Risco à democracia: violência política preocupa conforme eleição se aproxima

A presidente da Câmara de Nazário, Beatriz Fernandes de Carvalho, denunciou o prefeito por violência e pediu medida protetiva; a vereadora e favorita à disputa à prefeitura de Formosa, Delegada Fernanda, relatou ameaças em entrevista

Postado em: 02-12-2023 às 10h30
Por: Yago Sales
Imagem Ilustrando a Notícia: Risco à democracia: violência política preocupa conforme eleição se aproxima
O problema, no entanto, é quando o campo do debate, da troca de ideias, críticas vão para um terreno preocupante: o da violência sem retorno | Foto: Ana Clara Moscatelli

Ano que vem, os goianos vão escolher vereadores e 246 prefeitos com mandatos de quatro anos. Como é de praxe, ganha quem oferecer, ao eleitorado, mais força política, melhores propostas e capacidade para gerir. São vários requisitos. Muitos dos municípios goianos, prefeitos e prefeitas vão, como é comumente, buscar a reeleição. 

Mesmo assim, devem enfrentar oposicionistas que querem, como via de escape, vencer o pleito. Em muitos casos, o opositor é ex-prefeito, um ex-aliado – até o atual vice-prefeito – e vereadores. Ou pode ser o médico, o professor ou comerciante popular da cidade. Constitucionalmente, está tudo bem, dentro dos requisitos da Justiça Eleitoral e do que se chama de democracia. 

Casos recentes, no entanto, trazem preocupação para quem discute e tenta fazer política. Em visita à redação do jornal O Hoje nesta quinta-feira (30), a vereadora Delegada Fernanda, Formosa, contou que, mesmo para ela, que exerce a profissão de policial – no caso, como a alcunha sugere, é delegada – vem sofrendo ameaças. Ao lado do marido, o tenente-coronel Braúlio Flores, comandante regional do Corpo de Bombeiros, ela contou que já registrou vários boletins de ocorrência. “A situação piorou quando me tornei favorita na disputa pela prefeitura”, ela disse. 

Continua após a publicidade

Nesta sexta-feira, a presidente da Câmara Municipal de Nazário, a vereadora Beatriz Fernandes de Carvalho, também procurou a polícia para denunciar – e pedir medida protetiva – contra o prefeito da cidade, João Batista de Carvalho, que, inclusive, é seu tio. 

Ela alega que vem sofrendo violência física e psicológica. Ao jornal Opção, ela relatou: “Desde quando eu assumi a Câmara de Vereadores, como presidente, isso se agravou. E aí em determinados momentos ele me xingava de mentirosa, de vagabunda… Dentro da sessão na Câmara eu fui chamada de vagabunda tanto pelo prefeito quanto pelo irmão dele”. 

O problema, no entanto, é quando o campo do debate, da troca de ideias, críticas vão para um terreno preocupante: o da violência sem retorno. Antes de ameaças, muitas das quais velada, anônima, por meio de ligação, mensagens ou bafafá pela cidade, pode terminar com agressões físicas, atentados à bala e assassinatos.  

Mas, nem sempre, a violência política vem por meio de um empurrão durante um debate, um dedo em riste ou após a ordem para atacar a tiros a fachada de algum diretório político. Às vezes surge com complôs para não aprovar a emenda de algum vereador opositor, acompanhando de microfone desligado e falas misóginas. 

Um caso do tipo ocorreu durante desentendimento entre o presidente da Câmara de Aparecida, André Fortaleza (MDB) e a vereadora Camila Rosa (PSD) durante uma sessão quando ele mandou cortar o microfone da colega. A justiça arquivou o processo de violência política. 

Alguns fatores determinantes podem aquecer, para o mal, este ambiente: a impossibilidade de a polícia conseguir, pela quantidade de casos, resolver a situação, identificando e punindo quem quer fazer política por meio da violência. 

Em Goiás, alguns casos mancham de sangue a história política. Em maio deste ano, o vereador Thiago Vieira Lopes, 37 anos, chamado de Thiago Bala, foi assassinado a tiros em Itaguaru. Ele estava trabalhando na zona rural do município. A polícia ainda não descobriu a autoria. 

 Em 1999, o então prefeito de Monte Alegre de Goiás, Zé da Covanca, foi encapuzado e morto em frente da sua casa. O mandante, segundo o Ministério Público, seria o vice-prefeito da época, Antônio Pereira Damasceno, que estava rompido com o titular do cargo. 

Outro crime que chamou atenção foi o assassinato do vereador de Turvelândia Odaelson Araújo da Silva – ele era presidente da Câmara Municipal – que, segundo a Justiça, foi morto por disputa política a mando do ex-prefeito Rui César Mendonça – ele foi condenado a 15 anos de prisão em julgamento em 2023. 

O crime ocorreu em 2006 e, de acordo com a investigação, foi motivado por disputa política. No total, nove foram acusados e presos no mesmo ano do crime. Eles ficaram pouco mais de dois anos presos e foram soltos

Anos mais tarde, em 2015, o prefeito de Matrinchã, Daniel Antônio de Souza (PTB), de 50 anos, e a mulher dele, Elizeth Bruno de Barros, 40, foram assassinados na chácara do casal. A política descobriu que o caso foi armado e executado por três secretários do prefeito, inclusive aliados. 

Numa ação fotografada, em 2016, um tiroteio deixou espantado até o vice-governador e secretário de segurança em exercício, José Eliton. Um homem matou o candidato a prefeito de Itumbiara, José Gomes, 58 anos, do PDT, a tiros. O criminoso foi identificado como Gilberto Ferreira do Amaral, de 53 anos, funcionário da Prefeitura de Itumbiara. Ele foi morto por seguranças do governo.

Veja Também