Coordenador da força-tarefa fala sobre os desafios do caso

Coordenador da força-tarefa da PCGO, delegado Deusny Aparecido, fala sobre desafios do caso

Postado em: 15-10-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Coordenador da força-tarefa da PCGO, delegado Deusny Aparecido, fala sobre desafios do caso

Há quatro anos, no dia 14 de outubro de 2014, a Polícia Civil de Goiás concluía uma das mais complexas e amplas investigações de sua história: era capturado o assassino em série Tiago Henrique Gomes da Rocha. A seguir, leia uma entrevista realizada junto ao coordenador desse trabalho, o delegado de polícia Deusny Aparecido, superintendente de Polícia Judiciária à época, que revela detalhes importantes e momentos marcantes da formação da força-tarefa destinada a investigar a onda de assassinatos na região da Grande Goiânia e os desdobramentos da ação que colocou a PCGO no quadro das melhores polícias investigativas do país.

O senhor coordenou a investigação mais complexa da história da PCGO. O que o senhor sentiu ao receber essa responsabilidade?

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À época, é bom lembrar que nada indicava se tratar de uma só pessoa, ou da ação de um serial killer. O que existia eram indícios. Ninguém tinha certeza nenhuma. Eram apenas conjecturas. Por isso, foi criada a Força-Tarefa, que envolveu outros policiais de outras unidades da Polícia Civil, que não apenas aqueles da Delegacia de Homicídios. Percebemos a necessidade de haver uma estrutura maior e que nos possibilitasse analisar e trabalhar aqueles casos especificamente, para que pudéssemos chegar a uma solução. 

À frente da Superintendência de Polícia Judiciária, fomos buscar, em todo o Estado, aqueles policiais com perfil para atuar nesse tipo de investigação para integrar essa força-tarefa no mês de agosto de 2014 para investigar especificamente aqueles crimes que estavam ocorrendo em toda a região da Grande Goiânia. 

Quando resolvi assumir a coordenação da força-tarefa, é claro que isso foi feito a partir de um grande sacrifício profissional e pessoal, mas eu não podia deixar de realizar aquela missão, tendo em vista o nosso compromisso junto à sociedade e aos parentes das vítimas. Foi um momento difícil da minha vida, mas que, graças a Deus, com a colaboração de cada um desses setores que foram indicados para a força-tarefa, que se desdobraram e se sacrificaram, mas conseguiram chegar ao resultado, conseguimos realizá-lo, claro que, sempre, com Deus à frente para nos guiar e conduzir nessa árdua jornada.

A investigação é considerada modelo não só para a polícia judiciária goiana, mas para todo o Brasil. Quais foram os momentos determinantes desse trabalho?

Olha, realmente essa investigação foi um marco. Não dizemos isso com alegria, por conta do preço humano que se pagou para a produção desse resultado. Afinal, foram muitos assassinatos que ocorreram. Nosso sentimento é mais o de dever cumprido. Unimos as forças em nome de um objetivo único, que era fazer cessar aquele número de homicídios. Foram vários os momentos determinantes, marcantes. O fato que desencadeou essa percepção da necessidade de uma ação diferenciada foi, como já disse, o assassinato da jovem Ana Lídia. A partir daí, e da composição da força-tarefa, o nível de comprometimento foi total, tanto que, ao longo de todo o funcionamento da força-tarefa, nenhuma informação importante para o trabalho investigativo chegou vazar, mesmo com o envolvimento de tantos policiais. Tudo era tratado em grupo. 

Felizmente, da formação da força-tarefa, no dia 04 de agosto, até a prisão do Tiago, no dia 14 de outubro, não ocorreram mais homicídios. Mas, do dia 11 para o dia 12 de outubro, ou seja, um final de semana antes da prisão, ocorreu uma tentativa de homicídio de autoria dele no Jardim América. Esse fato foi muito marcante porque, quando ele acionou o gatilho no peito da jovem, ela não disparou. Por duas ou três vezes ele acionou o gatilho, mas a arma falhou. A vítima relatou, nos autos, que, no momento da ação do serial killer, ela fez uma oração que os católicos chamam de “Maria, passa na frente”. Na segunda-feira, dia 13, esse fato fez com que tomássemos a decisão de realmente tomar as providências para prender o serial killer, porque já tínhamos reunido muitos elementos de informação que poderiam possibilitar a sua captura. Já tínhamos tudo sobre ele, menos a identificação.

No briefing para organizar as equipes que iriam realizar a prisão do Tiago, o senhor afirmou que tinha certeza absoluta de que ele seria preso dentro de poucas horas, o que de fato aconteceu. De onde o senhor acredita que veio essa certeza?

Realmente eu tinha essa certeza, e nesse momento preciso testemunhar que, diante dos 140 colegas que estavam ali, essa certeza vinha da fé. Eu acredito em um Deus Maior. Quando a Ana Lídia foi assassinada, eu fui a uma igreja, muito consternado com aquela situação. Ao fim da missa, eu procurei o padre e disse a ele: “A Polícia Civil, a sociedade de Goiás precisam da bênção do Senhor Jesus para que a gente possa prender essa pessoa que está praticando esses homicídios”. Nesse momento, o padre estendeu a mão e abençoou toda a Polícia Civil. A partir daquele momento, eu fui tomado de uma fé muito forte e de uma certeza de que nós conseguiríamos cessar aquela onda de homicídios. 

Quatro anos depois desse trabalho, qual é o balanço que o senhor faz da evolução da PCGO como polícia investigativa?

Após esses quatro anos, que realmente foi um divisor de águas, não somente para a Polícia Civil de Goiás mas para todas as polícias judiciárias do país, eu vejo que a Polícia Civil de Goiás vem evoluindo a cada dia. Ela tem mostrado a cada momento a qualidade e especificidade de seu trabalho e a importância desse trabalho para a sociedade. Nossos servidores tê, a cada ano, se profissionalizado e aprimorado mais. Hoje, sou muito grato e fico muito feliz com o nível de maturidade e profissionalismo com que a Polícia Civil vem se aprimorando a cada dia se passa.  

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