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quinta-feira, 7 de novembro de 2024
CRÍTICA

Cadê o hino dessa geração?

Na falta de uma voz que cante o cenário atual, jovens estão condenados a recorrer eternamente a Chico Buarque, Cazuza e Legião Urbana

Postado em 23 de março de 2016 por Redação
Cadê o hino dessa geração?
Na falta de uma voz que cante o cenário atual

Júnior Bueno

Uma
pesquisa da Folha de São Paulo feita na Avenida Paulista com os manifestantes
que foram pedir o impeachment da presidenta Dilma revelou que a maioria entre
os manifestantes é formada de homens, acima dos 40, brancos, com renda entre cinco
e 10 salários mínimos e formação superior. Apesar de não ser um retrato fiel
dos manifestantes, é sabido que há uma grande parcela de jovens protestando nas
ruas, nesta crise política que assola o país, nos pólos contra e a favor do
governo. Mas a trilha sonora das manifestações é contemporânea da turma na
faixa dos 40: Cazuza, Chico Buarque, Legião Urbana e Geraldo Vandré voltam à
tona com canções que cantaram a insatisfação e a revolta em tempos anteriores.

Em 2016, quando a sociedade
brasileira parece desfrutar de plena liberdade de expressão, não surgiu nenhuma
música que retrate as inquietações da juventude ou reflita a confusão de
valores que atravessamos. Esta crise política não inspira ninguém a criar novos
lemas? A julgar pelos bordões de junho de 2013, “Vem pra Rua”, tirado de um
comercial de carro e “O Gigante Acordou,” de uma campanha de uísque,
empobrecemos em prosa e em verso. E tome Ideologia, Para Não Dizer Que Não
Falei De Flores, Apesar de Você…

E
Que País é Esse, que nunca falha. Se a Legião Urbana ganhasse 1 real a cada vez
que alguém comenta como a letra dessa música, composta nos anos 80, é atual,
talvez os herdeiros de Renato Russo e o que sobrou da banda não estivessem
brigando para ver quem enterra de maneira mais vergonhosa o legado de Renato.

Ao
se comparar pelas músicas mais tocadas no momento e a voz que emerge das ruas,
pode se dizer que o clima político no País não está tranquilo, nem favorável.
Alguns faltosos às aulas de história até sugerem os militares peguem a
metralhadora e trá. Mas no fundo, bem no fundo, apesar de bradar contra a
corrupção, todo mundo é 99% anjo, mas aquele 1% sonega, suborna e faz gato de
TV a cabo.

O fato é que até o Hino Nacional é
executado, em manifestações Brasil afora, mas nada que tenha sido composto nos últimos
30 anos consegue virar refrão na voz rouca das ruas. A bem da verdade, o rapper
Projota gravou a música O Portão do Céu, em que pergunta: “Quem tá puto aí?
levanta a mão! Tá na hora de revolução.” Mas quem é que entoa um rap com uma
centena de versos descontrolados no meio da avenida?

Ah, o Lobão acaba de lançar em seu novo
álbum a música Agora é Tarde, uma ode ao ex-presidente Lula: “Toma jeito,
companheiro, chega de enganar. Porque o japa da PF, irmão vem te algemar.” Mas
o Lobão não é exatamente a voz mais sóbria da República neste momento. Sem
contar que a essa altura, até o japonês da Polícia Federal já foi enquadrado
por contrabando. Como diria Bezerra da Silva, “se gritar pega ladrão…”
 

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