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sábado, 28 de dezembro de 2024
acidente

Após 30 anos, usina de Chernobyl terá escudo de aço para evitar novos vazamentos

Ainda hoje, muita gente está exposta aos perigos da radiação presente no solo, na comida e na água, mesmo a centenas de quilômetros da usina

Postado em 26 de abril de 2016 por Redação
Após 30 anos
Ainda hoje

Num canteiro de obras montado ao lado do reator número 4 da antiga Usina de Chernobil, na Ucrânia, uma espécie de escudo gigante feito de aço, construído a partir de um projeto de colaboração e financiamento internacional, está sendo finalizado.

Trata-se da maior estrutura móvel do mundo, com 108 metros de altura, 250 metros de largura e 150 metros de comprimento. A dimensão equivale a um prédio de 36 andares e com área onde caberiam pelo menos três campos de futebol.

Já são quatro anos de trabalho para criar a nova estrutura, que deve ser movida sobre o reator em novembro deste ano. O arco gigante vai protegê-lo e selá-lo, a fim de evitar o vazamento de radiação e melhorar a estabilidade do sarcófago de concreto e aço construído meses depois do pior desastre nuclear da história.

No dia 26 de abril de 1986, após um teste mal-sucedido, um dos quatro reatores da Usina de Chernobil, então na antiga União Soviética, explodiu e liberou uma enorme nuvem radioativa, que se espalhou por boa parte da Europa.

Como consequência direta, 31 pessoas morreram. Mas outras dezenas ou até centenas de milhares perderam a vida para doenças como o câncer, relacionadas aos altos níveis de radiação. Até hoje não há consenso sobre o número de vítimas. 

Sem solução

Depois de 30 anos, a estrutura de contenção antiga já passou do “prazo de validade” e está bastante deteriorada. Se ela ceder, poderá liberar grande quantidade de resíduos radioativos e causar sérios danos. Por isso, criar uma nova proteção, mais moderna, era necessário e urgente. “Ela foi projetada para durar 100 anos e dar à Ucrânia a chance de desmontar o reator número quatro e torná-lo seguro para sempre”, informou o gerente de Segurança e Meio Ambiente da obra, David Driscoll.

Em relatório divulgado neste mês, a ONG Greenpeace na Alemanha criticou não só os altos custos do projeto – mais de dois bilhões de euros – e a demora em concluí-lo, mas, principalmente, o fato de que, até agora, quase nada foi feito em busca de solução de longo prazo para tornar o reator danificado em um sistema ambientalmente seguro.

Segundo a organização, ainda não existe tecnologia disponível para lidar com a grande quantidade de material radioativo e dar um destino adequado a ele. Chegar a essa solução exige ainda mais investimento.

“O receio é que, após a conclusão do Plano de Proteção, a Ucrânia tenha de lidar sozinha com o problema. A forma como a recuperação do reator e do material radioativo será financiada é uma pergunta que ainda está no ar e poderá custar dezenas de bilhões de dólares”, acrescentou o relatório. “Nós podemos concluir que, 30 anos após o pior desastre nuclear que o mundo já viu, o reator danificado ainda representa um risco.”

Contaminação

Ainda hoje, muita gente está exposta aos perigos da radiação presente no solo, na comida e na água, mesmo a centenas de quilômetros de Chernobil. Segundo dados oficiais, cinco milhões de pessoas residem em regiões contaminadas na Ucrânia, na Rússia e na Bielorrúsia – os países mais afetados pelo desastre de 1986.

“Cerca de um milhão dessas pessoas recebe doses anuais de radiação acima do que o nível máximo definido para populações”, detalhou o ativista senior do Greenpeace, Rashid Alimov. Apesar do risco e por falta de opção, os moradores se alimentam de plantas e animais que crescem nesses locais.

A situação é ainda mais crítica na chamada “zona de exclusão”, que fica num raio de 30 quilômetros da antiga Usina Nuclear de Chernobil. O cenário é de ruas desertas e de construções destruídas e abandonadas, onde antes viviam milhares de pessoas. Plantas crescem entre as ruínas e animais selvagens voltaram para a região, que foi totalmente evacuada depois do desastre.

Mas, hoje, algumas centenas de ex-moradores, a maioria idosos, vive nessa zona de exclusão. Apesar de ilegal, a presença deles é tolerada. Maria Lozbin, de 69 anos, é uma dessas pessoas. Há seis anos, ela decidiu voltar para a vila abandonada de Pripyat, onde, para ela, “a vida é boa e tranquila”. “Não tenho medo de nada. Planto e como tudo o que a terra dá. Quando for a hora de eu morrer, vai acontecer com ou sem radiação. Vou morrer quando a hora chegar”, concluiu Maria. (Foto: Michael Kötter/ Flickr Commons/ Fotos Públicas) 

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