Desigualdade de renda atinge recorde e reforma trabalhista não melhora cenário

Lauro Veiga

Postado em: 24-05-2019 às 18h55
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

Da Redação

A
deterioração do mercado de trabalho, com estagnação virtual do emprego, número
recorde de trabalhadores em situação de desalento e avanço da subocupação, criando
o cenário perfeito para a proliferação da desigualdade, que tem crescido desde
o final de 2015 e alcançou nível recorde no primeiro trimestre deste ano,
segundo mostra estudo do pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE). A tendência de alguma
desconcentração na renda do trabalho observada nos anos anteriores foi
integralmente revertida, com crescimento mais expressivo da renda média dos
ocupados colocados entre os 10% mais ricos e perdas para os 40% mais pobres.

Defendida
como “a solução” para o desemprego, a reforma trabalhista deveria trazer uma
“explosão” na ocupação, já que reduziria o custo das contratações para as
empresas, além de “descomplicar” a legislação aplicada ao setor e impor um
freio às reclamações e aos processos na Justiça do Trabalho. A segunda parte da
promessa foi cumprida, segundo mostram dados mais recentes, mas a melhoria no
mercado não veio. Pelo contrário, a situação tornou-se mais grave, com alta
expressiva no número de pessoas desempregadas. Obviamente, uma combinação de
fatores está por trás da piora do mercado, mas a reforma, até aqui, não ajudou
a amenizar as tendências mais negativas e nem destravou as contratações.

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O
trabalho do Ibre não examina os efeitos (ou “não efeitos”) da reforma
trabalhista. Apenas constata o avanço da desigualdade de renda no trabalho, associando
esse comportamento a uma melhora relativa (e muito lenta) nas condições de
trabalho para profissionais com maior qualificação e mais anos de estudo
(correspondendo a uma piora para os menos qualificados, portanto) e ao
crescimento do desalento, mais elevado entre os que têm menos preparo e menos
anos de estudo.

Concentração

Com
base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(PNADC), divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o trabalho desenvolvido por Duque mostra que o “índice de
Gini” (desenvolvido pelo estatístico italiano Corrado Gini no início do século
passado para aferir os níveis de desigualdade em diversos segmentos da
economia) aproximou-se 0,626 no primeiro trimestre deste ano, o mais alto da
série iniciada em 2012. O coeficiente compara-se com menos de 0,619 no quatro
trimestre de 2017.Para “interpretar” o índice de Gini, deve-se levar em conta
que, quando mais próximo de 1,0 maior a desigualdade num determinado setor (no
caso, o indicador foi utilizado por Duque para aferir a desigualdade na
distribuição da renda do trabalho).

Balanço

·  
A
desigualdade havia baixado de 0,605 no trimestre final de 2012 para 0,603 em
igual período de 2015, passando a subir desde então como um dos reflexos da
crise no setor, que vitimou mais fortemente a renda dos trabalhadores que menos
ganham.

·  
Antes
da crise, por exemplo, Duque mostra que a renda média dos 10% mais ricos havia
crescido 5,0%, mas o aumento foi mais de duas vezes maior entre os 40% mais
pobres, num salto de 10,2%. Isso ajudou a reduzir as disparidades entre os dois
extremos.

·  
No
pós-crise, os 10% mais ricos continuaram ampliando a renda média, num avanço de
3,3% em termos reais. Mas os 10% mais pobres sofreram perdas de 22%, o que
anulou todo o ganho anterior.

·  
Entre
2012 e 2019, enquanto os mais ricos tiveram sua renda ampliada em 8,5%, os mais
pobres acumularam perdas de 14,0%, o que contribuiu alargar o fosso entre os
dois segmentos e, portanto, a desigualdade.

·  
A
renda média dos 10% mais ricos, que era 27,5 vezes maior do que a renda dos 40%
com menores rendimentos, passou a ser mais de 36,6 vezes mais alta, percentual
mais elevado na série histórica.

·  
Ao
afetar mais duramente aqueles trabalhadores “em domicílios já de menor
qualificação, de menor renda, e que desistiram de procurar trabalho”, o
desalento ajudou a incrementar a desigualdade, reforça Duque. O número de
pessoas “desalentadas” (ou seja, que deixaram de buscar um emprego) avançou
significativamente desde o final de 2105, num salto de 81,3%, saindo de 2,667
milhões para 4,834 milhões de pessoas. Em relação ao total de pessoas em idade
de trabalhar (força de trabalho), o desalento aumentou de 2,65% para 4,59%.

 

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