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quinta-feira, 7 de novembro de 2024
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Música

Goiânia: uma ‘rockeografia’

A capital é um dos maiores pólos de música alternativa do Brasil graças ao trabalho de vários pioneiros

Postado em 31 de março de 2016 por Sheyla Sousa
Goiânia: uma ‘rockeografia’
A capital é um dos maiores pólos de música alternativa do Brasil graças ao trabalho de vários pioneiros

José Abrão

Boogarins, Mugo, Chá de Gim, Black Drawing Chalks, Hellbenders, Ara Macao. Estas são apenas algumas das bandas mais bem-sucedidas de Goiás nos últimos anos, com direito a turnês e gravações internacionais. Chegamos ao ponto em que Goiânia é uma das cidades com a cena de rock alternativo mais conhecidas do Brasil. Como  a capital do sertanejo também virou Goiânia Rock City? O fato é que não foi da noite pro dia. Foi graças ao trabalho de muita gente e alguns espaços marcantes que fizeram do rock goiano o que ele é hoje, à custa de muito suor de gente que muitas vezes nem recebeu nada em troca.

Quem começou a abrir esse caminho foi a banda Língua Solta. Com uma pegada rock’n roll inspirada em Beatles e Rolling Stones, a banda já tem 42 anos de carreira e segue na ativa, fazendo shows. Quando os rapazes começaram, havia apenas um embrião da cena de rock local com uma ou outra banda que pe­gou carona da Beatlemania. De todas elas, a única que vingou e perseverou durante os anos foi a Língua. “A banda surgiu no dia 17 de julho de 1973. Goiânia, na época, tinha um movimento, gente do final dos anos 1960. Aí começamos com um rock autoral, quando ainda estávamos na escola técnica”, conta Almir Alexandre, fundador da banda e ainda membro fiel dela.

Ele conta que a banda começou a ralar e, além de dar um pontapé na cena musical local, ainda circulou pelo país. “Aos poucos fomos entrando na cena. Tocamos dez anos aqui e depois passamos cin­co anos no Rio de Janeiro durante os anos 1980. Depois, voltamos para cá e nos anos 90 passamos mais cinco anos no Rio”, conta Almir. Como pio­nei­ro, ele conta que viu a cena do rock florescer não apenas em Goiânia, mas no Brasil, especialmente após um certo evento. “Em 1985, depois do Rock in Rio, foi um bum. Passamos a fazer show direto. Apareceram bandas demais”.

Sobre sua importância para abrir o caminho, Al­mir reconhece o valor da Língua Solta e se sente grato. “Goiânia hoje é, por ironia do destino, capital do rock e do sertanejo. Eu acho bom demais”. Após a Língua, a cena musical de Goiânia começou a se agitar no fim dos anos 1980 e no começo dos anos 1990 com dois estilos musicais muito polarizados: o heavy metal – e depois o black metal – e o punk rock e o hardcore. Bandas como Spiritual Carnage, Mortuário, HC-137 e Lobinho e os Três Porcão abriram caminho para toda uma nova geração pós-Rock in Rio, que após anos falando sobre música, finalmente começou a fazer seu próprio som e seus próprios eventos. “Punk tinha muito pouco, tava começando. Nossa banda era punk rock clássico” conta João Punk, fundador da Lobinho e os Três Porcão, na ativa até hoje. Mesmo assim, João conta que andava muito com a galera do metal. Ele lembra que na época o ponto de encontro das futuras grandes bandas eram lojas de música, como a Metalize, Anel de Saturno, Sonic e a Academia do Sobrinho. “Eu andava mais com o pessoal da Asgard, da Mortuário. A gente se reunia nas lojas, era o que rolava”, contou.

Porradas e novo palco

Mais tarde, porém, rolou um racha entre os metaleiros e os punks: “A galera tinha divergências, eu direto saía na porrada com os caras”, contou. Os shows de punk inicialmente começaram em bares e depois migraram para o Martim Cererê que logo ia virar o principal ponto de encontro da efervescente cena goiana: “Os shows eram muito escassos, em alguns bares, eram poucos lugares. O Martim era mais popular e depois passamos a fazer muito show também nos DCEs, da UFG e da PUC, movimentávamos bem as duas casas”. E tantos anos depois, como ele vê a cena de punk goiano? “Está re­ju­venescida. Está mais viva do que nunca. Toda vez que fazemos show, temos casa lotada”.

Aurélio Dias, baterista da Lobinho, fez parte da segunda formação do HC-137 e foi convidado pelo então fundador e vocalista Cláudio de Castro, falecido em 1998, para tocar. Ele entrou para a banda em 1991 e logo a hc-137 lançou dois discos: Made in GO e Nas Coxas, este feito em parceria com a banda Morte Lenta. Sobre a briga com os metaleiros, ele disse: “Era foda e paia. Nunca entrei em uma briga, mas vivia preparado para isso”. Considerada a primeira banda punk e hardcore de Goiânia, a HC-137 rapidamente se popularizou  fora do Estado, tocando em São Paulo, Palmas, Maringá, Cuiabá e firmando uma longa parceria com Brasília. “Tocamos muito em Brasília. Fizemos uma ponte legal com bandas punks do DF como Besthoven, Desakato a Autoridade, Alarme, Death Slam, ARD”, relata.

Ele conta ter muito orgulho dessa história: “e o orgulho é compartilhado com os demais integrantes da banda. A formação do HC-137 antes da nossa gravou uma das melhores fitas demo da nossa região, Lixo Radioativo, com Fal, Maurício Mota e Flávio, todos muito conhecidos na cena underground, até porque todos continuaram tocando o terror em suas trajetórias. O HC-137 influenciou uma pá de gente e nós fizemos parte da maior parte dessa história”. A banda voltou a se reunir em 1999 e seguiu junta até 2008. De lá pra cá, eles fazem shows de cinco em cinco anos. Ano que vem, porém, eles devem fazer algo especial: “Ano que vem tocaremos em função dos 30 anos do acidente radiológico em Goiânia que deu nome à banda: Horrores do Césio 137”. 

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