Abraço de Lula e Caiado, uma demonstração de força mútua

Encontro do presidente e do governador ocorreu durante solenidade de lançamento de novo programa habitacional

Postado em: 24-11-2023 às 08h30
Por: Yago Sales
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Um reencontro, nesta quinta-feira (23), para tratar de novidades do novo “Minha Casa, Minha Vida”, rendeu o primeiro abraço entre eles | Foto: Divulgação

Dois personagens inconfundíveis da política brasileira. De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva, o maior líder da esquerda brasileira, com fama mundial, presidente pela terceira vez depois de disputar e perder o pleito outras três vezes. Do outro lado, o primeiro nome do agro a ter dimensão política, Ronaldo Caiado, que foi deputado federal, senador e governador no segundo mandato. Um reencontro, nesta quinta-feira (23), para tratar de novidades do novo “Minha Casa, Minha Vida”, rendeu o primeiro abraço entre eles. 

Os dois foram candidatos pela primeira vez à Presidência em 1989. Lula como o candidato urbano, sob o domínio do discurso pelos direitos dos trabalhadores, sobretudo dos metalúrgicos, profissão que o levou à fábrica ainda jovem. Caiado, de família tradicional em Goiás, levava ao debate a defesa da propriedade rural. 

À época, a campanha eleitoral era uma pérola atrás da outra. Certa vez,  Lula chamou Caiado de “homem do cavalo”, ao que o jovem político respondeu: “O senhor Lula ultimamente vem me chamando de ‘homem do cavalo branco’. […] O meu cavalo pasta na minha fazenda. Nunca comeu propina na mão de empreiteiros”.

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Um, barbudo, camisa com botões abertos, plantado pela mídia como brucutu. Outro, com sotaque inconfundível do goiano, mesmo assim com vocabulário de doutor. Trinta e quatro anos atrás, esses dois personagens contemporâneos da política brasileira protagonizaram o que havia de mais relevante do debate político, como sempre foi comum. Lula chegou a ir para o segundo turno, mas perdeu para Fernando Collor de Mello sob a promessa de caçar marajás. 

Desde então, Lula e Caiado mantiveram suas trajetórias de maneira coerente. Paralelamente ao crescimento do Partido dos Trabalhadores, e de braços políticos e de apoio, como o Movimento Sem Terra (MST), Caiado fortalecia o elo com o agro e o discurso da direita brasileira. Foi oposição aos governos petistas, de Lula, entre 2002 e 2010 e, não apenas opôs-se a Dilma Rousseff, como foi uma das principais vozes pelo impeachment da primeira mulher a chegar ao Planalto em 134 anos de República. 

Caiado foi eleito governador em 2018 e reeleito em 2022. Nas duas eleições, apoiou a candidatura de Jair Messias Bolsonaro à Presidência contra candidaturas petistas. De qualquer forma, não é visto, por analistas políticos, como um “bolsonarista” por ter, na própria identidade, a verve da direita. Com isso, tem o próprio rumo. E, embora discorde de suas ideias, Lula o respeita. 

Por isso a fotografia do encontro entre Lula e Caiado tem tanta representatividade política. Ancorados no compromisso de elevar o espírito republicano, representando seu povo – Caiado, goianos e Lula, os brasileiros -, ambos demonstram que, o que vale mesmo, é o respeito ao cargo que cada um tem. 

Lula é presidente. Caiado é governador. E ambos têm compromissos que ultrapassam a linha tênue entre o lado pessoal e, por isso, ideológico. São fotografados para dizer que é assim mesmo que se faz política. Adversários, não inimigos que, de tantas maneiras diferentes num passado nem um pouco distante, obstruíram as artérias do funcionamento do estado. Na imagem, transmitem a ideia de que governo não é – e nem deve – ser contra governo. 

Que, com a caneta nas mãos, Lula pode, sim, distribuir – também – para estados governados por adversários políticos, que o devem ir às urnas, mas que se torna em um aliado para a entrega de casas, dinheiro para construção de escolas, compra de ônibus escolares, entre tantos benefícios. 

Afinal, o abraço demonstra o tanto que um precisa de outro. Não apenas do ponto de vista administrativo, de transferência de verbas, mas demonstrar, ao povo brasileiro, ao eleitor cansado de gente briguenta, de que ambos não são extremistas – de esquerda e de direita. E que conseguem convergir, debater e encontrar o meio tempo para contribuir à melhoria da vida das pessoas.

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