Mulheres decidem não mais menstruar
Menstruar ou não também entra na lista dos assuntos polêmicos do mundo da mulher. A qualidade de vida vai melhorar quando sua decisão for bem aceita pelo seu corpo
*Amanda Cunha, especial para O Hoje online
Nos dias de hoje, muito se fala sobre a mulher e as decisões
que ela toma. Tudo o que envolve o universo feminino tende a causar burburinho.
Casar ou não, engravidar ou adotar, estudar ou empreender… Menstruar ou não
também entra na lista dos assuntos polêmicos do mundo da mulher. Como todos os
outros, este é um dos que só cabe a ela decidir. Medicamente, seu nome é
amenorreia e caracteriza a indução ao fim temporário da menstruação.
Os motivos para interromper o ciclo menstrual são inúmeros e
variam de mulher para mulher. Dentre os principais estão: enxaqueca, cólicas,
incômodo com a famigerada TPM (Tensão Pré-Menstrual), fluxo sanguíneo muito
intenso ou simplesmente porque não querem ter de se preocupar com os “dias
vermelhos”.
Métodos e Benefícios
Desde a pílula anticoncepcional até os dispositivos
subcutâneos, as possibilidades para deixar de menstruar são muitas. Há também
as injeções de progesterona – hormônio sexual que regula o equilíbrio do ciclo
ovariano – e os dispositivos intrauterinos (DIU). A pílula é a mais difundida e
usada no Brasil, por ser bastante acessível e prática. Além de prevenir
gravidez indesejada, a técnica de “emendar cartelas” é o que garante o fim da
menstruação.
A servidora pública Mariana Policena, 41, é adepta à injeção
trimestral há três anos e tomou essa decisão para sanar os problemas que a
menstruação lhe trazia. Ela conta que seu fluxo menstrual tinha de cinco a sete
dias e que sentia muitas dores. Optou pelo anticoncepcional injetável porque,
assim, não corre o risco de esquecer-se de tomá-lo, como muitas vezes acontece
com quem toma pílula diariamente. “Costumo dizer que não menstruar é
libertador”, comenta Mariana.
O motivo de tantas mulheres escolherem deixar de menstruar
está diretamente associado aos benefícios físicos e emocionais que isso as
traz. Muitas sofrem com cólicas fortíssimas e, por não menstruarem, não sentem
isso mais. Afinal, as cólicas são decorrentes da descamação da parede uterina,
que ao se contrair para liberar o endométrio (tecido que reveste o interior do
útero), causa as dores. A supressão menstrual também auxilia no equilíbrio
hormonal, que impede a TPM e outros problemas.
Caroline Quixabeira, 20, estudante de Psicologia, ainda
menstrua, mas pretende suprimir seus ciclos. Segundo ela, os incômodos são
muitos, além de riscos à saúde. “Minha família tem histórico de anemia crônica
por conta de sangramento muito grande na menstruação, então queria evitar esse
problema”, explica Caroline. Os casos em que a interrupção da menstruação ajuda
em possíveis problemas de saúde também são comuns, e a endometriose – doença
caracterizada pela presença do endométrio fora da cavidade uterina – é um
deles.
Cuidados e Consequências
Mariana reclama que, para ela, o único inconveniente da
interrupção menstrual foi o ganho de peso. Segundo a ginecologista e obstetra
Neusa Maisonnett, quando a mulher decide parar de menstruar, entrega seu corpo
para o “piloto automático”, pois não são mais os hormônios naturais que regem
seu corpo. Isso gera algumas implicações, tais como a retenção hídrica
corporal. “É preciso associar o uso da pílula anticoncepcional com bons hábitos
alimentares e exercícios físicos”, ressalta Neusa.
Existem, porém, outros cuidados que a mulher precisa tomar.
O principal deles é fazer essa interrupção apenas sob orientação de um
ginecologista, pois nem toda mulher pode fazer uso de anticoncepcionais, por
exemplo. Sílvia Mendes, 26, professora, sofreu as consequências da
administração incorreta da pílula. “Minha tentativa de interrupção menstrual se
transformou em um pesadelo, tive trombose e embolia”, conta ela. Por
experiência própria, Sílvia afirma ser contra a interrupção sem que se faça
exames detalhados e investigação sobre coagulação e circulação sanguínea.
A ginecologista Neusa Maisonnett endossa a importância
desses exames: “Hoje já existe um estudo genético para ver se a pessoa tem ou
não trombofilia, que é o risco de desenvolver trombose ou um acidente vascular
cerebral (AVC)”, explica. Ela pontua, também, que fumar é um agravante do risco
de trombose. Além disso, o emocional e psicológico da mulher que para de
menstruar pode, sim, ser afetado. Muitas reclamam da diminuição da libido –
desejo sexual. A vantagem do uso contínuo de anticoncepcional é manter uma
rotina hormonal, a estabilidade dos níveis hormonais. Pois é a oscilação
hormonal que gera a TPM em quem tem pré-disposição a ela.
Os prós e contras são muitos. Mas outra dúvida muito comum é
quanto à menopausa. “Parar de menstruar não interfere na menopausa. Na maioria
das vezes, os ovários atrofiam e, devido a isso, a saúde do corpo como um todo
sofre com isso. A menopausa acontece quando o cérebro para de estimular a
produção hormonal dos ovários. Quando a amenorreia é estimulada por meios
externos, não existe o adiantamento do fim dessa produção hormonal, apenas o
fluxo sanguíneo é findado”, esclarece a médica.
Sobre o mito da infertilidade, Neusa explica: “Quando a
mulher decide parar de menstruar, ela está anulando um processo fisiológico. O
anticoncepcional é anovulatório, pois impede a ovulação. No período em que não
menstrua, a mulher apenas acomoda seus óvulos. Pode acontecer que quando quiser
retornar o processo de ovulação para engravidar, isso demore. Ou seja, pode
existir um retardo do processo de fertilidade quando a mulher para de menstruar
por muito tempo. Este é o risco”.
Esta é, com certeza, uma decisão muito importante para a
vida e saúde da mulher. Procure seu ginecologista e, junto a ele, estudem a
melhor opção para o seu caso. Sua qualidade de vida vai melhorar quando sua
decisão for bem aceita pelo seu corpo.
Fotos: Arquivo pessoal