Indefinição representa mais da metade e eleitor está desanimado

Especialistas dizem que a falta de alianças definitivas é a principal causa do alto índice de pessoas indecisas quando questionadas sobre candidato

Postado em: 23-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Especialistas dizem que a falta de alianças definitivas é a principal causa do alto índice de pessoas indecisas quando questionadas sobre candidato

Lucas de Godoi*

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Na fase da pré-campanha, as principais pesquisas apresentam altos índices de indecisos. Nos questionamentos espontâneos, quando não é apresentada uma cartela de candidatos para o governo de Goiás, as indefinições representam mais da metade do eleitorado.  No último levantamento do O Hoje/Directa/Jovem Pan, 54,6% dos entrevistados disseram não saber em quem votar. Para especialistas consultados pela reportagem, este tipo de resultado é conhecido historicamente e não se trata de um problema imediato.

Para o professor e cientista político Pedro Mundim, a parcela de eleitores que apresentam seus votos definidos nesta época é pequena e estas pessoas, comumente, acompanham mais de perto o processo político. “Geralmente [essas pessoas] tem um perfil de eleitor que consegue decidir e se posicionar antes, é um eleitor de melhor renda e escolaridade, mas por uma série de razões, sejam profissionais ou pessoais, elas estão mais conectadas à política”, salienta.

Outro motivo apresentado pelo também cientista político e professor da UFG, Robert Bonifácio, é o fato de as campanhas ainda não terem se iniciado. “As instituições forçaram um pouco o desapego do eleitor, com a redução do tempo de campanha. O período de campanha é a época do eleitor se informar, porque é quando o candidato pede voto e apresenta propostas”, sustenta. Pela lei, o período para os candidatos pedirem votos e apresentar seus programas começa apenas em 16 de agosto. 

De acordo com Mundim, outro cuidado é observar com atenção os levantamentos, já que os critérios variam de um instituto para outro e também em relação aos métodos utilizados.  “O resultado pode se alterar pela forma de pesquisa, índice de confiabilidade e o número de amostra. Qualquer tipo de pesquisa tem um nível de incerteza. Como os dados ainda são muito imprecisos, o ideal é que você trabalhe com amostras mais eficientes”, recomenda. 

Ele ainda reforça que as preocupações do dia a dia colaboram para que os indivíduos adiem o momento de escolha. As pessoas tendem a decidir próximo das eleições. “A principal é que têm outras preocupações no dia a dia. Por mais que seja importante, está em um horizonte mais distante, principalmente com um período da copa. Elas estão focadas em outras pautas”, observa.

Robert Bonifácio destaca outro elemento. Segundo ele, neste momento de pré-campanha ainda não é possível desenhar as chapas, já que até chegar às convenções partidárias muitas coisas podem se alterar e mudar totalmente o cenário. “Você não sabe, por exemplo, se o Daniel Vilela vai se lançar mesmo ou se vai se aliar a Ronaldo Caiado”, sublinha Bonifácio, indicando que outros nomes podem entrar ou sair da disputa. 

Pouca representatividade

Robert aponta a pouca representatividade dos candidatos como resposta ao desinteresse de uma parcela de eleitores. Segundo ele, em Goiás “as elites políticas são restritas, são cerca de três candidatos com chance de eleição e isso talvez gere uma sensação de falta de representatividade”, destaca, acrescentando que esta realidade gera “grande insatisfação da população com as instituições e atores da política”. 

Embora compreenda esta questão, Pedro acredita que os pleitos deste ano serão muito parecidos com o que houve nas eleições estaduais de 2014. No segundo-turno as abstenções somaram 932.427 eleitores, ou seja, 21,53% do eleitorado alistado para as eleições daquele ano. “Tem uma parcela que está revoltada por questões óbvias, mas a impressão que tenho é que quando for a hora de votar, elas votarão como fizeram na última eleição”, conta. 

Para Bonifácio, o “brasileiro possui pouca identificação partidária e pouca ideologia”. Para ele, este comportamento também dita os resultados dos últimos levantamentos. “Os principais motivos são a pouca identificação partidária, falta de ideologia e também o período de campanhas mais curto, em que você tem um debate político muito raso e presente em uma pequena parcela da sociedade”. 

Rejeição

O aborrecimento com a classe política e a pouca preocupação com o pleito eleitoral pode fazer crescer o número de abstenções e de votos nulos. Prova disso é que nas recentes eleições suplementares – quando eleitores foram às urnas escolher novos gestores, o estado do Tocantins experimentou 43% de abstenções. 

“Isso se refletiu nas eleições de 2016, quando foi recorde o número de votos brancos e nulos. Isso pode se repetir nas eleições deste ano”, prevê Robert Bonifácio. Em Goiás, no segundo-turno das últimas eleições, as abstenções marcaram 24,09%. Além disso, os votos brancos e nulos atingiram a marca de 9,53% no mesmo ano.

Pedro Mundim também compreende que o indicador pode fazer referência ao descontentamento com os candidatos que estão postos. “Estão se mostrando insatisfeitas e a forma é rejeitar uma decisão política. Isso pode ter algum tipo de efeito”, diz.  

Copa do Mundo altera rotina dos principais pré-candidatos ao governo 

É só a bola começar a rolar que a atenção de grande parte do eleitorado entra em campo. Prova disso são as agendas dos pré-candidatos, que sofrem alterações necessárias, como mostrado em recente reportagem do O Hoje. “A maior parte das pessoas não [estão envolvidas com o processo eleitoral], porque você tem a copa do mundo e também as particularidades do período de articulações aqui em Goiás”, aponta Robert Bonifácio.

Na última semana, o pré-candidato pelo MDB, deputado federal Daniel Vilela, respondeu que na hora dos jogos do Brasil seu compromisso será com a torcida e o filho, que gosta de futebol. “Mas é claro que a hora do jogo é sagrada, pois também queremos torcer para nossa seleção”, disse. 

Da mesma forma o governador José Eliton (PSDB), pré-candidato à reeleição, também admitiu deixar o trabalho de lado para acompanhar as partidas do Brasil. “A agenda sofre alguma alteração apenas em dias úteis de jogos da Seleção Brasileira. Durante a semana a tendência é de assistir em Goiânia. Nos fins de semana deverá ser no interior, mas ainda não dá para saber em quais cidades”. 

A petista Katia Maria indicou que apesar de seguir com as articulações, sua agenda, quando os jogos caírem aos domingos, será em um ponto histórico e popular da capital, o Mercado da 74. “De todo modo, vamos acompanhar os jogos pelo rádio, internet e TV quando possível”, pontuou sobre a mudança no ritmo de trabalho. 

Já o pré-candidato democrata, Ronaldo Caiado, disse que torcerá pela Seleção, mas sem deixar o trabalho da pré-campanha de lado. Ele só admite que nos dias dos jogos do Brasil, se estiver em Goiânia, assistirá às partidas ao lado da família e amigos. (* Especial para O Hoje) 

Números das últimas eleições estaduais

2006                        Nº de votos                     Percentual

Brancos:                      44.752                             1,51%

Nulos:                           287.528                          9,68%

Abstenções:                762.775                          20,43%


2010                       Nº de votos                     Percentual 

Brancos:                       47.619                            1,51%

Nulos:                        183.165                             5,80%

Abstenções:               900.924                           22,20%


2014                       Nº de votos                       Percentual

Brancos:                      90.917                              2,68%

Nulos:                        258.019                             7,59%

Abstenções:               932.427                            21,53% 

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