Esquema colocava à solta criminosos de alta periculosidade
Alvarás de soltura eram falsificados por agentes prisionais. Com auxílio deles, presos chegavam a tirar ‘férias’ do regime semi-aberto
Jéssica Chiareli
A Polícia Civil deflagrou a Operação Livramento na manhã desta quarta-feira (19), com o objetivo de desarticular um esquema que colocava criminosos em liberdade por meio de fraude de documentos, como atestados médicos, cartas de trabalho externo e alvarás de soltura.
A suspeita é de que agentes públicos, entre eles diretores de unidades prisionais e advogados participavam da organização criminosa. Ao todo foram cumpridos 134 mandados, sendo 35 de prisões preventivas, 28 de prisões temporárias, oito conduções coercitivas e 63 de busca e apreensão.
Segundo o delegado Cleybio Januário, os presos postos em liberdade são de altíssima periculosidade e elevado poder econômico. “Não se tratava de criminosos comuns, e quem determinava o tempo de prisão deles não era mais o poder judiciário, mas os servidores envolvidos”, explica. Provas técnicas apontam o pagamento de proprinas no valor de R$50 mil a até R$150 mil.
Um dos detentos posto em liberdade, Walmir Vicente, acusado de roubo a banco, chegou a ser preso pela segunda vez e foi novamente liberado, com o uso de duas decisões judiciais falsificadas.
Esquema
Durante as investigações, a polícia descobriu indícios de um esquema de corrupção sistêmica dentro do complexo prisional de Aparecida de Goiânia. A suspeita é de que os agentes envolvidos, que recebiam inicialmente os presos na Central de Triagem, indicavam ou exigiam a contratação dos advogados operadores do esquema.
O delegado Breynner Vasconcelos explica que pelo menos 13 servidores efetivos, além dos temporários, e cinco advogados, beneficiaram 26 presos. De acordo com ele, servidores eram deslocados para pontos chaves do complexo, assim facilitavam a liberação dos presidiários para o regime semi-aberto.
Os presos pagavam propinas para conseguir autorização de trabalho e ainda tinham as faltas abonadas. “Os presidiários chegavam a tirar ‘férias’ do semi-aberto e tinham todas as presenças registradas, mesmo sem o comparecimento”. Além disso, as investigações apontam casos de fuga que não eram comunicadas.
Ameaça e exploração
As investigações também apontaram ameaças a presos primários, que eram coagidos a contratar os advogados envolvidos sob pena de serem expostos sexualmente a outros presos. Em um dos casos, a companheira de um dos detentos foi coagida a manter relações sexuais com um agente para que o preso fosse beneficiado.
Tráfico de drogas
Segundo Vasconcelos, imagens de aparelhos de raio-x mostram agentes entrando em unidades prisionais com grandes quantidades de drogas, que, ao que tudo indica, era distribuída aos presos.