Parto humanizado: filosofia que resgata o processo natural da procriação

Num esforço de tentar frear as cesarianas em todo o mundo, a OMS publicou novas recomendações sobre padrões de tratamento e cuidados relacionados a mulheres grávidas

Postado em: 27-02-2018 às 09h30
Por: Sheyla Sousa
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Num esforço de tentar frear as cesarianas em todo o mundo, a OMS publicou novas recomendações sobre padrões de tratamento e cuidados relacionados a mulheres grávidas

O termo “humanização do parto” tem sido cada dia mais comum. Mas o que vem a ser parto humanizado? Quais os benefícios para a mãe e para o bebê? Conforme relata a coordenadora do curso de Enfermagem Obstétrica do Instituto Health, enfermeira Fabiana dos Santos Carvalho, o parto humanizado não é um tipo de parto em si, como a cesariana ou o parto via vaginal, mas uma filosofia, em que a mãe tem total participação em relação ao que acontecerá no momento do nascimento de seu filho, podendo escolher a presença de acompanhantes ou não, a posição no momento do parto e o local onde o bebê nascerá, em casa ou no hospital, na água ou no leito. “Nesses casos, deve haver a mínima intervenção médica, porém sem deixar de colocar a saúde da mãe e do bebê em primeiro lugar”, afirma.

Essa filosofia de humanizar o parto nasceu após se perceber que o que se tinha com as cesarianas era uma série de cirurgias, que terminavam, muitas vezes, com a mãe em uma sala e o bebê em outra. “No parto humanizado, a gestação é encarada como um processo natural, e não uma patologia que necessita de um procedimento cirúrgico”, explica.

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Ela relata que a incorporação das doulas, nas práticas de nascimento representa resgatar aquilo que é um acontecimento fisiológico natural em qualquer mulher. “Doula é uma contribuição efetiva à humanização da assistência ao parto e ao empoderamento feminino e sobre a diminuição dos partos cesarianos”, define. 

Em fevereiro, cerca de 40 mulheres participaram, em Iporá, de um curso de Formação e Capacitação de Doulas, as quais passam a ser multiplicadoras sobre a humanização do nascimento. Segundo o médico obstetra, homeopata, escritor e palestrante no Brasil e no exterior Ricardo Jones, esta retomada de parto humanizado é uma tendência geral. No entanto o Brasil está ainda atrasado nessa prática, já que mantém taxas de cesarianas em 55% no País em geral. “Esse percentual de cesarianas deveria ser entre 10 e 20%”, diz. “Estamos a caminho de tornar cada vez mais humano este processo, isto é, tornar cada vez mais consciente a importância de um processo que para a humanidade sempre foi instintivo e natural e que, por algumas décadas, tentamos interferir mecanicamente ao hospitalizarmos o nascimento e querermos enquadrar e mecanizar em um formato único as mulheres e o evento parto”, revela.

Num esforço de tentar frear as cesarianas em todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) acabou de publicar novas recomendações sobre padrões de tratamento e cuidados relacionados a mulheres grávidas. O objetivo é reduzir “intervenções médicas desnecessárias”, já que o excesso de cesarianas aumenta a mortalidade materna e dos bebês, aumenta o tempo de internação e aumenta custos e isso não traz nenhum benefício para as mulheres, apesar de trazer benefícios econômicos para os hospitais.

De acordo com a OMS, 140 milhões de nascimentos ocorrem no mundo a cada ano. A maioria sem complicações. “Ainda assim, nos últimos 20 anos, médicos aumentaram o uso de intervenções que eram destinadas antes apenas para evitar riscos e tratar complicações, com a infusão de ocitocina para acelerar o parto ou cesáreas”, indicou a OMS.

À luz de dados coletados em 2016, a OMS aponta o Brasil como um dos líderes em cesáreas no mundo e alerta que o aumento dessa prática em partos se transformou em uma “epidemia”.

Mas não é o que acontece em Ceres. O Hospital São Pio X, com mais de 70 anos, é pioneiro na humanização do parto. De acordo com a enfermeira obstetra e coordenadora da maternidade da unidade de saúde, Tânia Augusta, para optar por um parto humanizado, a mãe deve ter feito um pré-natal rigoroso para que se tenha certeza de que não há a necessidade de intervenções. “É importante ter uma equipe qualificada à sua disposição e que respeite integralmente suas decisões”, cita, mencionando o caso da mãe Kevylly Monteiro dos Santos, 16 anos, do município de Santa Terezinha de Goiás. “Ela optou por essa filosofia e quando esteve no hospital estava bastante consciente do que se tratava”, relata, apontando que alguns procedimentos são feitos em maternidades a fim de tornar o parto mais humanizado, entre eles o banho, a dieta livre, a massagem, a amamentação e técnicas de respiração. “A presença do acompanhante também é fundamental para garantir o sucesso dessa filosofia, uma vez que a presença de um amigo, familiar ou parceiro ajuda a mulher a sentir-se mais confiante e relaxar”, finaliza. 

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