O longa-metragem ‘Tarsilinha’, homenagem à Tarsila do Amaral, chega aos cinemas brasileiros

A experiência dos espectadores do filme tem como base a paleta de cores, o traçado e as nuances das obras da artista.

Postado em: 11-03-2022 às 08h33
Por: Redação
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A experiência dos espectadores do filme tem como base a paleta de cores, o traçado e as nuances das obras da artista | Foto: Reprodução

Por Lanna Oliveira

A relevância histórica e cultural de um dos principais nomes das artes plásticas do Brasil se converte em uma lúdica aventura no longa-metragem ‘Tarsilinha’, animação de Celia Catunda e Kiko Mistrorigo. A pintora Tarsila do Amaral, homenageada na produção cinematográfica, tem papel importante na história do Brasil. Representante fiel do Modernismo, ela unia em sua arte a brasilidade às influências daquilo que estava sendo produzido na Europa em sua época. O filme estreia esta semana em todos os cinemas nacionais.

‘Tarsilinha’, produzido pela Pinguim Content, explora durante a trama todo o universo visual da modernista Tarsila do Amaral. A personagem principal do filme mergulha na experiência sensorial proporcionada por obras da artista para tratar de temas como memória, amadurecimento e coragem.  A aventura começa quando a personagem principal, homônima ao filme, tenta recuperar os bens mais preciosos de sua mãe: as suas mais marcantes recordações. Para alcançar esse objetivo, Tarsilinha se depara com vilões perigosos. 

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No entanto, ao longo da jornada, aparecem valentes aliados, sem os quais não será possível driblar os obstáculos. Tantos os aliados quanto os oponentes de Tarsilinha nesse percurso ganham vida a partir de quadros da modernista. Da obra ‘A Cuca’, por exemplo, saem os vilões Lagarta e Tatu Pássaro. Daquele cenário, imaginado por Tarsila do Amaral, também surge o Sapo, fiel parceiro da protagonista diante de tamanhas adversidades. Os ambientes que compõem o longa-metragem também estão presentes em outros itens do acervo da artista.

“O próprio roteiro foi criado em cima do passeio sobre essas obras que a gente escolheu. Então a gente estruturou o filme em macro ambientes, que eram os quadros”, comenta Celia. As vozes dos personagens também são o destaque da animação. A Lagarta é interpretada pela atriz Marisa Orth, ao passo que o funcionário da estação de trem recebe a voz do apresentador Marcelo Tas. “A locução é determinante para um personagem na animação. O nosso caminho até as escolhas foi muito intuitivo e criterioso ao mesmo tempo”, reconhece Kiko.   

“O filme não tem uma narrativa apenas infantil. Há um segundo nível de leitura que você pode tratar e interpretar bastante sobre a assimilação de culturas diferentes para a criação de coisas novas ou sobre a memória”, explica Celia. Kiko sublinha o fato de Tarsilinha chegar ao público no mesmo ano em que é comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922: “A coincidência de datas é uma grande oportunidade de mostrarmos a nossa grande artista para as novas gerações e como ela estava à frente do seu tempo”.

A produção fez sua estreia internacional no Festival de Xangai (China), foi escolhido o melhor longa-metragem de animação latino-americano no Festival Chilemonos (Chile) e selecionado para o Festival de Chicago (EUA). A animação não conta a vida da artista plástica, cuja obra é reconhecida como uma das mais importantes para o Modernismo no Brasil, mas assume como ponto de partida a paisagem rural, com a qual Tarsila do Amaral conviveu de fato, para apresentar a protagonista e sua mãe. 

Quem foi Tarsila para o Modernismo?

Tarsila do Amaral é considerada por muitos como a musa do movimento modernista no Brasil. Portanto, apesar de pertencer ao Modernismo, ela não estava no Brasil em fevereiro de 1922, mês da Semana de Arte Moderna de São Paulo. Na época, ela residia em Pais, e também se aventurava pelo mundo. Porém, esse fato não a impediu de se informar sobre as propostas do movimento, já que se comunicou via carta com a sua amiga Anita Malfatti e nem de influenciar muitos artistas de geração e das futuras.

Cabe também falar da importância da obra de Tarsila: apesar de ter vivido anos na Europa, o Brasil, seu povo, natureza e costumes eram a maior fonte de inspiração para as suas telas. O exemplo mais famoso da brasilidade nos trabalhos de Tarsila é ‘O abaporu’, tela cujo nome significa em idioma indígena o comedor de carne humana. A ideia do canibalismo foi uma metáfora dos modernistas para a apropriação da cultura estrangeira, misturada à tipicamente brasileira. Esse pensamento, denominado Antropofágico, esteve presente na vida e na obra de Tarsila do Amaral até o final de sua vida, em janeiro de 1973.

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