Agente revela rotina de trabalho e ameaças de morte
Além da falta de segurança o funcionário conta sofrer desvio de funções. Para ele, facções criminosas agem em 90% das cadeias goianas.
Os Servidores que trabalham em unidades prisionais de Goiás estão cada vez mais preocupados com a situação dos locais onde trabalham. Eles revelam que a rotina de trabalho está cada vez mais arriscada, e que estão a todo tempo sujeitos a ameaças de morte e ao medo. Além de se preocupar com a segurança, é preciso lidar com uma série de funções que ele não se considera capacitado.
“O agente é carcereiro, psicólogo, enfermeiro, carteiro, motorista, não sei o que não é. Até babá de preso tem que ser, porque tem de levar no hospital e não tem uma pessoa pra ficar lá com ele”, detalhou.
Segundo o relato de um deles Há quase 30 anos na profissão, o servidor conta que a população carcerária está cada vez mais violenta e organizada em facções criminosas. Em contrapartida, as unidades prisionais estão desprovidas de profissionais.
O agente também fala da falta de estrutura das unidades prisionais do estado. Ele explica que a maioria das cadeias do interior são casas adaptadas e localizadas nas regiões centrais das cidades. Revela ainda que não existe perímetro de segurança e por isso fica quase impossível barrar a entrada de celular e armas.
“A gente está numa residência dentro da cidade, não tem como colocar um bloqueador de celular”, pondera.
O Servidor ressalta ainda que a falta de estrutura também facilita as fugas. Ele classifica como “caótica” a situação de boa parte das cadeias do Estado.
“O mais difícil no trabalho hoje é manter a integridade do próprio agente.
Nós não temos segurança dentro do presídio e, muito menos, na rua. Já fui ameaçado de morte muitas vezes. Vários amigos meus foram mortos nesses 30 anos. Temo pela minha vida, pela minha família”, conta.
O Ministério da Justiça recomenda que a proporção de presos por agente seja de 5 presos para cada profissional. Apesar disso, o agente entrevistado pelo G1 acredita que o número é maior. Para ele, a média é de 40 detentos para cada vigilante.
Procurada após as declarações do agente, a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) negou o desvio de funções e afirmou que os serviços da área de saúde são prestados por meio de convênios com a Secretaria Estadual de Saúde e cos municípios. “Cabe aos agentes apenas tarefas inerentes à sua função, que é de custodiar os reeducandos”, diz a nota.
Quanto à falta de agentes, a pasta informa que contratou recentemente cerca de 800 agentes de segurança prisional. Além disso, o governo autorizou, na semana passada, novo concurso público para contratação de 1.093 agentes.
Em relação à falta de estrutura das unidades, a diretoria ponderou que foram inaugurados dois presídios estaduais somente em fevereiro, em Formosa e Anápolis, cada um com capacidade para 300 presos, e que outros três ficarão prontos ainda em 2018.
Por fim, a DGAP ressalta que o governo “está viabilizando recursos com o intuito de construir novas unidades regionais, com o objetivo de substituir presídios antigos e sem estruturas” e que “está sendo implementado novo modelo de gestão, onde os presos serão separados de acordo com características como, por exemplo, grau de periculosidade”.