Exposição celebra 70 anos da criação do biquíni
Com olhar brasileiro sobre o traje, mostra abrange looks icônicos e históricos de moda praia, fotografias, pinturas e entre outros
Criado em 1947 pelo engenheiro e designer de roupas francês
Louis Réard, o biquíni, traje de banho que revolucionou moda e transformou o
comportamento da mulher, está completando 70 anos. O aniversário desta peça
icônica do vestuário feminino ganha uma homenagem no Centro Cultural Banco do
Brasil do Rio de Janeiro (CCBB Rio), que inaugurou na noite de ontem (15), para
convidados, a exposição Yes! Nós Temos Biquíni , reunindo 120 obras que
promovem o diálogo entre a moda e a arte, além de estimular a discussão sobre
temas atuais como o empoderamento feminino e os padrões de beleza impostos pela
sociedade.
Com um olhar bem brasileiro sobre o traje, a mostra abrange
looks icônicos e históricos de moda praia, fotografias, pinturas, esculturas,
vídeos, ilustrações, instalações, artefatos históricos e um amplo material
iconográfico. Performances, debates e um ciclo de cinema também fazem parte da
programação, que ocupará o 2º andar do centro cultural até 10 de julho.
“Esta exposição traz uma diversidade, que sempre buscamos
para a programação do CCBB e apresenta um diálogo entre o elemento de maior
representação brasileira na moda mundial com obras de arte contemporâneas que
desafiam o visitante a interpretar essas associações”, disse o gerente-geral do
CCBB Rio, Fabio Cunha.
Para a jornalista e consultora de moda Lilian Pacce,
curadora da mostra, a força de uma peça tão pequena como o biquíni brasileiro,
“basicamente quatro triângulos de tecido”, está diretamente ligada ao
empoderamento feminino ao longo do último século e vai muito além da praia em
si.
A exposição traça um percurso que começa com uma explicação
sobre a criação do designer francês, que ousou diminuir a calcinha de cintura
alta e revelar o umbigo da mulher. O mundo vivia o início da era atômica e
Réard queria que sua ideia fosse tão explosiva quanto os primeiros testes
nucleares no atol de Bikini e daí surgiu o nome da peça.
Na sala seguinte, o visitante descobre que, apesar de ser
uma criação francesa, o crédito pela invenção do biquíni poderia caber aos
índios brasileiros e sua forma de cobrir o corpo. Tangas marajoaras datadas do
período pré-colombiano, cedidas pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade de São Paulo (USP), mostram que os trajes eram usados no país
muito antes do descobrimento, mas não eram vistos como “roupa” pelo olhar
moralista dos colonizadores portugueses.
Obras de artistas plásticos e criações de estilistas que
propõem uma reflexão sobre o corpo e a praia e a relação entre moda e arte
ocupam a terceira sala da exposição. Inspiração mútua e parcerias inusitadas
entre artistas e grifes – Beatriz Milhazes, Glauco Rodrigues e Jorge Fonseca
para Blue Man, J. Carlos para Salinas, Gonçalo Ivo e J. Borges para Amir Slama
e Maria Martins para Adriana Degreas – são os destaques, assim como
Stripencores, obra de Nelson Leirner de 1967 que ganhou um quinto elemento
criado especialmente para a mostra.
Cenas de praia captadas pelas lentes de renomados fotógrafos
como Pierre Verger, Alair Gomes, Fernando Schlaepfer, Otto Stupakoff e Thomaz
Farkas ocupam a sala seguinte, que tem contraponto o trabalho de nomes que
ajudaram a criar a identidade da moda praia brasileira e projetá-la
mundialmente, como Gisele Bündchen clicada por Jacques Dequeker no início dos
anos 2000, já famosa – e ainda Antonio Guerreiro, Bob Wolfenson, Claudia
Guimarães e Klaus Mitteldorf, entre outros.
Outro destaque é o trabalho do ilustrador e figurinista
Alceu Penna, que na extinta revista O Cruzeiro “ditava” tendências de moda, com
As Garotas do Alceu. Na última sala, o visitante é convidado a compartilhar
experiências de praia, diante das obras de Cássio Vasconcellos, Katia Maciel e
Leda Catunda, e da pergunta que fica: qual é a sua praia? (Agência Brasil)