Setor de leite pressiona governo por estímulo após aumento da importação

Vice-presidente da Faeg diz que prejuízo pode ter atingido mais de um milhão de criadores da pecuária bovina no estado, pressionando o aumento do abate de vacas para compensar a demanda da carne

Postado em: 11-12-2023 às 08h16
Por: Gabriel Neves Matos
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Vice-presidente da Faeg diz que prejuízo pode ter atingido mais de um milhão de criadores da pecuária bovina no estado, pressionando o aumento do abate de vacas para compensar a demanda da carne | Foto: Joédson Alves/ABr

No período de janeiro a outubro deste ano, o Brasil registrou crescimento de 72% nas importações de lácteos em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) e foram repercutidos no balanço de fim de ano da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). 

Embora as estimativas apresentadas no levantamento indiquem certo aumento da produção de leite em Goiás ao longo de 2023, o setor é considerado um dos mais prejudicados do agronegócio devido a importação do mercado argentino. Segundo Eduardo Veras, vice-presidente da Faeg, o prejuízo pode ter atingido mais de um milhão de criadores da pecuária bovina no estado,  pressionando o aumento do abate de vacas para compensar a demanda da carne. 

Esses dados têm conduzido produtores de diversas regiões do país a insistir para que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tome medidas mais protecionistas e de estímulo ao setor. No Legislativo, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, por exemplo, tem pautado os impactos da importação de laticínios de países do Mercosul na produção nacional. Parlamentares do agro reclamam a falta de políticas públicas eficazes que contemplem os produtores de leite. 

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“Sempre teve os altos e baixos no setor do leite”, diz a deputada federal Marussa Boldrin (MDB) ao jornal O Hoje. “E a parte mais fraca, economicamente, é a do produtor, que está lá no setor primário. Eles acordam muito cedo, de madrugada, para tirar o leite e estão [em um contexto] no ambiente de produção familiar. A incerteza cai para ele, que geralmente não sabe quanto é que vão pagar pelo seu produto.”

Boldrin, que é vice-presidente da Subcomissão Permanente sobre a Produção de Leite da Câmara dos Deputados, explica que o aumento da importação diminuiu o poder de negociação dos produtores de leite. 

A discussão no Legislativo sobre a matéria, segundo diz, passou por instabilidades nos últimos meses a respeito de quem era a responsabilidade até assinatura de decreto presidencial, em setembro, que criou Grupo de Trabalho interministerial para definir medidas de incentivo e ações estruturantes para o setor do leite, em especial para a agricultura familiar. O decreto prevê o corte de subsídios das empresas que importam leite e mantém subsídios da compra interna. 

Segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), as importações de leite em pó aumentaram, de janeiro a julho deste ano, 268% em comparação com o mesmo período de 2022. Mais de 90% desse volume vem da Argentina e do Uruguai, países que fazem parte do Mercosul. 

“É uma situação de insegurança e incerteza, para os produtores de leite, de não saber, por exemplo, por qual preço ele vai conseguir vender a vaca no próximo ano”, afirma Boldrin. “O pior é que há pequenas propriedades que vivem do leite. O que essas pessoas vão fazer da vida?”, questiona. 

O impacto dessa crise poderá ser visto especialmente, de acordo com Boldrin, na realidade dos pequenos produtores. “O que tira pouco é refém do sistema. Para ficar maior, é preciso ter investimentos. Com a validação do decreto no ano que vem, a expectativa é que haja mais oportunidades para que o mercado interno possa concorrer com esse leite importado”, destaca a deputada, que ainda defende que a fiscalização do que entra no Brasil seja mais rigorosa.

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