Saiba quem é a filha com doença rara que Arthur Lira se recusava a reconhecer

Em dezembro de 2010, uma decisão judicial de primeira instância obrigou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), a assumir a paternidade de uma criança com deficiência, que só agora veio à tona. A filha foi fruto de uma relação extraconjugal, que ocorreu em 2002, com uma jovem de 20 anos.

Postado em: 10-06-2022 às 17h37
Por: Ana Bárbara Quêtto
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O laboratório da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) executou o teste de DNA, que apontou Lira como o pai biológico, com mais de 99% de probabilidade | Foto: Reprodução

Em dezembro de 2010, uma decisão judicial de primeira instância obrigou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), a assumir a paternidade de uma criança deficiente, que só agora veio à tona. A filha foi fruto de uma relação extraconjugal, que ocorreu em 2002, com uma jovem de 20 anos.

Segundo a Agência Pública, a mãe trabalhava distribuindo panfletos para a campanha de reeleição de Lira à Assembleia Legislativa de Alagoas. Hoje, a filha tem 19 anos. Aos quatro anos de idade, foi diagnosticada com um tipo raro de epilepsia que causa dano no desenvolvimento psicomotor, chamada de síndrome de West.

A jovem necessita de cuidados especiais e ajuda para completar tarefas do dia a dia, como trocar de roupa, comer, andar e tomar banho. A mãe e filha moram em uma cidade próxima à Maceió, em uma casa simples. Dados coletados pela Pública afirmam que Lira foi procurado e comentou sobre o assunto.

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“O povo brasileiro quer saber o que estamos fazendo para combater a inflação, reduzir o preço dos combustíveis, da energia, do gás de cozinha, dos alimentos. O povo brasileiro espera medidas que gerem mais empregos, renda e traga desenvolvimento”, disse a nota do presidente.

“É isso que estamos fazendo dia a dia: buscando soluções que melhorem a vida de cada cidadão e cidadã. Esse é o nosso foco permanente. A vida privada de um homem público não interessa quando não há nenhuma relação de irregularidade ou ilegalidade”, concluiu o texto.

A mulher também se pronunciou: “Eu não tenho nada para falar, sou uma pessoa normal, que segue a minha vida, trabalhando e fazendo as minhas coisas. Sem falar que minha vida pessoal não diz respeito a ninguém”.

Investigação

Em 2008, a bilheteira entrou com uma Ação de Investigação de Paternidade Cumulada com Alimentos contra Lira. Apesar do processo ser tramitado sob sigilo, a sentença acabou sendo divulgada no órgão oficial da imprensa.

No relato dos autos, a mãe diz não ter conseguido acesso a Arthur Lira para contar da gestação. A mãe relata que Lira descobriu a existência da filha pelo seu assessor e, logo após, recusou a reconhecer a paternidade da criança.

O laboratório da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) executou o teste de DNA, que apontou Lira como o pai biológico, com mais de 99% de probabilidade. O parlamentar contestou o exame por meio de seu advogado, argumentando que o exame caracteriza a exclusão da paternidade.

O juiz reforçou em sua sentença que o resultado do teste de DNA tem total credibilidade. A sentença proferida em 2010 determinou que Arthur Lira pagasse à filha pensão de 20% referente ao seu subsídio líquido, que na época era de R$20 mil.

Lira não reconhece a filha, diz ex-mulher

Em entrevista à Agência Pública, Jullyene Lins, mulher de Lira na época, afirma que o deputado escondeu por muito tempo o parentesco com a menina. A ex-mulher comenta que, o parlamentar só lhe contou sobre o caso após três anos do nascimento de Gabriela, em 2006, por medo da história vazar em ano de eleição.

“Olha, não vou reconhecer, não sei se é minha filha, mesmo se fizer DNA, o advogado vai dar um jeito. Não quero saber, pra mim nem existe, não quero saber e você vai ficar calada”, disse Lira à Jullyene.

A ex-mulher conta que a situação foi o estopim para a separação do casal. “Uma pessoa, que é pai dos seus filhos, tem uma conduta dessa, aí foi por água abaixo”, observou. Além disso, ela relata que, ainda casado, Lira mantinha relacionamentos públicos com outras mulheres.

“Ele sempre foi muito namorador. A mulher já é tida para aguentar as traições do marido, e no Nordeste isso é pior ainda. Porque o machismo é assim aqui no Nordeste: se a mulher trair o homem, é rapariga, prostituta, mas se o homem trair ele é o gostosão, o fodástico. Então, ele sempre teve muitas namoradas e ao mesmo tempo ciúmes de mim. Eu não podia sair de casa, só saía com motorista”, explicou Jullyene.

Agressão

De acordo com a então esposa, Lira exigia que ela fosse “uma dona de casa perfeita”. Ela fala que o deputado, quando chegava em casa, passava os dedos nos móveis para conferir se todos estavam limpos.

“Você é uma inútil, não presta pra nada. Só presta mesmo pra cuidar dos meninos, pra dar educação, pelo menos não faz eu passar vergonha em um restaurante”, gritava Lira ao encontrar algum tipo de sujeira na casa.

“Eu era a ‘dondoquinha’, tinha que andar bem-vestida, arrumada, eu era no pedestal para política, para caminhar, para fazer reunião com as mulheres junto com a mãe dele, pra cuidar dos meninos e para cuidar da roupa dele. Pra isso eu prestava”, relembra.

“Porque, se tinha uma blusa amassada, ele pegava, amassava mais, jogava no chão e gritava comigo perguntando o que eu estava fazendo dentro de casa, que não estava vendo que a blusa dele estava mal passada”, lembrou emocionada.

A ex-esposa do deputado depôs contra o presidente da Câmara dos Deputados na Operação Taturana, deflagrada em 2007 pela Polícia Federal (PF). Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Arthur Lira  teria liderado um esquema de “rachadinhas” na Assembleia Legislativa de Alagoas, quando ainda era deputado estadual (2001-2007).

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