Buracos na ruas de Aparecida de Goiânia reaparecem com chuvas

Grande número de buracos foi encontrado nas vias dos bairros Buriti Sereno, Jardim Tiradentes e Alto Paraíso | Foto: Wesley Costa.

Postado em: 04-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Grande número de buracos foi encontrado nas vias dos bairros Buriti Sereno, Jardim Tiradentes e Alto Paraíso | Foto: Wesley Costa.

Igor Caldas

Há poucos dias do início da temporada das chuvas, os buracos nas vias de Aparecida de Goiânia já começam a reaparecer. Em alguns locais, moradores afirmam que a administração do município executou reparos com operação tapa-buracos há menos de dois meses. No entanto, o paliativo não resistiu nem às primeiras chuvas da estação. Grande número de buracos foi encontrado nas vias dos bairros Buriti Sereno, Jardim Tiradentes e Jardim Alto Paraíso.

Glicélia Costa é mora na Rua Nossa Senhora da Abadia, no Residencial Jardim Alto Paraíso, em Aparecida de Goiânia. A rua de sua casa está repleta de buracos, mas ela afirma que a prefeitura do município esteve com frentes de serviço para tapagem de buracos há pouco tempo. “Não tem nem dois meses que eles estiveram aqui para tampar os buracos”, afirma. Ela ficou incrédula com a rapidez que as crateras no asfalto reapareceram.

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“Acho que se vier um engenheiro de verdade para averiguar a situação dessas ruas ele mandaria tirar todo o asfalto e fazer de novo porque só esse serviço que fizeram não adianta nada”, lamenta. Glicélia acredita que o material usado na para pavimentação e tapagem de buracos não tem qualidade para aguentar as chuvas.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Infraestrutura de Aparecida de Goiânia informou por meio de nota que vai encaminhar uma equipe de tapa-buracos aos bairros citados na reportagem esta semana para a realização dos reparos necessários nas vias.

Manutenção preventiva

A manutenção da pavimentação nas cidades tem que ser constantes e ocorrer antes dos buracos aparecerem nas vias. Se a estrutura estiver comprometida, nem o recapeamento da pista pode solucionar o problema. Lilian Ribeiro de Rezende, Professora Titular da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da UFG, doutora em Geotecnia, explica que serviços de manutenção periódicos podem garantir a vida útil do asfalto.

“Nota-se que o pavimento não é eterno, mas sua vida útil pode ser garantida ou até mesmo aumentada se forem realizados serviços de manutenção periódica”, aponta. A selagem de trincas para que o processo de deterioração seja interrompido e que elas não virem os buracos é um desses serviços. “Quando se adota procedimentos contínuos de gestão de pavimentos, os defeitos são diagnosticados e tratados no início do problema, de forma mais simples e menos onerosa”.

Existem vários tipos de soluções de manutenção e restauração, sendo que o tipo a ser escolhido depende de uma análise técnica prévia e da elaboração de um projeto de restauração. Dependendo dessas análises, o recapeamento pode ser uma das soluções. No entanto, quando toda a estrutura está tecnicamente condenada, somente a troca do revestimento (recapeamento) não irá resolver o problema.

Com relação à operação tapa-buraco, a especialista afirma trata-se de um serviço emergencial realizado quando não é possível executar, geralmente devido às condições climáticas (chuva), um serviço de manutenção mais eficiente. “Neste caso, o buraco é tampado para dar condição de rolamento para o usuário naquele momento, mas não é a solução definitiva”, Lilian ainda afirma que o ideal é que cada município tenha um setor responsável pela gerência de seus pavimentos.

Este setor deveria manter um banco de dados atualizado sobre as condições das vias e seus dados técnicos, avaliar os projetos de restauração e indicar as soluções para cada caso, apresentar um plano de manutenção e fornecer informações para os gestores tomarem decisões sobre prioridades e investimentos. Dessa forma, os serviços de manutenção e restauração são realizados durante a seca e os pavimentos ficam preparados para suportarem as solicitações que ainda virão.

Ela ainda destaca que revestimento asfáltico é a última camada componente da estrutura do pavimento urbano ou rodoviário. Para essa estrutura apresentar o comportamento adequado durante sua vida útil, seu projeto/dimensionamento deve definir quais materiais serão utilizados em cada camada, qual a espessura de cada camada e qual o número de camadas que serão necessários para suportar o tráfego existente. Tanto em termos de peso como de frequência dos veículos, além das interferências do clima como chuva e temperatura.

Asfalto permeável pode evitar futuros buracos 

Uma tecnologia que pode solucionar os problemas de permeabilidade no asfalto e evitar buracos, enchentes e alagamentos foi desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP). O professor José Rodolpho Martins, do Departamento de Hidráulica da USP afirma que o principal objetivo da novidade é absorver a água da chuva no revestimento da pavimentação que se usa nas ruas, nos loteamentos, condomínios e estacionamentos. Dessa forma, o pavimento deve permitir que a água pudesse ser armazenada na parte inferior das camadas de asfalto.

O modelo tradicional de pavimentação realizado em todo País é feito da mesma forma. Inicia-se por cima, com um segmento de cinco centímetros de largura compostas por pequenas pedras, unidas pelo asfalto. Essa camada precisa ser bastante resistente, o suficiente para que o fluxo de veículos, inclusive de ônibus e caminhões pesados ocorra sem que qualquer pedaço se solte.

A segunda camada de pavimentação, que vem logo abaixo deve ser mais espessa e sua principal composição é de brita, rochas maiores do que da primeira camada. Essa base tem muitos espaços vazios, que poderiam funcionar como um reservatório. No entanto, a superfície não poderia deixar a água passar, sem se tornar um piso frágil, quebradiço com o tráfego de veículos.

Dessa forma, o Laboratório de Tecnologia de Pavimentação da USP, ligado à Engenharia de Transportes, produziu diferentes pisos para a pesquisa fazendo a união de pedras, cal e asfalto, que serve de liga na mistura. Os pisos asfálticos passaram por testes sequenciais e o mais eficiente deles foi aprimorado em ligas novas. Desse processo, surgiu a camada porosa de asfalto (CPA).

O asfalto absorvente é composto com pedras maiores, para que haja vazios entre elas. O projeto do novo tipo de pavimentação prevê até 25% de lacunas para a água infiltrar. Quando comparado com uma amostra de asfalto comum, que é mais compacto, praticamente não há espaço entre as pedras. De acordo com o professor José Rodolpho, aos poucos, em cada obra de recapeamento que fosse feita nas grandes cidades, o asfalto convencional poderia ser trocado pelo poroso.

Na conclusão de monografia escrita pela bacharela em Engenharia Civil, Mariana Aparecida Gouveia, apresentada na graduação do curso de Engenharia Civil do Instituto Federal Goiano (IFG) de Rio Verde, intitulada Asfalto Drenante: proporções granulométricas e aplicabilidade, aponta a dificuldade de implantação reconstruir toda malha rodoviária e pavimentação asfáltica.

No entanto, o estudo aponta que há outros meios se beneficiar do pavimento permeável. Ele pode ser usado como matéria prima dos elementos componentes do sistema de drenagem como em sarjetas, meios-fios, camadas drenantes, caixas coletoras, bueiros e outros. (Especial para O Hoje)

  

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