Esposa de Ronnie Lessa desmente a versão do ex-PM sobre a noite do assassinato de Marielle

O depoimento de Elaine Lessa contradiz a versão de seu marido, Ronnie Lessa. As declarações contribuíram para que o outro acusado, Élcio de Queiroz, fechasse um acordo de delação

Postado em: 26-07-2023 às 18h19
Por: Tathyane Melo
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Ronnie Lessa e Élcio Queiroz | Foto: Divulgação / PMERJ

Em novo depoimento, Elaine Pereira Lessa, esposa do ex-policial militar Ronnie Lessa, que está preso suspeito de assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, afirmou que seu marido passou a noite fora de casa no dia do crime, o que contraria a versão anterior do suspeito. Segundo o depoimento, Elaine contou que permaneceu em casa no dia 14 de março de 2018, saindo apenas para levar o filho a um curso de inglês na parte da tarde, por volta das 15h30min.

Elaine Lessa contou em depoimento que na noite do crime contra a Marielle Franco e Anderson Gomes, ela chegou em casa por volta das 18h30min, e nesse momento, tanto Ronnie quanto Élcio Queiroz não estavam presentes. Ronnie chegou somente próximo ao amanhecer, logo depois que Elaine acordou para levar o filho à escola.

Essa nova versão apresentada pela esposa de Ronnie Lessa contraria o que o policial havia dito à polícia em um primeiro momento, onde alegava estar em casa no dia do crime. O novo depoimento foi prestado ao Setor de Inteligência da Polícia Federal do Rio de Janeiro em 23 de maio deste ano, cinco anos após o crime, e Elaine estava acompanhada de seu advogado.

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Elaine também afirmou aos investigadores que nunca soube do envolvimento do marido no caso e que ele nunca havia mencionado qualquer informação sobre a vereadora até o dia de sua prisão, sendo para ela uma grande surpresa.

Maxwell Simões, acusado de participar do plano para matar Marielle e de ajudar os assassinos a se desfazerem do carro, foi transferido para um presídio de segurança máxima em Brasília após sua delação. O vídeo da delação de Élcio revelou que ele e Ronnie Lessa eram amigos há mais de 30 anos.

“Eu conheço o Ronnie há mais de 30 anos. Ele é padrinho de consideração do meu filho Patrick. Então, nossa relação é nesse sentido, de família. Eu sou amigo da família dele, ele é amigo da minha família”, contou Élcio na delação.

Segundo os investigadores, Lessa utilizava mentiras para evitar que Élcio confessasse o crime, incluindo alegar que não tinha pesquisado sobre Marielle na internet, o que foi desmentido pelas investigações.

Entretanto, as autoridades do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF) conseguiram comprovar que Lessa, na realidade, pagou para obter acesso a um site privado contendo dados pessoais e realizou pesquisas envolvendo os CPFs de Marielle e de sua filha, além de um endereço que a vereadora havia visitado dois dias antes do crime.

Essa descoberta foi possível através de uma nova análise realizada nos documentos e em um cartão de crédito apreendido na residência de Ronnie Lessa quando ele foi preso em março de 2019. Nessa análise, os investigadores encontraram um login vinculado ao nome, e-mail e CPF de Ronnie Lessa.

Eles ainda identificaram que dos seis cartões de crédito utilizados para efetuar o pagamento das pesquisas no site, cinco estavam registrados em nome de Lessa. Um desses cartões correspondia ao que foi apreendido na casa de Ronnie Lessa.

A versão anterior dos dois acusados sobre o que fizeram horas antes do crime também foi desmentida pela investigação, incluindo o depoimento da própria esposa de Ronnie Lessa, Elaine, que relatou os eventos daquele dia. As provas apresentadas tiveram influência no acordo de delação fechado por Élcio de Queiroz. Élcio admitiu dirigir o carro usado no crime e implicou Ronnie Lessa como o executor do assassinato.

As cláusulas da delação de Élcio estão sob sigilo, e sua pena será estabelecida em um futuro julgamento, não havendo acordo para que ele não enfrente um júri popular, conforme esclarecido pelo Ministério Público do Rio.

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