minha, depois de ler a bula da [vacina] Pfizer.” 

Bolsonaro usa o argumento de que leu a bula e que não considerava o imunizante confiável, mesmo depois de a ciência comprovar que as vacinas diminuíram os efeitos mortais da Covid-19. O ex-presidente afirmou que a filha caçula, Laura Bolsonaro, se vacinou. Além da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro. 

Por meio de nota, a Polícia Federal informou que também está sendo feita análise do material apreendido durante as buscas e a realização de oitivas de pessoas que detenham informações sobre o caso. 

“As inserções falsas, que ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a covid-19 dos beneficiários”, destacou a PF. 

“Com isso, tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlar as restrições sanitárias vigentes impostas pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa”, completou.

Ainda conforme a corporação, o objetivo do grupo seria “manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a covid-19”.

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