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domingo, 24 de novembro de 2024
Prevenção

Aplicativo ajuda mulheres a escolher rotas seguras e pedir socorro a amigos

Usuárias do aplicativo podem consultar informações como iluminação da via, movimentação, existência de ponto comercial aberto, presença de porteiros, entre outras opções

Postado em 17 de setembro de 2017 por Victor Pimenta
Aplicativo ajuda mulheres a escolher rotas seguras e pedir socorro a amigos
Usuárias do aplicativo podem consultar informações como iluminação da via

Com o objetivo de prevenir a violência sexual, diversas
mulheres estão encontrando no aplicativo Malalai um aliado para efetuar
deslocamentos com mais segurança. Criado pela arquiteta mineira Priscila Gama,
ele oferece informações que ajudam na escolha da melhor rota, além de
possibilitar que amigos ou parentes monitorem o trajeto e sejam acionados em
caso de emergência.

As usuárias do aplicativo têm acesso a um mapa onde é
possível consultar informações como iluminação da via, movimentação, existência
de ponto comercial aberto, presença de porteiros ou de segurança privada,
presença de posto policial e ocorrência anterior de assédio. 
“São características muito específicas, que o Google
Maps, por exemplo, não informa”, diz Priscila.

Ao mesmo tempo, é possível eleger uma companhia virtual para
seguir o trajeto, ou seja, uma pessoa que irá receber mensagens informando
detalhes do deslocamento até o destino final.

Há, na ferramenta, um botão de emergência, que permite pedir
socorro de forma ágil. Ao ser acionado, um alerta com a localização é enviado
para até três pessoas escolhidas. É possível ainda criar um atalho deste botão
na tela inicial do celular, para que se possa recorrer a ele mais rapidamente.

Por enquanto, a tecnologia só está disponível para Android. O
aplicativo ainda está na fase de testes, mas já é bem avaliado. Na Play Store,
onde é possível fazer seu download, a média das notas concedidas pelas usuárias
é de 4,6, em uma escala que vai de 0 a 5.

De acordo com Priscila Gama, cerca de 300 mulheres em todo o
Brasil já fizeram o download, das quais metade se mantém como usuárias ativas.
Em fevereiro, o aplicativo deverá estar disponível para iOS e será finalizada a
segunda versão para Android.

Para custear todo este desenvolvimento da tecnologia, será
lançado no mês que vem uma campanha de financiamento coletivo. A arquiteta
espera arrecadar R$ 17 mil.

Outra novidade que deverá ser anunciada em breve é o
lançamento de um hardware, um colar com um pingente que esconderá um botão de
emergência. Inicialmente, 20 usuárias irão recebê-lo gratuitamente.

“Um dos nossos estudos mostrou que mulheres evitam mexer
no celular na rua porque acreditam que isso pode atrair violência. Daí a ideia
de ter, atrelado ao aplicativo, um dispositivo na forma de uma joia ou um
chaveiro. Outras peças poderão ser criadas no futuro”, afirma Priscila.
Ela diz que se a meta de R$ 17 mil do financiamento coletivo for superada, a
cada R$ 500 extras será doado um colar a uma mulher em situação de
vulnerabilidade.

Origem

A ideia do aplicativo surgiu em 2015, quando a organização
não governamental Think Olga desenvolveu a campanha #PrimeiroAssédio. O
objetivo era estimular as mulheres a contar, nas redes sociais, as agressões
que já tivessem sofrido.

“Houve um relato que me chocou muito, que foi o de uma
mulher estuprada em um taxi. Ela desmaiou e acordou na rua sentindo dores. Mas
ela se lembra de que o taxista desviou da rota e lhe mostrou uma arma. Fiquei
pensando que, se alguém estivesse acompanhando o trajeto dela e visse que o
carro estava indo em outra direção, a história poderia ter sido
diferente”, afirma Priscila.

A arquiteta já começou a formular a proposta de um aplicativo
que traga essa possibilidade e que ajude a enfrentar a realidade do assédio
sexual no Brasil.

Dados de um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP), associação sem fins lucrativos, mostram que, em 2015,
houve um estupro no Brasil a cada 11 minutos e 33 segundos.

Priscila Gama acredita que a realidade é muito pior, uma vez
que muitos casos não são notificados. Para a arquiteta, o medo do assédio
provoca o cerceamento do direito à liberdade e também traz limitações ao
crescimento das mulheres. 
“Deixar de fazer um curso que ocorre no período noturno,
por exemplo, pode gerar menos possibilidades de networking ou de projeção
profissional no seu local de trabalho”.

A proposta do aplicativo foi apresentada na Startup Weekend
BH 2015, um evento realizado em Belo Horizonte, voltado para a promoção de
projetos tecnológicos inovadores.

O projeto recebeu inicialmente o apoio do Lemonade, um
programa de pré-aceleração de startups. Atualmente, o Malalai conta com o
suporte do Labora, um laboratório de inovação criado pelo instituto Oi Futuro e
que incentiva projetos que tragam soluções para o desenvolvimento das cidades.

O Malalai busca reunir informações de forma colaborativa. As
usuárias podem consultar o mapa e adicionar dados. Um ícone, por exemplo, é
usado para destacar as ruas com pouca iluminação. Outros mostram onde há lojas,
porteiro, segurança ou policiamento. Clicando nos ícones, é possível obter mais
informações, como os horários em que há presença policial ou funcionamento do
comércio.

O nome do aplicativo é uma homenagem à
paquistanesa Malala, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2014. Ela é conhecida
por sua luta em defesa do acesso das mulheres à educação na região de sua terra
natal, no nordeste do Paquistão, controlada por talibãs que impedem meninas de
frequentar escolas. Quando tinha 11 anos, Malala começou a escrever para
veículos ingleses sobre seu cotidiano. Com o aumento de sua popularidade, ela
foi alvo de uma tentativa de homicídio, mas sobreviveu. Hoje, aos 20 anos e
jurada de morte em seu país, a paquistanesa mora na Inglaterra, onde lidera um
movimento internacional pelo direito à educação. 

Fonte: Agência Brasil. (Foto: Léo Rodrigues)

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