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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
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Essência

É preciso se reinventar

Tecnologia e mecanização fazem extiguirem-se ocupações que por décadas tiveram lugar garantido no mercado

Postado em 16 de fevereiro de 2016 por Redação
É preciso se reinventar
Tecnologia e mecanização fazem extiguirem-se ocupações que por décadas tiveram lugar garantido no mercado

Denise Soares(especial para o hoje)

As novas técnicas industriais trazem mais comodidade e praticidade para o consumidor. Para se manter em evidência no mercado de trabalho, o profissional precisa buscar inovações. Aqueles que se mantêm relutantes às novidades, ou preferem “parar no tempo” acabam por perder relevância. É o caso do amolador de facas e de tesouras. Está cada dia mais difícil encontrar um profissional que realize tal atividade. Grandes redes de supermercado ou mesmo mercados em bairros mais periféricos disponibilizam aparelhos amoladores de todas as marcas, cores e tamanhos. Tudo de fácil acesso ao consumidor. A maleabilidade que a tecnologia trouxe para a casa do cliente contribuiu para que especialistas manufatureiros sentissem a necessidade de procurar outra ocupação para conseguir manter seu lar e alimentar sua família. 

A tecnologia não foi a única a contribuir para a extinção de algumas profissões. O ambientalismo e a frente de luta pelos direitos animais foram decisivos para que o consumo de casa­cos de couro e de peles de origem animal caísse consideravelmente. O peleteiro era o responsável por retirar a pele do ani­mal, tratá-la e comercializá-la. Apesar da discriminação, o encanto por esse tipo de roupa não se extinguiu. Contudo, houve uma mudança tecnológica na produção do vestuário que passou a utilizar material sintético que imita o couro e a pe­lagem  do animal. 

Outra função que corre sério risco de extinção, nos próximos anos, é a de montadores da indústria. Cada vez mais os experimentos com robôs têm comprovado a alta eficiência dos andróides. O interesse capitalista é determinante na op­ção pela robotização da indústria, já que ser humano é passível de falhas e complexidades sociais e biológicas, além de ter limitada capacidade de produção e estar protegido por rígidas leis trabalhistas – pelo menos no Brasil – daí a preferência das indústrias pela força de trabalho cibernética. 

Os trabalhadores do campo também sofrem com as mudanças tecnológicas inseridas em seu lugar de atuação. Atualmente, há maquinários capazes de tratar a monocultura desde a fase do plantio até a colheita.  O trabalhador que outrora lidava manualmente na plantação, enfrenta a necessidade de se profissionalizar para conseguir controlar a tecnológicas máquinas agrícolas.

O agricultor e co-proprietário de um cultivo de médio porte em Planaltina (DF), Juliano Antônio, diz que o uso do maquinário agrícola foi um bom negócio. “No nosso caso aumentou a escala de produção e gerou uma economia na mão de obra”, disse. 

Na intenção de resguardar o emprego dos trabalhadores rurais goianos, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás (Fetaeg) selou acordo e convenção com empresários locais para que os trabalhadores rurais do Estado tivessem prioridade na contratação.  José Maria de Lima, secretário de Assalariados da Fetaeg, falou que “as máquinas estão substituindo os homens” e que o trabalhador rural, como conhecemos hoje, será suprimido do cenário agrícola. Para o secretário da Fetaeg, o grande desafio atual é qualificar os trabalhadores rurais. José Maria também constatou, com tristeza, que a inserção do maquinário nas lavouras produz emprego para dez pessoas enquanto desemprega 50.

Goiânia tem uma particularidade na questão das mudanças advindas da mecanização no cenário de trabalho. O Sindi­cato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Pas­sageiros de Goiânia (SET) implantou, em 1998, o sistema de bilhetagem eletrônica, conhecido como Sistema Inteligente de Tarifação de Passageiros de Goiânia (SitPass). Esse sistema fez desaparecer do cenário goianiense a função de cobrador de ônibus. 

Em decorrência des­sa medida, surgiram os vendedores de sitpass. Hoje, a capital dispõe de mais de dois mil postos de recarga do cartão fácil. A SET também disponibiliza postos de aten­dimento eletrônico para car­ga e recarga do cartão fácil e cartão estudantil, e coloca em risco o cargo de vendedor de sitpass. Para a estudante Lethycia Dias, que utiliza o serviço do sitpass há dez anos, “os cartões eletrônicos são práticos porque evitam o transtorno de procurar por vendedores de bilhetes”. 

A competição com a modernidade parece, a princípio, desleal, mas há quem encontre nesse cenário uma oportunidade de se reinventar.  Esse é o caso das agências de viagens. Marcílio Velasco é gerente comercial da Azul Viagens, e diz que, com o avanço da internet e a comercialização de pacotes e passagens online, houve, de fato, uma migração dos consumidores para os sites. Todavia, o gerente percebe que há um mo­vimento de regresso desses clientes. “Há a preferência por um atendimento olho no olho”, afirma. O descontentamento com a demora em respostas via e-mail e telefone é um dos condicionantes para essa escolha.

Marcílio ressalta ainda que “o que houve foi uma mudança na figura do vendedor de viagens, que passou a ser um consultor de viagens”. Percebe-se, então que, uma das soluções encontradas pelas agências de viagem foi reinventar a função do profissional para atender novas necessidades do cliente. O diferencial que mantêm as agências de viagem relevantes é a qualidade no atendimento.

Algumas agências de pequeno porte, mediante o cenário econômico atual do País, optaram por fechar as portas e atuar em regime de back office. Esse procedimento consiste na consultoria de viagens e atendimento domiciliar. A medida parece unir o melhor dos mundos por oferecer a praticidade para o consumidor, que é o “carro chefe” da internet, e a pessoalidade no atendimento, garantida pelas agências de viagens.  

Apesar da queda na oferta de trabalho em agências, consequência da situação do mercado e competição com a tecnologia, a presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagem em Goiás (Abav-GO), Eliene Meireles, defende que não há a possibilidade de a profissão do agente de viagens deixar de existir. “O agente de viagem nunca vai deixar de ter seu espaço, pois com a consultoria não temos concorrente, isso somente mão de obra humana é capaz de fazer”, reitera. 

Deste modo, a tecnologia pode ser a vilã ou aliada no crescimento do profissional no mercado de trabalho. A sobrevivência do trabalhador depende da criatividade e do empenho pela busca por profissionalização e inovação. Saber promover um bom marketing da empresa ou do trabalho é imprescindível no sistema atual. É inegável que a tecnologia deixa o mercado mais acirrado, e acaba vencendo o melhor e mais preparado.  

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