Centro da Capital convive com monumentos e prédios históricos e abandono

Ruas sujas, calçadas avariadas, iluminação precária e fachadas comerciais que encobrem prédios antigos fazem parte da realidade do bairro

Postado em: 24-03-2022 às 07h42
Por: Redação
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Ruas sujas, calçadas avariadas, iluminação precária e fachadas comerciais que encobrem prédios antigos fazem parte da realidade do bairro | Foto: Pedro Pinheiro

Por Ítallo Antkiewicz

O setor Central, bairro mais antigo de Goiânia e conhecido pela arquitetura em estilo Art Déco, é vítima de descaso e falta de cuidados. Quem caminha pelo Centro percebe que a região não vem recebendo a atenção que merece. Ruas sujas, calçadas avariadas, iluminação precária e fachadas comerciais que encobrem prédios antigos fazem parte da realidade do bairro. Moradores, comerciantes e urbanistas reclamam da situação do bairro, que conta atualmente – segundo eles – com o empenho da iniciativa privada para melhorar o local.

Conforme informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), os primeiros prédios da Capital foram erguidos entre 1940 e 1950. No total, existem 22 deles tombados pelo órgão. Entretanto, a falta de preservação e cuidado com este acervo acaba ofuscando o charme e beleza do patrimônio.

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O Iphan destaca que os monumentos e edifícios que compõem o conjunto arquitetônico tombados contam com estados de conservação distintos, estando alguns  bem conservados e outros não.  O Instituto esclarece que cabe ao responsável pelo bem cultural executar ações para garantir a sua devida conservação. 

“No Centro de Goiânia, por exemplo, temos bens culturais que apresentam bom estado de preservação por terem passado recentemente por obras de restauração pelo Iphan, a exemplo da Antiga Estação Ferroviária, do Coreto, da Torre do Relógio e da Antiga Chefatura de Polícia, que foi entregue no mês passado”, destaca o Iphan em nota. 

O tombamento federal, conforme explica o Iphan, é um instrumento utilizado pelo órgão para reconhecimento de um bem como parte do Patrimônio Cultural Brasileiro, ou seja, é um reconhecimento federal de que existe na localidade um bem com relevância nacional. Contudo, a responsabilidade pela conservação, uso e gestão continua sendo do proprietário. Isso vale para qualquer bem tombado, seja de uso público ou privado. 

Fachadas encobertas por publicidades e falta de acessibilidade

Integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), David Finotti explica que o bairro enfrenta alguns problemas, como falta de acessibilidade e fachadas que escondem a beleza arquitetônica dos prédios. “Podemos citar a questão da ocupação das fachadas de diversos edifícios históricos da região com propagandas e letreiros que causam poluição visual e uma desvalorização do nosso patrimônio”, afirma.

“Outro elemento importante que ocasiona problemas na região é a falta de acessibilidade: pessoas com mobilidade reduzida tem uma imensa dificuldade de percorrer a região, levando em conta a falta de compatibilidade entre as calçadas, os rebaixos de meio-fio e a ocupação desses espaços para exibição de produtos pelos comerciantes”, pontua o arquiteto e urbanista.

Segundo Finotti, o Centro ainda enfrenta uma dificuldade relacionada à questão do abandono da região no período noturno, que ocorre devido ao desestímulo de ocupação da região por habitações e outros comércios e serviços que trazem movimento em todos os períodos. “Hoje encontramos diversos movimentos que tentam dar vida ao nosso querido Centro, mas ainda falta muito a se percorrer”.

O arquiteto e urbanista aposta que criar um eixo de espaços e movimentos ligados à cultura na região central consequentemente estimulará a ocupação dessas áreas e transformação de espaços abandonados e decadentes em pontos de atrativos sociais e econômicos para o Centro. 

“A construção de um eixo cultural entre o Palácio da Cultura [que funcionará no antigo prédio da Assembleia Legislativa de Goiás] e áreas já consolidadas – como o Beco da Codorna, a Rua do Lazer, o Mercado da 74, o Mercado Central, Teatro Goiânia, bares, restaurantes e outros movimentos ocupacionais – pode ser um passo fundamental para a revitalização do Centro da cidade”, destaca o arquiteto.

O acervo em Goiânia encontra-se em um estado preocupante. “Vemos uma descaracterização muito grande de edifícios históricos pela presença de banners, outdoors e fachadas de publicidade de comércios e de serviços. Algumas edificações estão abandonadas e outras necessitam de intervenções urgentes para que parte desse patrimônio não se perca”, salienta. 

Já o presidente da Sociedade Goiana de Art Déco, Gutto Lemes, ressalta que o Centro da cidade precisa começar suas mudanças repensando a poluição visual. Segundo ele, as ocupações culturais podem atrair olhares para Goiânia, que é tida como referência mundial na arquitetura art déco. “É preciso desobstruí-las, pois, desta forma, turistas serão atraídos para a região, o que pode gerar lucro aos cofres do município”, completa.

Comerciantes movimentam e revivem o Centro

Ex-morador do Centro, o arquiteto Danilo Bastos, 27 anos, acredita que é necessário maior fomento à abertura de bares e restaurantes na região. “Bares atraem pessoas”, destaca o arquiteto, ressaltando que grandes cidades contam com concentração de estabelecimentos boêmios na região central, ao contrário de Goiânia. “Porém, eu reconheço que está havendo algumas ações com intenção de promover a ocupação do Centro, coisa que não se via antes”, ressalta.

Proprietário de um bar no Centro, o jornalista Heitor Vilela destaca a atuação dos comerciantes da região para não deixar o Centro em situação de abandono. Ele cita que existem iniciativas de caráter privado, que surgiram nos últimos anos – a exemplo da Casa Liberté, Zé Latinhas, Charminho da Araguaia, Carvalho’s Choperia e TÔ Bar – que vem atraindo frequentadores para o bairro.

“O público adora vir ao Centro, existe uma nostalgia e um interesse arquitetônico em se frequentar essa região da cidade, fora a questão de mobilidade, uma vez que se tem acesso e saída para todos os lados de Goiânia”, ressalta 

O comerciante reclama também da manutenção dos serviços públicos. “Além disso, a coleta de lixo, manutenção da iluminação pública deixam a desejar em relação a setores mais elitizados da Capital. Outro ponto que poderia ajudar, seria o incentivo fiscal ou via lei, para que proprietários de prédios e casas históricas da região central, possam reformar e manter as fachadas na arquitetura original”, afirma.

Sobre a limpeza urbana no local, a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) informou à reportagem por meio de nota que “vai enviar uma equipe aos endereços citados a fim de verificar e corrigir possíveis falhas. A coleta de lixo nessa região é diária e não consta nenhuma irregularidade”.

Com relação à iluminação pública, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) informou, por meio de nota, que “realizará ainda essa semana a vistoria na iluminação dos pontos indicados pela reportagem para resolver a demanda o mais rápido possível”. 

Sobre as melhorias no Centro de Goiânia, a prefeitura informou, por meio da Secretaria Municipal de Planejamento Urbanismo (Seplam), que a ocupação da região central será tratada como prioridade a partir de agora por conta do novo Plano Diretor – aprovado em segunda votação pela Câmara Municipal de Goiânia em 4 de fevereiro e sancionado pelo prefeito Rogério Cruz no dia 4 de março.

A reportagem solicitou – por telefone e via e-mail – entrevista com a pasta para explicar quais seriam os investimentos e ações em prol da melhoria do Centro da Capital que constam do novo Plano Diretor. Entretanto, até o fechamento desta edição, a equipe de reportagem não obteve resposta.

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