Aversão ao petismo pode dificultar planos de Gomide em Anápolis
Se Bolsonaro mergulhar na disputa em Anápolis, pode representar uma séria ameaça ao projeto esquerdista, especialmente ante a já esperada ausência de Lula
Por: Felipe Cardoso
Entre os políticos mais experientes, há um consenso: toda eleição só termina com a abertura das urnas. No contexto específico do município de Anápolis, os rumores relacionados à disputa eleitoral de 2024 apontam para um favorito: Antônio Gomide, ex-prefeito da cidade e atual deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Gomide é um político experiente, tendo sido testado pela população de Anápolis em duas ocasiões anteriores. Ele conhece bem o funcionamento da máquina pública e pretende explorar essa vantagem ao máximo durante a campanha. No entanto, seu alinhamento político-ideológico com o PT pode ser um obstáculo para alguns eleitores.
As pesquisas pré-eleitorais apontam Gomide como favorito, mas há um dilema. Anápolis é vista como uma das cidades mais inclinadas ao bolsonarismo no Estado. A população tem simpatia pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e, consequentemente, demonstra aversão ao atual governante, o presidente Lula.
Para alguns analistas, Gomide se beneficia mais sem a presença de Lula em seu palanque. Mesmo sendo o presidente da República, Lula não desfruta do prestígio popular em Anápolis. Essa situação começa a se refletir nos números.
Uma pesquisa realizada pelo Jornal Opção em Anápolis revelou que a gestão Lula não é aprovada pela maioria esmagadora dos anapolinos. Apenas 8% dos 600 entrevistados consideram a gestão ótima, enquanto 12% a classificam como boa. A maior fatia, 38%, a considera “péssima”. Gomide tem acesso a esses dados e precisa lidar com o desafio de desidratar o bolsonarismo, que ainda não se manifestou plenamente em Anápolis.
O cenário aponta para Márcio Correa como representante do bolsonarismo. Ele trabalha nos bastidores e migrou do MDB para o PL, partido do ex-presidente. A preocupação de Gomide reside na força que o bolsonarismo pode ganhar quando a corrida eleitoral começar oficialmente.
Diante do desgaste do PT em Anápolis, uma alternativa ventilada é adotar a estratégia de Adriana Accorsi em 2016, quando concorreu à prefeitura de Goiânia. Naquela época, a campanha da petista se distanciou dos símbolos e cores do partido, que enfrentava queda de popularidade devido aos supostos escândalos de corrupção, bem como a queda da então presidente Dilma Rousseff.
No entanto, o que se sabe até agora é que Gomide tende a não contar com o endosso eleitoral do presidente Lula em agendas em Goiás. Conforme mostrou reportagem do HOJE na semana passada, o deputado federal Rubens Otoni (PT) disse que com a crise no Rio Grande do Sul, uma visita do mandatário ao estado goiano deve ficar para depois. Otoni, que é irmão de Gomide e que está em sua coordenação da campanha, reforça que a visita de Lula a Goiás terá caráter institucional e não eleitoral. “A agenda do presidente não será eleitoral. Será institucional, em alguma inauguração ou lançamento de programas”, afirmou.
Fato é que o cenário de agora é completamente diferente daquele em que o Brasil se encontrava há oito anos atrás. Lula está na presidência e pode não fazer o mesmo sentido tentar afastar sua imagem da campanha. Ao mesmo tempo, Bolsonaro, apesar de já não ocupar a mais cobiçada cadeira da política brasileira, segue entre os nomes mais influentes da história do País. Se mergulhar na disputa em Anápolis pode representar uma séria ameaça à esquerda, especialmente ante ao vazio de Lula na disputa.